Capítulo 11: Minha Culpa

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Eu estava acostumada a pensar que tudo à minha volta conspirava contra mim. Que a vida era injusta comigo e eu certamente era o ser mais sem sorte desse mundo, alguém a quem todas as coisas boas foram negadas.

Eu nunca, nunca pensei que havia em mim o potencial de causar algum mal a uma pessoa que havia tentado me fazer um bem. Mas havia percebido que sim, eu tinha esse potencial demoníaco, vendo Arthur atropelado na minha frente.

Arthur foi socorrido, felizmente havia um médico perto, que com a ajuda de alguns homens o levou ao hospital, e eu tive a fatídica responsabilidade de voltar ao retiro e avisar Tábita e a liderança do que havia acontecido.

— Então quer dizer que por causa da sua irresponsabilidade de fugir sem falar nada, Arthur está ferido no hospital? — Julya questionou de forma ácida, infelizmente não bastava ter que ver o olhar desolado de Tábita, essa garota estava ouvindo nossa conversa. — Eu sempre soube que você era problema, mas ninguém me escuta e agora olha o que aconteceu! — Escarneceu.

Eu contraí os lábios. É óbvio que eu estava me sentindo a pessoa mais horrível do mundo. Uma coisa era prejudicar uma pessoa que não se importava comigo, outra coisa era uma pessoa sair prejudicada tentando me ajudar, sem sequer eu querer ajuda. Mas mesmo assim… eu não podia deixar essa garota pisar em mim, eu não suportaria minha culpa aumentando, eu precisava me defender.

— Eu não pedi pra ele me buscar. Isso não teria acontecido se ele não quisesse bancar o herói. — Rebati, rispidamente.

— Chega vocês duas! — Tábita exclamou, e olhou cortante para Julya. — Julya sinceramente, meu irmão está no hospital, eu não quero saber de quem é a culpa, eu só quero que ele fique bem e seria muito mais agradável se eu não tivesse a sua voz irritante jorrando veneno aos quatro ventos. — Esbravejou, Julya fez uma careta de descontentamento e saiu de perto, e então Tábita olhou pra mim. — E você, Sophia, não está em posição de se defender. O Arthur se sentia responsável por você, não só como um dos organizadores do retiro, mas como um amigo. Ele realmente se preocupa com você, porque se identifica com você, e talvez você não entenda sobre isso, mas quando se tem pessoas que se importam com você, você não pode ser egoísta. — Ela fez uma pausa. Eu engoli em seco, recebendo essas palavras mas sem saber o que responder. Ela suspirou profundamente. — Amigos não fazem as coisas só porque você pede, eles fazem porque você precisa. Então ao menos seja grata ao Arthur. 

Tábita está certa, indubitavelmente certa. Arthur havia me resgatado de Bob, e agora havia salvo a minha vida e se machucado por isso. Eu havia feito mal a alguém que só me queria bem.

Eu não era melhor que as pessoas que me machucaram até aqui. Elas haviam me machucado sem que eu tenha merecido isso, sem eu ter feito nada de ruim. Mas eu havia prejudicado Arthur, ele tendo feito algo de bom. Mesmo brigando com ele e sendo teimosa ele havia salvo a minha vida. Eu era culpada das feridas dele.

— Me desculpa Tábita. Me desculpa, mesmo. —Sussurrei, me afastando dela.

O retiro continuou, porém eu pedi para voltar para casa, assim como Tábita. Eu não tinha mais clima para ficar ali. E os próximos dias na cidade não foram muito melhores. No fundo eu sabia o que todos pensavam, que eu, a órfã rebelde e imprudente, era cem por cento culpada por Arthur ter se acidentado. Não tive coragem sequer de dar as caras na casa de Lições. Além de ser tudo muito sem graça sem o Arthur, eu não suportaria os olhares de condenação sobre mim, e nem as provocações de Julya que finalmente teriam uma motivação razoável.

— Eu sou um desastre. Uma catástrofe ambiental. Um agente do caos. — Murmurei, afundando meu rosto no travesseiro absurdamente macio da minha cama. Do que será que isso é feito?

Resplandecer [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora