Capítulo 17: Roupas comuns

60 13 4
                                    

— …E é por isso que acredito que vocês devem adotar Jane. — Foram as palavras finais do meu argumento, sentada de frente para tio Gilbert e tia Vivian, com Bianca e Joaquim sentados ao meu lado.

— É uma atitude muito nobre da sua parte querer que essa garota venha morar conosco, Sophia. — Gilbert elogiou. — Pela descrição, parece ser uma ótima menina, e deve ser difícil viver com uma deficiência visual naquele orfanato. 

— Sim, e ainda por cima ela está doente. Ela possui uma doença hereditária. — Suspirei profundamente. — Por favor… considerem trazê-la para viver aqui. Eu sei como é lá, ela não está sendo bem tratada. — Falei com peso no coração. 

— Sophia… — Bianca colocou a mão sobre a minha, apertando de leve e pondo uma mão sobre meu ombro.

Gilbert e Vivian se entreolharam e assentiram.

— Certo Sophia. Amanhã você volta ao orfanato para buscar a Jane. Vou estar sem tempo de ir lá amanhã acertar toda a papelada, mas vou mandar por você um bilhete escrito confirmando que quero levar a Jane, e no dia que tiver tempo vou lá acertar toda a papelada. Tudo bem para você? — Meu rosto se iluminou ao ouvir essas palavras.

— Com certeza. Obrigada por tamanha generosidade, tio. — Eu sorri de orelha a orelha, unindo minhas mãos empolgada.

Meus tios sorriram.

— Que bom que está feliz, Sophia. — Vivian expressou, contente.

E vocês nem imaginam o porquê, tios. 

Sim, eu iria contar a eles que me converti aos caminhos de Cristo. Mas antes eu preferia prepará-los para isso, mostrar atitudes mudadas, mostrar Cristo através das minhas atitudes antes de mostrar por palavras. Acredito que assim eles darão mais crédito.

Até agora fui um péssimo exemplo. Darei prova de conduta a partir de hoje, por amor àquele que morreu por mim, por tudo que recebi.

Saber que Ele está ao meu lado me faz pensar que valeu a pena ter vivido até aqui.

O dia correu naturalmente, me dediquei sozinha em meu quarto à leitura da bíblia, conversei com Bianca e tia Vivian, e quando menos percebi, já era o outro dia de manhã, e eu estava saindo para o orfanato novamente, dessa vez para buscar Jane. Orava a Deus que tudo ocorresse como planejado enquanto apertava em minhas mãos o bilhete escrito por Gilbert dentro de um envelope. 

Gilbert cedeu uma carruagem, um cavalo e um cocheiro para me levar e me trazer com Jane. Logo que cheguei no orfanato desci da carruagem e pedi que o cocheiro esperasse. Adentrei ali mas estranhei que nenhuma das crianças estava no pátio, e conforme adentrava, não ouvia quase nenhum barulho, o que era assustador. Aquele orfanato nunca ficava silencioso.

Eu entrei, quase tudo estava vazio, mas eu ouvia o barulho de uma vassoura passando no chão. Subi até o quarto feminino de onde vinha o barulho, tudo estava sepulcralmente vazio, e chegando ao quarto, eu só pude ver Meire varrendo o chão. Ele também estava vazio, e a pergunta que atormentava minha mente era "onde está Jane?".

Meire notou minha presença e suspirou profundamente, ajeitando a coluna inclinada enquanto varria e segurando a vassoura em pé.

— Sophia. Pelo visto sente muita saudade daqui. — Falou, se aproximando de mim. — Não vai se desculpar pela falta de educação de me deixar falando sozinha ontem?

Eu suspirei profundamente.

— Eu só precisava ver a Jane, nem tudo é sobre você. — Falei, curta e grossa. — Inclusive, onde ela está agora?

Meire suspirou profundamente.

— Vocês nem eram amigas, por que do nada esse interesse todo? — Indagou, com descaso.

Resplandecer [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora