"Don't cry, little baby"

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🧡

As paredes de tinta amarelo-claro descascando já tinham infiltrações em alguns pontos por conta da central de ar; no inverno as janelas de vidro velho fosco molhavam por dentro; e as cortinas antes cinza pareciam agora meio brancas, desbotadas pelo tempo, deixando passar toda a claridade do sol logo às seis da manhã; o apartamento em si era um cubículo apertado, detonado e mal situado, com capacidade máxima para uma pessoa bem ferrada, com nenhum dinheiro na conta e igualmente nula perspectiva num futuro otimista; a cama de solteiro era estreita e o colchão meio duro...

"Ti-ti... titio Hobi..." Como uma espécie de mecanismo natural desenvolvido pela prática, relógio biológico, sexto sentido, o que quer que fosse, Hoseok sempre despertaria ao menor ruído de chamado naquela voz pequenina e doce. Não importava o quão exaurido estivesse das 12 horas ininterruptas de trabalho, corpo dolorido e a mente cheia acometida por vezes por insônia tanto quanto pesada em exaustão, ele sempre a ouviria o chamar.

"Tô aqui, pequenina! O tio Hobi tá aqui, vem." E, no exato instante que, coçando os olhos com os dedos ossudos e ásperos para espantar de vez o sono ao mesmo tempo que erguia-se sentado no colchão velho; na parcial luz acesa vinda da cozinha pela porta deixada há muito e permanentemente aberta, surgia a pequena e apressada figura de Hope.
"O que foi, pequenina... hum? Teve outro sonho ruim?"

"Uhum..." Já tendo escalado sua cama com as pernas muito curtas vestidas no pijama de trevos da sorte e feito de seus braços esguios e quentes pelas mangas compridas da camisa preta surrada o próprio leito, mesmo sem saber de fato o que eram sonhos ruins, ela assentia fraquinho com a cabeça, sonolenta; o rostinho bochechudo meio coberto pelo emaranhado caótico dos curtos cabelos negros, amassado contra seu peito; os bracinhos miúdos por cima dos seus ombros do qual uma mão gordinha não tardou em achar uma de suas orelhas mornas de lóbulo preso; um segundo antes de ajeitar na boca a chupeta amarela antes pendendo da correntinha plástica presa à gola da blusa. "Cantar, tio Hobi... a do passarinho... a do passarinho!"

Hope tinha só dois anos e um mês. Ela não entendia nada de inglês como entendia ainda pouco da maioria de todas as coisas.

Só que, como sabia que não teria mais a mamãe e o papai para cuidarem dela, lhe dar comidinha, dar banho e colocar para dormir, brincar consigo e seus muitos brinquedos quebrados e dar beijinhos de amor (Hope só entendia que essa palavrinha era o mesmo que a mamãe e o papai a abraçando e beijando, e quando faziam igual juntos); ela entendeu, porque o tio Hobi disse, que sua música favorita, aquela que ele cantava à noite quando ela não queria dormir, estava dodói ou acordava chorando com a fralda cheia de xixi e a caminha molhada, falava de um passarinho. E porque Hope sabia que passarinho eram aqueles piu-piu bonitos que voam no céu, e gostava muito de vê-los (queria um e o tio Hobi disse que lhe daria um um dia quando fosse maior!), ela amava aquela música. Dormia sempre quando ele cantava.

Ajeitando-se contra a cabeceira da cama para melhor acomodá-la em seus braços, sem outra resposta que não a melhor possível, Hoseok começou cantar.
Adaptando um pouco a letra, como vez e outra improvisava para combinar com o momento e circunstâncias.

" Agora fique tranquila, minha pequena Hope
Não chore, vai ficar tudo bem
Fique calma, o tio Hobi está aqui
Pra te abraçar a noite toda
Eu sei que o papai e a mamãe não estão aqui
E não entendemos o por quê
Temos medo de como nos sentimos
E isso pode parecer meio louco, linda menina
Mas eu prometo
Vai ficar tudo bem "

...

Park Jimin tinha sido o melhor amigo de Jung Hoseok desde o colégio.
O que eles tinham juntos era aquele tipo de amizade espontânea de acontecimento repentino e continuamente crescente, de sentimentos mútuos, compreensão genuína, e tão leve quanto sólida.
As divergências eram raras e as brigas bobas facilmente esquecíveis, numeráveis nos dedos de uma mão; eles se compreendiam como se fossem mera extensão um do outro, combinavam em quase tudo e estavam sempre juntos; nem mesmo a faculdade, ambos em cursos distintos e horários opostos, conseguiu separá-los.

Be Alright ("Sweet dreams, Sweetie") - {jihope}Onde histórias criam vida. Descubra agora