Capítulo 3

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Eu me dispus a fazer a lua de mel dos sonhos da minha irmã adoentada, mas tenho que impor um limite à fraude relativa à companhia aérea. Como estou basicamente falida, encontrar um voo de última hora requer alguma criatividade. Simone não ajuda nem um pouco, provavelmente porque ela é uma daquelas pessoas muito evoluídas que têm uma poupança de verdade e nunca precisam escavar o fundo da bolsa em busca de moedas. Deve ser legal ser assim.

Concordamos que precisamos viajar no mesmo voo. Por mais que eu queira me livrar dela o mais rápido possível, a agência de viagens deixou bem claro que, se houver alguma fraude em andamento, será cobrado o saldo total do pacote de férias. Não sei se pela proximidade a um provável vômito ou pela proximidade a mim, mas Simone já está na metade do corredor em direção ao seu quarto quando murmura "Apenas me diga quando lhe devo", antes de eu poder informá-la exatamente quão pouco aquilo seria.

Felizmente, minha irmã me ensinou muito bem e, por fim, consegui duas passagens pelo preço de uma, para a Bahia. Não sei por que são tão baratas, mas procuro não pensar muito a respeito. Um avião é um avião, e chegar a Porto Seguro é tudo o que realmente importa, não é?

Vai dar tudo certo.

Talvez a companhia aérea não seja das melhores, mas não é assim tão ruim e certamente não justifica a inquietação constante e a torrente de suspiros da mulher sentada ao meu lado.

- Você sabe que eu consigo ouvi-la, não sabe?

Por um momento, Simone fica quieta. Então, ela vira outra página do livro que está lendo e volta os olhos para mim em um silencioso "Não acredito que deixei você no comando".

Eu reprimo a vontade de estender a mão e dar um peteleco na orelha dela. Devemos passar por recém-casadas nesta viagem; podemos muito bem começar a tentar fingir agora.

- Então, só pra fechar o ciclo nessa discussão estúpida: se era para você ter uma opinião tão forte a respeito do nosso voo, não devia ter me pedido para cuidar disso – afirmo.

- Se eu soubesse que você iria reservar nosso voo em um ônibus com asas, não teria pedido mesmo – ela diz, levantando os olhos e olhando em volta, horrorizada e surpresa. – Nem sabia que existia essa parte do aeroporto.

Aborrecida, olho em volta e encontro o olhar da mulher sentada à nossa frente, que está descaradamente nos espiando. Falando baixo, inclino-me e exibo um sorriso meloso.

- Se eu soubesse que você seria tão implicante, eu teria lhe dito para se virar e arranjar a própria passagem.

- Implicante? Você já viu o nosso avião? Ficarei surpresa se não nos pedirem para ajudar a abastecê-lo.

- Ninguém está forçando você a fazer uma viagem dos sonhos grátis para Porto Seguro – digo. – E, só pra lembrar, nem todos podem comprar passagens de avião em cima da hora que custem uma fortuna, Senhora Rainha do Planejamento. Eu disse que estava com o orçamento limitado.

- Não sabia a que tipo de orçamento você se referia. Se soubesse, teria emprestado dinheiro.

- E desfalcar o seu fundo de acompanhantes sexuais? – digo e pressiono uma mão contra o peito, em falsa indignação. – Eu não me atreveria.

Simone devolve o mesmo sorriso fingido e inclina a cabeça na minha direção.

- Olha, Soraya, primeiro que nem você acredita que eu preciso pagar por isso – ela sussurra, a respiração fazendo cócegas no meu ouvido – e, segundo, estou aqui sentada, lendo. Se você quiser discutir, vá até o portão e peça ao pessoal do embarque para mudar nossos assentos para a primeira classe.

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