𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 I

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     As pálpebras pesavam uma tonelada. Kim Taehyung sentiu que iam fechar-se e esfregou os olhos. Não dormira aquela noite. Podia tirar um cochilo no sofá, mas não adiantaria. Precisava de muito mais do que isso para recuperar a energia. Precisava de uma boa noite de sono.
     Apoiou cansadamente a cabeça no espaldar da cadeira giratória. O instante em que ia fechar os olhos, ouviu um som abafado de passos no corredor. Não devia ser com ele. Seus clientes eram criaturas da noite, não costumavam aparecer no escritório aquela hora da manhã.
     Quando os passos pararam bruscamente diante de sua porta, intuiu que devia ser mais um daqueles imigrantes clandestinos à procura da agência de empregos instaladas no fundo do corredor. Esperou. Houve uma batida discreta e a maçaneta foi girada timidamente. Aprumou o corpo e preparou-se para ajudar o pobre-diabo.
    -Entre - convidou gentilmente. Tão logo reconheceu o visitante, sua expressão endureceu. Que viera fazer ali? Já não o aborrecera bastante no passado?
    - Bom-dia, sr. Kim - ele disse no limiar.
    A voz era baixa e agradável, com um leve tão rouco que lhe dava mais encanto. Exatamente como ele lembrava. Aquela época achava que o dono de uma voz tão sexy não seria capaz de destruir seu mundo. Mas Yoongi o destruirá. Impiedosamente.
    - Posso entrar?
    Por um breve instante. Tae chegou a pensar que ele estivesse constrangido. Mas era impossível Min Yoongi jamais se sentiria constrangido. Porque, na verdade, ele não era um homem. Era uma máquina a serviço da força policial de Seoul.
    - Já que veio aqui, entre - resmungou, enquanto o fitava. Reconheceu, a contragosto, que o tempo nada havia tirado dele. Ao contrário. Estava mais bonito do que nunca.
    Ele parou, hesitante, em frente à escrivaninha, pôs com cuidado a pasta de couro no chão e depois sentou-se na beirada da cadeira, acomodando o cinto em sua cintura.
Inexplicavelmente, aquele gesto comoveu-o. Mas reagiu rapidamente e atiçou a chama de ódio que ainda queimava dentro de si.
    - Oque quer de mim? - indagou de má vontade.
    - Tenho uma proposta para lhe fazer.
    - Que conversa é essa?
    - Vim oferecer-lhe trabalho - ele esclareceu, talvez um pouco rápido demais.
    No primeiro momento, Tae pensou que ele estivesse se referindo a seu antigo emprego no distrito policial. Então o viu tenso e retraído, e sua euforia desmaneceu-se.
Yoongi estava ali por outros motivos.
    - Quer contratar meus serviços. Foi por isso que veio aqui, não foi?
    - Foi - ele admitiu num suspiro. Depois, parecendo adquirir um pouco mais de coragem, completou: - Soube que está aceitando clientes novos.
    - Só quando estou de bom humor. E hoje é um daqueles dias que eu devia ter ficado na cama. Parece que nada está dando certo
    Se não fosse por Jimim... Yoongi controlou-se e reuniu a pouca coragem que ainda lhe restava para continuar.
    - Preciso do serviço de um detetive particular e pensei em você.
    - Mas por que foi pensar logo em mim? Deve ter gente melhor na sua lista.
    - Você é o melhor
Uma expressão sombria surgiu no rosto dele.
    - Não foi isso o que você me fez acreditar, dois anos atrás!
    Yoongi enrrusbesceu, mas não desviou a vista.
    - Não vem aqui para lembrar o que aconteceu há dois anos. Você sabe porque foi dispensado. Eu cumpri apenas o meu dever. - a voz dele era calma, como se estivesse falando do que acontecera a outra pessoa. - No que me diz respeito, isso é caso encerrado.
    - Talvez não seja para mim. E talvez eu não esteja precisando de novos clientes.
