Único - denso como sua chuva

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Era fácil conseguir acesso para qualquer local daquela cidade, afinal, estranho seria estar ali a tanto tempo e não ter contato com um único morador que fosse.

Uma garoa fina caia durante aquela madrugada fria, tão fina que chegava a ser imperceptível suas gotas pousando sobre a pouca pele descoberta, mas intensa o suficiente para que o chão sempre permanecesse com um fino véu de água.

Mesmo com sua altura chamativa, seus passos eram discretos, eram tão insignificantes quanto a garoa enquanto cruzava a principal cidade de Fontaine, permitindo-se chegar molhado no estabelecimento que estava cogitando ir desde o momento em que juntou coragem para sair de sua cama.

Não conseguia dormir, um pouco de álcool seria de grande ajuda nessa tarefa.

Ao chegar ao bar que desejava, passou pelo beco em sua lateral para chegar à entrada de funcionários, dando duas pequenas batidas e encostando na parede em seguida para aguardar, só então percebendo que seu cabelo deixava pequenas gotas pingarem por suas pontas.

Estava encharcado.

— Imaginei que fosse vir, senhor Neuvillette. – o dono do bar demorou um pouco para abrir, mas lá estava ele, com seu típico sorriso bondoso para com o juiz daquela região.

— Desculpe o incomodo. – o senhor de idade negou com a cabeça enquanto dava espaço para a passagem.

— Não diga assim, o senhor é a voz e esperança de Fontaine, o mínimo que devemos é lhe acolher quando pedir. – Neuvillette passou pelo espaço fornecido, sendo atingido imediatamente pelo choque térmico.

— Estava dormindo? – se preocupou em ver o outro com as roupas confortáveis.

— Não, quando escutei a primeira gota da garoa, já tive certeza de que o senhor iria aparecer.

— Sabe que não precisa me chamar de senhor quando venho aqui, apenas Neuvillette está ótimo. – o homem que aparentava ter mais idade seguia negando.

— Jamais me prestaria a este desrespeito. Gostaria de tomar um banho? Tomei um hoje mais cedo, basta apenas esquentar a água novamente. – a cortesia as vezes irritava o juiz, mas sempre compreendia que qualquer cidadão sempre iria o tratar daquela mesma forma.

— Vou apenas retirar minhas peças mais pesadas para secarem sobre o aquecedor.

— Fique à vontade. Vou preparar algo quente para o senhor.

O homem desapareceu do ambiente, permitindo assim que Neuvillette tivesse liberdade para agir como quisesse naquele local que já estava habituado a ir por tantos anos.

Retirou o pesado sobretudo e pendurou logo ao lado do aquecedor, foi até os fundos atrás de alguma calça para realizar uma troca, e ali estava a que ele havia usado na última vez que foi até o estabelecimento.

Quando o dono do local retornou, viu que o juiz já havia trocado a calça e permaneceu com sua camisa úmida, não totalmente atingida graças ao sobretudo, com seu cabelo agora totalmente solto para que recebesse também um pouco de calor do ambiente.

O salão ganhou um cheiro forte com pouco açúcar, a bebida apreciada pelo homem por tantos anos.

— Um dia ainda vou descobrir o segredo do café de vocês. – Neuvillette falou já acomodado em uma cadeira.

— Jamais irá acertar nossa dose de álcool na bebida. – o outro disse sorridente enquanto colocava a bebida ali — Deseja comer alguma coisa?

— Não, obrigado. – quando o homem virou para sair do ambiente, o juiz chamou sua atenção novamente — Se não for incomodo, poderia se sentar aqui?

O azul de seu marOnde histórias criam vida. Descubra agora