Lembro que nós dois ficamos em silêncio, boquiabertos, encarando um ao outro.
– Como assim nós estivemos no mesmo lugar por dois dias e nada aconteceu? – Carlos disse, seus olhos expressivos dilataram e a bochecha ficou um pouco vermelhinha. – Um esbarrão, pisar no pé do outro, sei lá. Não quero acreditar nisso.
– Será que em algum momento a gente se viu mas não lembra?
– Não pode ser, eu me lembraria de você.
Meu coração fez um tum-tum-tum muito rápido. Por quê? Por que não o conheci?
– Talvez não, lindo.
Que brega!
Carlos deitou novamente com o rosto parcialmente escondido nos braços, e foi ali que reparei com detalhes nos pelos que os cobriam. Lembro que achei aquilo muito sexy – e acho que nunca me senti tão atraída por um par de braços.
– Do que você está rindo? – Carlos me perguntou, me fazendo perceber que eu tinha soltado uma risada baixa sem perceber.
– Nada.
Eu mudei de posição na cama, me deitando de lado. Carlos ainda me encarava:
– Você acha que um dia nós vamos nos ver?
Sua pergunta fez meu coração dar uma pontada mais forte, como se uma agulha tivesse me espetado. Pensar em ver Carlos era pensar nos meus pais, na vida que eu levava, na minha dependência e falta de autonomia, na minha insegurança…
– Eu acho que sim.
Menti. Não achava. Parte da minha resistência em me entregar demais naquela coisa meio doida era pensar que tudo tinha começado com um prazo pra acabar. E eu não estava errada, mesmo assim nem imaginava o quanto aquilo doeria.
– Seria ótimo ver você, ontem fiquei pensando qual deve ser o cheiro do seu cabelo…
Ah, pronto. Meu coração fez tum-tum-tum-tum-tum. Eu não fiz questão de disfarçar o sorriso que abri, até porque ele surgiu de forma tão espontânea que nem daria. Escondi meu rosto no travesseiro porque eu estava morrendo de vergonha, mas uma vergonha gostosa e bem-vinda. Eu parecia sentir cócegas no meu coração.
– Tira o rosto do travesseiro, deixa eu te olhar.
A voz de Carlos era baixa e calma, seu sotaque espanhol era tão envolvente, ao mesmo tempo sensual e fofo, uma coisa difícil de definir. Eu fiz o que ele pediu, e mais uma vez aquele dia a gente ficou se olhando em silêncio… Parecia que nós estávamos no mesmo lugar, sem uma tela nos separando.
– Qual a chance? – eu sussurrei, mas ele ouviu.
– Chance do que? – respondeu, quase tão baixo quanto eu.
– Isso. A gente nem se conhece, mesmo assim parece que sim. Não sei o que estou sentindo.
Acho que foi a primeira vez que me permiti ser tão sincera, tirar um pouco o peso do mundo das minhas costas e deixar que Carlos tivesse noção do que se passava dentro de mim.
Queria vê-lo, mais que tudo, queria poder ver aquele homem e abraçá-lo, deixar que ele sentisse o cheiro do meu cabelo e poder também sentir o cheiro do seu.
Carlos me olhava, um sorriso meio tímido desenhava seu rosto, e seus olhos tinham um brilho que, sob a luz baixa do seu abajur, o deixava ainda mais bonito. Senti vontade de chorar.
– Também não sei, mas não sou de procurar respostas; eu sei que adorei que tenha acontecido.
Eu gostava da paz que emanava do Carlos, e não sei como explicar isso. Ele tinha um ar de ternura que era difícil resistir e eu só queria conversar e conversar, e queria que pudéssemos estar mais perto.
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Pelo telefone | Carlos Sainz
Lãng mạn"Carlos era observador e detalhista. A risada dele era gostosa, calma e seu sotaque me deixou a ligação inteira com um sorriso bobo no rosto. Com a luz apagada e sentada no parapeito da janela, eu desfrutei de uma longa conversa com Carlos até quase...