    Yoongi correu os olhos pelo escritório acanhado. Os móveis de qualidade inferior, o sofá em mau estado, o tapete esfarelando. Era mais do que evidente que não estava em condições de recusar nada.
    - Parece que está, sr. Kim Taehyung.
    - Essa é sua opinião, sr. Min.
    - Posso lhe dar um adiantamento - ele propôs com cautela.
    Taehyung olhou-o com absoluta indiferença. Estava precisando desesperadamente de dinheiro. Mas não ia dar o braço a torcer. Não a Min Yoongi!
    - Se quiser que eu trabalhe para você... - enfatizou o 𝘷𝘰𝘤ê - Vai ter que fazer uma boa proposta. Não trabalho por pouco dinheiro.
Ele não hesitou.
    - Quanto costuma cobrar?
    A despeito de si mesmo, Tae admirou-lhe a compostura. Estava sendo deliberadamente rude, mas ele não se mostrava intimidado. Tinha fibra.
    - Ainda não sei oque você quer de mim - argumentou e não esperou resposta - Quer que vigie o seu amiguinho para ter certeza de que ele não o engana?
    - Não é nada pessoal. É um caso de polícia.
    Taehyung levantou-se bruscamente, dominando-o com a sua estatura.
    - Não posso. Preciso de alguém de fora, entendeu? - Apesar de seu autocontrole, ele não pôde dissimular a ansiedade. - Você é bem-informado, tem contatos na polícia. É a pessoa certa para me ajudar.
    - E o que o faz supor que estou disposto a acionar meus contatos para ajudá-lo?
    - Soube que não está recusando nenhum caso, quando o dinheiro é honesto. Não quer, ao menos, saber de que se trata?
Ele não ia desistir. Era melhor acabar logo com aquilo! Tae sentou-se e adotou um ar profissional.
    - Comece a falar.
    - Antes de mais nada, gostaria que desse uma olhada nisto. - Yoongi curvou-se para apanhar a pasta de couro e seus cabelos negros tombaram sobre seu rosto como uma cortina cintilante.
    Taehyung olhou-o com interesse e admiração o bem-talhado costume azul-escuro, a blusa de seda que moldava sugestamente o peito definido, as pernas longas e bem torneadas envolta de uma calça apertada. Esse Yoongi não lembrava em absoluto o policial severo que o instigara dois anos atrás.
    Enquanto o observava, ele endireitou-se. Seus olhares se encontraram e, durante alguns segundos que pareceram horas, fitaram-se silenciosamente. Os olhos dele eram quentes e luminosos e Taehyung procurou verniz o que havia além da superfície. Mas ele os desviou de repente, rompendo o círculo mágico.
    Voltou-se a si, ao ouvi-lo dizer, enquanto depositava uma pasta diante dele.
    - Leia este relatório, por favor.
    Ele compreendeu instintivamente que estava muito atraído por ele e seus nervos retesaram-se ainda mais. Levantou-se bruscamente, atravessou a sala até a janela e ficou olhando sem ver a rua movimentada.
    Não podia abrandar o coração. Min Yoongi fora pessoalmente responsável por sua expulsão da polícia. Não havia outro modo de Belo a não ser como um inimigo. E era bom lembrar-se disso, para saber como agir, quando As Ilusões voltassem ali atormentar a mente.
    - Está se sentindo bem, sr. Kim? - a voz dele era baixa e parecia sinceramente preocupado.
    - Passei a noite em claro e estou um pouco cansado. - Taehyung forçou-se a voltar para a escrivaninha e a encará-lo. - Fale de uma vez o que deseja de mim. Já perdemos tempo demais.
    Ele respirou fundo com a esperança de que o bolo que bloqueava a boca do estômago se desmanchasse. Não teria vindo até ali se tivesse outra alternativa. Nem teria pensado em pedir ajuda de quem quer que fosse. Mas seu chefe deram-lhe um ultimato. Se não se apressasse, seu caso seria entregue a outra investigador do departamento.
