Capítulo 01: Memórias traumáticas

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A Memória de um ser humano é considerada seletiva. Apesar de eu querer esquecer aquele momento doloroso da minha vida, o choro, o desespero, os gritos, o som do meu coração batendo forte...

Essa lembrança ainda permanece viva na minha mente, como se aquele momento tivesse congelado pra sempre.

O trauma que aquele incidente infeliz me deixou, foram cicatrizes profundas na minha alma, é a razão pela qual ainda me atormento tanto.
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Tebas, Egito 978 a.c.

"Eu ainda me lembro com clareza sobre o dia em que a minha vida, da qual eu amava, se tornou um inferno pra mim..."

"- Rápido! Não temos tempo! - falou minha mãe que me arrastava para longe do nosso vilarejo enquanto fugimos de dois homens que nos perseguiam com suas espadas afiadas. Meu pai está logo atrás de nós, cuidando da nossa retaguarda."

"Eu não sabia o que estava acontecendo. Simplesmente acordei com minha mãe me chamando de forma desesperada, depois que acordei, logo senti um cheiro horrível de fumaça que invadia meu olfato por completo. Minha mãe agarrou minha mão com força e me puxou para fora de casa, onde meu pai nos esperava com uma arma na mão."

"Eu senti um calor imenso percorrendo todo meu corpo, então quando me dei conta, o pequeno vilarejo onde morávamos estava em completa chamas! As casas que eram tão bem feitas e charmosas, haviam se tornado cinzas e fumaça preta por conta do enorme incêndio que cobria todas elas, principalmente minha casa!"

"Lágrimas saíram em meus olhos enquanto continuamos correndo o mais rápido possível. Além das chamas, ouvia-se os gritos de todos os moradores do vilarejo. A vizinhança que era tão alegre, agora estava tomada pelo sentimento de desespero enquanto ambos corriam da morte."

"Muitos estão no chão, mortos por aqueles homens que apareceram como fantasmas. Crianças, adultos e velhos(as), eles não poupavam ninguém que entrasse em seu caminho! Porque?"

"- Vão, fujam rápido! - meu pai, pra nos dar mais tempo de fugir, começa a lutar com aqueles dois homens. Eu tento pedir a minha mãe para ajudar o papai, mas ela não me dava ouvidos e continuava me puxando para longe deles."

"Ao olhar para trás me surpreendo em ver meu pai de fato lutando com aqueles homens com tanta facilidade!"

"- O papai sabe lutar? - não tenho resposta."

"Meu pai sempre foi um homem que despreza a violência, nunca tinha visto ele usar a violência com nada, muito menos com uma pessoa. Vê-lo lutar assim é realmente algo inacreditável!"

"Depois de corrermos muito, finalmente paramos e entramos dentro de umas das casas dos moradores que não tinha sido incendiada. - Rápido, feche as janelas. - rapidamente faço o que a minha mãe me manda enquanto ela fechava a porta. - Muito bem..."

"Minha mãe vem em minha direção e segura meus braços com firmeza. - Ouça!... - dizia ela tentando manter calma em sua voz. - Eu quero que você se esconda naquele baú e não faça nenhum barulho!"

"- Porque? Cadê o papai? - perguntei, confusa e assustada."

"- Não faça perguntas, não temos tempo para isso! - me responde com o tom mais alterado. - Seja uma boa menina e faça o que eu estou te pedindo! Não saia e nem fale nada até eu mandar. Você entendeu? - ainda perdida, digo que sim com a cabeça fazendo-a ficar mais tranquila. - Tudo bem... agora vai."

"Rapidamente vou até o baú vazio e me escondo nele conforme o pedido da minha mãe. Lá dentro é pequeno e abafado, mas por eu ser uma criança me encaixo perfeitamente. Por sorte, esse baú é velho e cheio de rachaduras onde eu posso respirar com facilidade e ver o que está acontecendo do lado de fora."

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