Capítulo 1

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Em algum momento do ano 2000.

A primeira vez que ele viu uma maldição foi aos quatro anos. Era uma coisinha pequena e feiosa, que nem deveria entrar no menor dos níveis. Ele tentou avisar sua mãe, mas ela não o ouviu, porque ela nunca o ouvia.

— Deixe de bobagem, Suguro — foi o que disse sem desviar o olhar da TV.

Situações como essa voltaram a se repetir ao longo dos anos com ele. A maioria das maldições eram insignificantes, besouros deformados voando pelos lugares, mas em lugares específicos, como a escola, elas tornavam-se vermes do tamanho de cachorros que rastejavam pelos corredores e subiam nos alunos.

Suguro detestava a escola e por vezes pediu para não ir mais, contudo, sua mãe não permitiu. Houve uma vez que ele até mesmo ousou esperar até mais tarde quando seu pai chegaria do trabalho para perguntar, infelizmente, ele foi maravilhosamente ignorado.

Quanto mais o tempo passava, mais numerosas eram as maldiçoes que ele via. Elas estavam nas pessoas, nas casas e em seus pais, isso aterrorizou ele mais do que qualquer coisa poderia.

Suguro Geto não tinha lugar para se esconder, porque o mundo estava dominado de maldições.



Ele tinha dez anos quando comeu a primeira maldição.

Certo dia, ele tinha visto na TV uma reportagem sobre mantras budistas para afastar maus espíritos. Ele não aguentava mais ver monstros por todos os lugares. Ele não aguentava mais ser taxado como uma criança bobinha que falava idiotices. Ele também queria livrar os pais daquelas coisas que sugavam eles e sussurravam coisas horrendas. O menino queria fazer a diferença no mundo555.

Suguro odiava maldições, mas odiava ainda mais aquelas que falavam.

Ele aprendeu o mantra, repetiu e repetiu, então certa noite, enquanto seus pais dormiam, ele saiu de seu quarto, caminhou pelo corredor escuro e frio, abriu a porta do quarto dos seus pais e ajoelhou-se ao lado da cama deles.

A maldição em volta da mãe lembrava a forma de um verme com não mais que 20 centímetros, ela era a mais cruel, sempre sussurrando maldades.

O verme estava acordado, como sempre. Ele encarou Suguro com um olhar de desdém.

— Eu... Odeio você... Empecilho.

O menino respirou fundo, já acostumado com a fala repetitiva.

Ele sussurrou o mantra e para o seu prazer, a maldição se contorceu como borracha e comprimiu-se. Suguro sentiu que precisava erguer a mão, ele fez, a maldição foi atraída para sua palma e rodopiou como água caindo por um ralo, ela comprimiu-se em um orbe negro.

O menino piscou, confuso. Depois de alguns segundos, Suguro decidiu ir jogar no lixo.

Ele caminhou até a cozinha, mas encontrou um novo obstáculo, deveria jogar no lixo orgânico ou não?

Ele decidiu que o lixo normal era melhor. Quando estava prestes a derrubar o orbe na lixeira seu corpo travou.

Não, ele não deveria jogar ali. A sensação foi tão forte que era quase como uma voz, ele definitivamente não deveria fazer isso.

Suguro observou o orbe com atenção, e então soube o que fazer com aquilo.

Sem pensar muito, ele engoliu. E foi o pior gosto que já tinha sentido. Fezes e vômito.

Suguro vomitou no chão.



Uma semana depois, a campainha tocou.

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