    Compreendera que não podia esperar mais. Chegara hora de procurar Kim Taehyung. E, agora, ali estava ele, tentando obter sua cooperação. Para tanto, teria que convencê-lo de que tinha, realmente, algo importante nas mãos.
    - Estou trabalhando num caso de corrupção interna no distrito - revelou, fitando-o. Pelo palpitar de suas pálpebras, soube que o atingira.
    - Você não precisa de mim para resolver isso. - Ele empurrou a pasta na direção dele e recostou-se no espaldar. - Entregue o caso a um dos outros. Há gente de sobra no Departamento de Assuntos Internos.
    Yoongi não perdeu a coragem. Iria conseguir sua ajuda, custe o que custasse!
    - Os outros estão sobrecarregados de serviço - informou-o, tomando cuidado para que ele não percebesse sua aflição.
    - Pensei que o pessoal de seu apartamento fosse mais solidário. É uma pena - ele zombou.
    Ele não respondeu logo. Que mais podia dizer para convencê-lo? Estavam separados por um abismo.
    - Não posso exigir nada de meus colegas. Eles têm que resolver seus próprios casos, se quiserem conservar seus empregos. Nosso chefe é candidato a um importante cargo público e deu ordens para que resolvamos os casos pendentes até o fim do mês.
    Um sorriso irônico aflorou aos lábios dele.
    - E você veio até aqui esperando encontrar compreensão e simpatia de minha parte!
    - Vim aqui para contratar seus serviços. Preciso de alguém que me ajude na investigação e não posso perder tempo! - ele rebateu com calor.
    - E acha que basta pedir para que eu me disponha a atendê-lo? - Ele riu com sarcasmo. - Perdeu seu tempo, sr. Min. Eu não moveria uma palha para ajudá-lo!
    Yoongi mordeu o lábio inferior para impedi-lo de tremer. Não sabia se poderia aguentar mais tempo aquela tensão. Vir até ali fora um erro lamentável. "Preciso ir embora", pensou. Então lembrou-se do que estava em jogo e resolveu fazer uma última tentativa.
    - Antes que tome uma decisão, gostaria que desse uma olhada nesses papéis e nos nomes dos agentes que estou investigando - induziu, tornando a colocar a pasta diante dele.
    Taehyung olhou-o pensativo, por um minuto inteiro, antes de abrir a pasta. Em cima de tudo estava a lista. Passou os olhos rapidamente por ela e depois tornou a fitar Yoongi.
    - O que está fazendo o nome de Jung Hoseok aqui? - A pergunta foi feita em tom alterado.
    - O detetive é suspeito de mentir sobre a atividade dos traficantes da zona que está sob sua competência. Ele e os demais agentes de polícia que constam dessa lista - ela revelou, sustentando-lhe o olhar - Compreende agora por que vim procurá-lo?
    Ele esfregou o queixo, subitamente, Yoongi percebeu-lhe a barba por fazer, os olhos verdes sombreados de cansaço, as roupas amarrotadas. Devia ter passado a noite em claro, como afirmou antes. Isso não o surpreendia. Kim Taehyung costumava dar tudo de si. Fora assim, quando ele era parte integrante da força policial de Seoul.
    - O que está acontecendo? - ele perguntou cansadamente. - É um espírito de vingança da parte do Departamento de Assuntos Internos contra o pessoal do meu antigo distrito? Ou é algo contra detetives em geral?
    - Não é nada disso. Não estamos atribuindo culpas a ninguém. Estamos apenas investigando. - Yoongi fez um gesto com a cabeça na direção dos papéis. - Tem certeza de que não quer me ajudar?
    - Escute, tive uma noite que não foi brincadeira. Não estou em condições de decidir coisa alguma. Vou estudar o caso e, quando chegar a alguma conclusão, mandarei um recado para você.
    A voz de Yoongi tornou-se mais incisiva.
    - Não posso esperar. Preciso saber se já está disposto a colaborar. Você sabe tão bem quanto eu que ninguém que trabalhe com Jung Hoseok, ou qualquer outro da lista, vai abrir a boca. Tenho que contar com alguém de fora.
