Capítulo 4

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A fechadura soa e as portas duplas se abrem. Perco o fôlego. Nunca em minha vida fiquei em uma suíte, muito menos em uma tão bonita. Era a lua de mel dos sonhos de Karine, e procuro não me sentir grata por ela estar sofrendo para que eu possa estar aqui. Mas é difícil, pois isso acabou muito bem para mim.

Bem, quase. Olho para Simone, que gesticula para que entremos.

- Não está esperando que eu carregue você no colo, certo? – ela ironiza.

Diante de nós, há uma sala de estar absurdamente espaçosa, com um sofá imenso, um sofá menor, duas poltronas e uma mesa de vidro ao centro sobre um tapete branco felpudo. Na mesa está um belo arranjo de flores tropicais em um cesto trançado, um controle remoto complicado, que parece provavelmente acionar uma camareira biônica, e um balde com uma garrafa de champanhe e duas taças com as inscrições "enfim sós" e "felizes para sempre".

Logo à esquerda da sala de estar há uma salinha de jantar com uma mesa, dois castiçais de murano e um carrinho de bebidas coberto com todos os tipos de copos de coquetel ornamentado.

No entanto, na outra extremidade, está a verdadeira beleza da suíte: uma parede de portas de vidro que se abrem para uma varanda com vista para as ondas da praia do Mutá a se quebrar. Suspiro, deslizando as portas para os lados e saindo para a brisa quente de janeiro. A temperatura me impacta e me traz uma consciência surreal: estou em Porto Seguro, em uma suíte dos sonhos, em um resort all inclusive. Eu nunca estive na Bahia. Nunca fiz nada parecido com um sonho. Ponto. Começo a dançar, mas só percebo que estou fazendo isso quando Simone aparece na varanda e despeja um enorme balde de água fria, pigarreando e olhando as ondas com os olhos semicerrados, enquanto sinto meu rosto queimar de vergonha.

Ela parece estar pensando: "Já vi paisagens melhores".

- Esta vista é sensacional – digo, quase buscando o confronto.

- Assim como a sua propensão para compartilhar demais as coisas – ela afirma, piscando.

- Já disse que não sou uma boa mentirosa. Fiquei nervosa quando ela ficou olhando para a identidade de Karine, okay?

Simone levanta as mãos em uma rendição sarcástica. Com uma careta, escapo da senhora Desmancha-Prazeres e volto para o quarto. Imediatamente à direita, há uma pequena cozinha, que ignorei completamente a caminho da varanda. Depois da cozinha, há um corredor que leva a um banheiro pequeno e, logo depois, ao suntuoso quarto principal. Entro e vejo que existe um banheiro enorme ali, com uma banheira muito grande – suficiente para duas pessoas. Viro-me para encarar a cama gigantesca. Quero rolar nela. Quero tirar minhas roupas e me deitar nos lençóis de seda...

Mas... como? Como chegamos até aqui sem discutir a logística dos arranjos para dormir? Será que nós duas realmente presumimos que a suíte de lua de mel teria dois quartos? Duas camas? Sem dúvida, ambas morreríamos felizes se não compartilhássemos a cama; mas como vamos decidir quem fica com o único quarto? Evidentemente, acho que deveria ser eu, mas, conhecendo Simone, ela provavelmente pensa que vai ficar com a cama.

Saio do quarto no exato momento em que Simone está fechando as grandes portas duplas e, então, ficamos presas neste estranho momento de coabitação sem preparação. Nós nos viramos para encarar nossas malas.

- Uau.

- É.

- Muito legal.

Simone tosse. Um relógio faz tique-taque em algum lugar da suíte, alto demais em meio ao silêncio incômodo.

- É, sim – ela concorda, estende a mão e coça a nuca. As ondas do mar se quebram ao fundo. – Acho que você deveria ficar com o quarto, já que é sua primeira vez num local como esse.

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