Cap 3 - Só mais um dia

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~ Henrique ~

Henrique acordou poucos minutos antes de seu despertador, odiava quando isso acontecia, e acontecia com frequência. Ele esfrega os olhos e percebe que a televisão ficou ligada a noite toda, provavelmente tinha dormido no meio do filme de novo.
" A velha vai me matar..." Pensou.

Ele se levanta e vai até o armário pegar a primeira peça de roupa que ver e vestir, no caminho, se abaixa para fazer um cafuné na barriga do Dunga, um cachorrinho salsicha marrom, que quase não se levanta mais, mas isso já é de se esperar de um cachorro de 15 anos.

Descendo as escadas, ele tenta tomar café o mais rápido possível, a última coisa que queria era ouvir a falação de sua vó logo cedo, mas ela sempre sabia, e logo surgiu atrás dele como em um passe de mágica.
H - Bom dia vó - Diz com desânimo.
Ela como sempre, pegou sua xícara branca, encheu de café até a metade, se encostou no balcão e deu um gole.
" Lá vem.." Henrique pensou.
V - Deixou a televisão ligada a noite toda, voltou tarde e, sabe-se lá da onde! E as roupas que eu tinha pedido pra você estender ainda estão na máquina! - É perceptível o ódio no tom de voz dela enquanto fala.
H - Desculpa. - Ele diz enquanto passa a mão no rosto.
V - Desculpa? Desculpa! Desculpa! Desculpa! Sempre desculpa! Isso tá acontecendo praticamente todos os dias Henrique! Só pedir desculpas toda vez não vai resolver! Sabe que eu te amo e vou deixar você ficar comigo o tempo que quiser enquanto a situação com seus pais não se resolver, mas você precisa colaborar comigo meu filho, sabe que estou doente, e sozinha eu não consigo!
H - Eu sei vó, desculpa, não vai acontecer de novo... Dessa vez é sério - Diz cabisbaixo.
Ela suspira, coloca a xícara na mesa e vai andando em direção a sala.
V - Sabe que só quero seu bem não é?
Ele concorda com a cabeça, ela se vira e sai.

A casa de sua vó não era tão longe da escola, mas mesmo assim Henrique preferia ir de bicicleta, pedalar o ajudava a pensar. Ele odiava decepcionar sua vó, e podia muito bem contar a ela que chegava tarde em casa por causa do trabalho voluntário que fazia em um abrigo de animais há algumas quadras dali, mas tinha medo que ela achasse que isso estava interferindo nos estudos e o fizesse parar, e isso ele não podia fazer, pois esse trabalho salvou sua vida nas últimas 4 semanas, mesmo sendo exaustivo e tomando grande parte do seu tempo.

Também não podia voltar pra casa enquanto as brigas entre seus pais não parassem, se ele ficasse mais uma semana naquela porcaria de lugar certamente teria outra recaída e acabaria por se matar. Ele sabia que estava dando seu máximo, mas o problema era exatamente que só ele sabia.

Quando Henrique voltou a realidade, já estava na frente da escola, passou pela sua cabeça a ideia de dar outra volta no quarteirão só para curtir mais um pouco, mas não o fez. Levou a bike até o bicicletário no chão em frente ao portão, enquanto estacionava, uma garota que ele não se lembra de ter visto antes e que também guardava uma bicicleta acenou para ele e sorriu, ela não era tão alta, talvez 1,65 de altura ou por aí, parecia ter 16 anos, magra, os cabelos eram castanhos escuros, lisos meio ondulados e longos até um pouco acima da cintura, tinha olhos hazel e algumas pintas no rosto.
G - Bom dia! - disse ela com um sorriso.
Henrique teve raiva. Bom dia? Bom dia pra quem? O dia estava péssimo! E isso o irritou.
" Talvez só pra você " Se segurou para não dizer.
Para evitar de dizer algo rude, preferiu ignorar aquele bom dia ridículo. Colocou os fones de ouvido e entrou na escola, não tinha nenhuma música tocando nos fones, mas isso evitava que as pessoas o cumprimentassem, e se cumprimentassem, ele podia ignorar usando a desculpa de não ter ouvido.

Chegou até seu armário e começou a guardar algumas coisas, até que viu de canto de olho alguém se aproximando, um garoto asiático, da sua altura e estatura, cabelos lisos, negros, não muito compridos com franjinha, olhos castanhos escuros e um grande e irritante sorriso.
- Henrique! E aí cara? Não adianta fingir não me escutar, eu sei muito bem que não tá tocando porcaria nenhuma aí! - O garoto diz enquanto coloca a mão no ombro de Henrique, que insiste em ignora-lo.
- Ih já vi tudo, tá o cão hoje né? Talvez eu deva cantar um pouco pra você já que seus fones não funcionam - Ele limpa a garganta - Chooove chuuvaa-.
H - Que cê quer hein Kauê? - Henrique diz impedindo que ele continue.
K - Isso é jeito de falar com seu melhor amigo e a única pessoa que te atura nessa escola hein? KKKkkk.
H - Foi mal cara, o dia começou um saco! - Diz enquanto fecha o armário.
K - Iiiih, vovó?
H - Também! Como cê tá?
K - Cê sabe, daquele jeito.
Eles se cumprimentam com um toque, e começam a andar pelo corredor.
K - Cara, as meninas tavam comentando comigo que talvez entre um aluno novo, na sua sala ou na minha.
H - Espero que seja na sua.
K - Espero que ele jogue, não aguento mais o Guilherme no time, o cara parece meu sobrinho de 6 anos jogando pelo amor de Deus!
H - KKKKKK não fala assim dele cara!
K - Do Guilherme?
H - Não, do seu sobrinho!
Os dois caem na risada como dois idiotas.

Kauê era irritante e sem noção, mas tinha razão em uma coisa, ele sem dúvidas era o melhor e único amigo de Henrique, eles se conheciam desde o sexto ano e sabiam quase tudo um do outro, só era uma pena não serem da mesma turma.

A conversa estava boa mas tinha chegado a hora de cada um ir para um lado, eles se despediram com um toque e seguiram, Kauê correu para sua sala e Henrique entrou sozinho na dele. Seu lugar ficava no fundo, e, algo que ele odiava nessa escola, era o fato de que todas as carteiras eram duplas, ou seja, para duas pessoas se sentarem juntas, e isso pode parecer incrível a primeira vista, mas era um pesadelo, principalmente se de todos os alunos da turma você é o único sozinho em um lugar para DOIS! Isso deixava uma dúvida na mente de Henrique, ele realmente odiava cadeiras duplas ou só odiava não ter ninguém com quem se sentar?

Talvez os dois.





! Deixei abaixo algumas referências visuais desse capítulo !

Avó do Henrique:

Kauê:


Garota da Bike:

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