    - Acha que pode confiar em mim? Como sabe que eu não empregaria qualquer meio, até indigno se preciso fosse, para provar a inocência de Hoseok? Ele foi meu parceiro e é ainda o meu melhor amigo.
    Yoongi foi enfático.
    - Eu sei, todos sabem, que Kim Taehyung é um homem essencialmente honesto.
    - As coisas podem ter mudado em dois anos - ele insinuou, como se estivesse observando a reação dele.
    - Talvez. Mas estou disposto a pagar para ver.
    Sem mais comentários, Tae tirou um maço de cigarros do bolso, acendeu um e se entregou à leitura dos papéis que tinha à sua frente.
    Yoongi olhou-o com renovada curiosidade. Os fortes maxilares curvados numa linha inflexível, a boca bem delineada, o nariz reto, os cabelos pretos. Era ainda o mesmo rosto que o fascinara no passado. Só os profundos olhos verdes tinham mudado. Estavam cheios de um sofrimento que não era físico. Tae devia ter passado por momentos difíceis.
    Dois anos antes, apesar das circunstâncias, não pudera se impedir de simpatizar com ele. Mas nada do que pudesse ter dito então, ou feito, teria evitado o desfecho previsível. Agora, porém, não o estava investigando e podia admitir que era ele o homem que povoava regularmente os seus sonhos.
    Repentinamente pertubado, deu-se conta, mais uma vez, de que não devia ter vindo ali. Não devia, de modo algum, ter procurado Kim Taehyung. Ele representava perigo. Uma espécie diferente de perigo, mas nem por isso menos importante.
    Ele interrompeu-lhe os pensamentos.
    - 266.120,00 wons por dia, que é o que eu costumo cobrar em casos complicados, não seram suficientes. Você terá que arrancar mais dinheiro do departamento. - Seus dentes brancos mostraram-se num sorriso. - Vamos dizer que seja um suplemento para contrabalançar um trabalho desagradável.
   Yoongi abriu a boca para dizer que não era o departamento que iria pagar a conta, mas fechou-a ao notar o brilho que havia nos olhos dele. Taehyung queria que ele se humilhasse, que não implorasse de joelhos. Não ia dar-lhe esse gosto.
   - De quanto vai precisar? - indagou friamente.
   - 399.180,00 wons por dia, mais as despesas - ele disse sem pestanejar.
   Yoongi fes rápidos cálculos mentais. Restringindo as despesas, poderia pagar mais 133.060,00 wons diários e ainda se aguentar até o fim do mês. Desde que o caso fosse resolvido rapidamente.
   - Combinado - suspirou.
   Taehyung pensou um pouco. Na sua situação financeira, 399.180,00 wons por dia representava uma fortuna. Mas não podia enganá-lo.
   - Isto aqui - ele mostrou o relatório - tem a mesma chance de uma bola de neve no inferno. Você terá que documentar exaustivamente essas acusações com fatos, provas e testemunhas, se quiser mandar corruptos para a cadeia.
   - passei os três últimos meses estudando a atividade dos suspeitos e de seus companheiros de trabalho. As horas dedicadas ao cumprimento do dever, as batidas programadas e efetuadas, os critérios empregados na detenção dos traficantes, tudo enfim que possa provar sua inocência ou culpa. - Yoongi fez uma pausa. - Estou convencido de que são culpados. Mas ainda não consegui encontrar nenhuma prova sólida para que o Ministério Público apresente uma denúncia bem fundamentada.
   - Já considerou a possibilidade de que, se nada encontrou, foi porque nada existe? Pode ser que as evidências que você recolheu não passem de mera coincidências. Já examinei tudo cuidadosamente e não tenho dúvidas: são culpados. - Ele o fitou com altivez. - Se assim não fosse, não iria permitir que sete ótimos agentes de polícia, todos condecorados por bons serviços prestados à comunidade, fossem declarados culpados de proteger e aceitar propinas de um grupo de distribuidores de drogas!
   - Não é essa sua função no Departamento? - ele provocou-o e depois ficou à espera de uma resposta.
