XIX - Hall da Tristeza

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Meu corpo se desperta. Consigo me livrar do cansaço a partir do momento em que abro os meus olhos. Por mais que dormir em uma cama confortável seja algo que eu desejava a muito tempo, por algum motivo eu não consegui dormir bem essa noite. quando eu me viro para ver se Fenrir ainda estaria na cama, me deparo com o seu lado vazio, tendo apenas a marca de onde seu corpo descansava. Ele deve ter ido comer o café da manhã. Não consigo evitar e me sentir estúpida por ter sido tão inconveniente. Eu suspiro fundo, sentindo o peso da melancolia, e me levanto. Perco alguns minutos a arrumar a cama, e após isso, visto minhas botas, e sigo para fora do quarto.

Com passos calmos, ao me aproximar da cozinha, me espanto ao me deparar com Trygve e Farkas engajados em um embate físico e violento, cada um tentando derrubar o outro em uma luta intensa. Farkas rosna com fúria, seus músculos tensos enquanto tenta resistir à pressão do braço de Trygve em torno de seu pescoço, uma tentativa clara de subjugar o lobisomem. Enquanto isso, Fenrir permanece imperturbável, sentado próximo à mesa, concentrado em terminar sua refeição. Curiosa e um tanto preocupada com a cena, eu me aproximo da fera cinza e lanço uma pergunta casual:

- "O que aconteceu com eles? Devemos nos preocupar?"

Fenrir mantém seu olhar baixo, desviando a visão de mim por um momento antes de responder com seu típico tom sereno:

- "Trygve acidentalmente pisou no rabo de Farkas. Parece que Farkas não está tentando morde-lo então acredito que eles estejam bem."

Diz Fenrir em quanto dá de ombros. Não é a primeira vez em que o vemos brigando, e parece que eles estão acostumados com esse tipo de conflito, então eu apenas puxo uma cadeira e me sento ao lado de Fenrir. Cheguei atrasada para a refeição. Não sei se Fenrir não me acordou, pois achava que eu precisava descansar, ou se é por causa que ele estaria magoado comigo. Por mais que ele parece estar indiferente, ainda sinto como se houvesse algum tipo de mágoa entre a gente. Talvez eu esteja a pensar demais...eu não sei, então eu apenas me calo, e dou foco na minha alimentação. Sinto que o apetite fugiu. Mesmo me alimentando com um pão, e por mais que ele seja gostoso, sinto como se não houvesse fome para saciar. Talvez o meu desânimo tenha influenciado na minha fome. Não consigo deixar de me sentir mal pelo o que houve ontem à noite com o Fenrir. Quero me redimir de alguma forma, dizer desculpas e de alguma forma tentar me justificar. Eu só pensei que tinha intimidade o suficiente com o Fenrir para falar sobre esse tipo de coisa. Eu realmente não sei como abordar esse assunto da forma mais adequada, mas eu só quero resolver esses conflitos o quanto antes. Vou tentar ser direta. Eu respiro fundo, enchendo o meu corpo de determinação e coragem, e então eu me viro para Fenrir e com preocupação em meus olhos eu digo:

- "olha...Fenrir, sobre aquilo que conversamos ontem à noite...eu só queria dizer..."

Antes que eu pudesse terminar de falar, Fenrir rapidamente diz em seguida:

- "ah sim, a fogueira. Eu havia me esquecido."

Fenrir se levanta de seu assento e se alonga em quanto diz:

- "tudo bem, vamos nos arrumar."

Eu fico sem o que dizer por alguns segundos. Confusa. Parece que Fenrir está tentando evitar o assunto, ou é só impressão minha? Não era sobre isso que eu ia comentar. Para falar a verdade, até eu havia esquecido do meu compromisso com Fenrir por eu estar tão imersa nas minhas preocupações. Talvez seja melhor eu não falar sobre isso agora, não parece perturba-lo da mesma forma que eu. Eu sou mesmo estúpida.

Eu e Fenrir nos afastamos da cozinha, deixando para trás o conflito entre Trygve e Farkas. Em nosso quarto, a atmosfera está carregada de silêncio, como se nossas emoções fossem palpáveis no ar. Fenrir começa a se vestir, colocando a sua capa verde e as peças de armadura e também seus calçados com uma destreza que revela sua familiaridade com o processo. Percebo que ele escondeu a cauda, recolhendo-a cuidadosamente dentro da calça. Dessa vez, no entanto, não solicita minha ajuda para esse gesto, como da última vez. A tensão entre nós é quase tangível enquanto nos preparamos em silêncio para a minha instrução de sobrevivência.

Histórias De Inverno (A Chapeuzinho Vermelho e o Lobo)Onde histórias criam vida. Descubra agora