   - Nossa* obrigação é afastar os agentes corruptos que comprometem a polícia e fazer o que a população espera que seja feito em relação à lei violada: condenar quem praticou o crime. Seja quem for o denunciado. Não é uma tarefa agradável, quando se trata de um de nossos companheiros. Mas tem que ser feita. - Taehyung guardou silêncio e ele continuou: - quando você fazia parte da corporação, como se sentia em relação aos policiais corruptos? Queria que fossem protegidos, ou queria ver-se livre deles?
   Os olhos dele tornaram-se sombrios.
   - Policiais sujos são a escória. Degradam e desonram a polícia.
   Yoongi escondeu um sorriso. Estava certo a respeito de Kim Taehyung. Pra ele só havia um lado da lei.
   - Foi por isso que o procurei - explicou com suavidade. - Contava que você se sentisse assim em relação aos corruptos.
   Taehyung fechou a pasta com um golpe seco.
   - Jung Hoseok era meu parceiro. Conheço-o bem. Ele jamais aceitou dinheiro sujo, durante os três anos em que trabalhamos juntos. Não pode ter mudado tanto assim, de lá para cá.
   - Quem pode saber? Uma coisa eu aprendi no Exército de minha profissão. Nunca se sabe do que são capazes as pessoas que nos estão próximas. - uma sombra velou os olhos dele. Fora uma lição amarga. A mais amarga de sua vida.
   Taehyung refletiu. Era cético em relação a tudo. Apesar disso, acreditava nas pessoas. Não fazia sentido, mas era assim.
   - Suponhamos que você tenha razão. Por onde devo começar?
   Sem perder tempo, Yoongi retirou outros papéis da pasta de couro e empurrou-os para ele.
   - Examine todas as evidências que recolhi e veja se pode encontrar alguma consistência nelas. Verifique também se não deixei escapar nada, nem o menor detalhe. Quando terminar, decidiremos juntos qual o próximo passo a dar.
   - Trabalho sozinho - ele argumentou friamente. - Gosto de fazer as coisas a meu modo.
   - Esse caso é meu - lembrou-o Yoongi com frieza. - Ou trabalhamos juntos ou o acordo está desfeito.
   Ele viu a luta interior que ele estava travando. Queria manda-lo para o inferno, mas queria provar também a inocência de Jung Hoseok. Contava com isso para estimulá-lo a aceitar o caso.
   - Pois bem. Nada feito - ele decidiu.
   Yoongi esfriou. Nada podia permitir que Kim Taehyung tomasse as rédeas do caso. Que fazer, então? Aceitar o blefe e caminhar até a porta, esperando que ele o chamasse de volta? Não tinha escolha.
   - É uma pena, sr. Kim. Mas se mudar de ideia, avise-me.
   Levantou-se e recolher os papéis espalhados sobre a mesa. Quando fez menção de apanhar o relatório, ele pousou lhe a mão no braço. Ergueu os olhos e colheu uma vulgar expressão em seu rosto. Mas não conseguiu captar o significado.
   Sem saber o que pensar, afastou o braço e continuou sua tarefa. Tinha deixado escapar uma ótima oportunidade de resolver logo aquele caso e isso deixava aniquilado. Talvez fosse melhor assim. Nunca pudera compreender bem Taehyung. Com ele, só se podia ir até certo ponto, depois do que se esbarrava numa muralha de pedra.
   Uma coisa, porém, não podia negar. Algo acontecera entre ambos naquele curto espaço de tempo. Algo que não havia previsto e que não queria que viesse a acontecer. Nem mesmo pelo bem de seu irmão.
   Fechou a pasta e endireitou-se.
   - Obrigada pela atenção que me dispensou, sr. Kim - disse ele educadamente.
   Ele não respondeu nem ergueu a cabeça para olhá-lo. Mas devia estar acompanhado todos os seus movimentos com o canto dos olhos. Esperou mais alguns segundos. Depois deu-lhe as costas e caminhou para a porta. Já estava com a mão na maçaneta, quando ele o chamou:
   - Sr. Min.
   Virou-se lentamente.
   - Pois não?
   - mudei de ideia. Seremos parceiros. Exatamente como nos filmes policiais. - ele sorriu brevemente. - Poderá ser interessante.
   Aquela capitulação súbita surpreendeu-o. Ficou parado, sem saber o que fazer. Depois encolheu os ombros.
   - Não sei se será tão interessante quanto pensa - observou calmamente, enquanto caminhava para ele. Junto com o relatório colocou sobre a escrivaninha seu cartão de visitas e recomendou: - Telefone, quando tiver examinado tudo.
   Desceu as escadas rapidamente, ansioso por se ver livre de tudo aquilo. Embaixo, já na rua, soltou um suspiro de alívio. Conseguira, afinal! Tae iria ajudá-lo a descobrir as provas que enviariam os agentes corruptos, seu ex-par incluído, para o lugar onde mereciam estar: a cadeia.
     Então, lembrando a tristeza que vira nos olhos dele, sentiu um aperto na garganta. Mas não havia mais escapatória. A luta ia começar. Livrou-se de toda atenção com rápido encolher de ombros e não mais pensou nisso. Tinha seu trabalho para executar.

~𝓣𝓪𝓮𝓱𝔂𝓾𝓷𝓰 𝓟𝓞𝓥~
     Taehyung olhando longo tempo para porta." Em que vespeiro fui me meter?", perguntou-se, passando a mão pelo rosto que estava com a barba por fazer. Mas tinha que correr o risco. Aquele caso ia ser decidido em função de fatos incontestáveis. Devia isso a Hoseok, em nome da velha camaradagem.
     Jung Hoseok. Apesar da amizade que os unia, um fato ainda o entregava. Por que seu ex-parceiro testemunhara contra ele no processo? Naquela ocasião, Hoseok justificara-se, argumentando o que fizer apenas o seu dever. Fora chamado a depor e dissera apenas a verdade.
     Não deixava de ter razão. Yoongi catalogou outras testemunhas de acusação. Se não fosse Hoseok, teria sido outro qualquer. E o resultado final teria sido o mesmo, com ou sem o testemunho dele.
     Min Yoongi e o pessoal dos assuntos internos estavam convencidos da culpabilidade de Kim Taehyung. Eles sentira isso antes mesmo de comparecer ao tribunal. Yang, então, trabalhar há muito bem ponto expusera os resultados de sua investigação com calma, e depois chamar uma testemunha após a outra.
     Agora, ele estava usando o mesmo método em relação a Jung Hoseok, indo fundo na investigação. Porém, de uma coisa tinha certeza: se é de fosse inocente, ele saberia reconhecê-lo.
     Perdido em pensamentos, caminhou até a janela e abriu-a, esperando que o ar fresco melhorasse seu estado de espírito. Não estava, de maneira alguma, à procura de uma figura esbelta de homem, usando o conjunto azul escuro ponto nos próximos dias iria ver Min Yoongi até fartar-se.
     Ainda sim, alegrou-se quando o avistou ponto gostava do andar dele, com a cabeça erguida e o passo firme, como se fosse o dono do mundo. Ele atravessou a rua e juntou-se a multidão até a esquina, parando ao lado de um carro sporte vermelho.
     Estava ainda observando abrir a porta e sentar-se a direção quando, pelo canto dos olhos, viu algo que o deixou gelado. Um rapaz usando jeans e camiseta, emergiu de um beco e enfiou-se num sedan preto, parado logo atrás do carro de Yoongi. As janelas do Sedan eram de vidro fumê, o que não lhe permitiu ver o rosto do motorista. Mas isso pouco importava.
     Agiu por puro reflexo. Deixou a sala correndo e precipitou-se escadas abaixo. Ao chegar à Rua, o carro esporte vermelho estava dobrando a esquina e o Sedan seguia logo atrás, como um grande gato brincando com sua presa, antes de abocanhá-la.

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⏰ Última atualização: Jun 08 ⏰

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