CAPÍTULO VINTE E OITO

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—Malessa—

Quase engasgo com as palavras, e meu estômago se revira de um jeito não tão bom, quando lembro da nossa conversa de mais cedo sobre beijos e essas merdas confusas.

     — Se quiser salvar ele? Sim. — é quase mínimo, mas eu ainda sou capaz de perceber o sorriso maroto dela. — Olhe pelo lado bom... Ele ainda está desacordado, então não precisa se sentir tão tímida.

     Reviro os olhos para ela e para o olhar malicioso, mas a cada segundo que passava, era mais arriscado a veia se romper. E eu não queria ver isso acontecer. Ele me irritou profundamente com suas escolhas idiotas, mas não quer dizer que eu queira que ele sofra eternamente, principalmente, se o sofrimento dele vai desencadear uma séria consequência sobre o acordo que quebrei. Porque se eu estivesse com o livro como o combinado, não aconteceria o pior. E o Diário está a quilômetros...

     "É terrivelmente irritante o fato do quanto quero te beijar."

     Ele tinha dito isso mais cedo, e causou tantas sensações não bem-vindas, que resolvi apenas ignorar as palavras. Mas uma ideia me ocorre, uma que faz minha cabeça girar.

     — Mais cedo ele comentou sobre isso, sabe? — murmurei para Runna, encarando o rosto do Predador. — Disse que queria muito me beijar. E agora que eu sei como se faz para curar o veneno de uma syren, eu me pergunto: Será se aquilo mais cedo era os instintos de sobrevivência dele falando, e não ele? Será que, de alguma maneira, uma parte inconsciente do Predador sabia do que seu corpo precisava para se livrar do veneno?

     Runna parece pensar a respeito, mas eu já comecei a considerar, então não paro por aí.

     — Porque eu imagino que ninguém em sua sã consciência iria falar uma coisa dessas para uma estranha. — completo o pensamento.

     — Você está certa. É efeito do veneno liberar uma certa quantidade de hormônios, principalmente, oxitocina. — ela respira fundo — Sabe, é como acontece no canto das syrens. Quando os homens que as escutam ficam em estado de estupor prazeroso. — Runna reflete por um segundo e ela parece estar completamente fascinada com suas observações. — Porém, como foi um beijo e o veneno foi injetado de forma direta, a oxitocina presente é mais intensa.

     — Hormônio do prazer, que conveniente... — murmuro baixo.

     Isso explica muito sobre o comportamento estranho do Predador e suas malditas palavras. Runna assente e me encara com a absoluta certeza de que suas palavras são só uma comprovação do que leu nos livros.

     — Então, acredito que quanto mais rápido você parar de remoer o que quer que ele te disse em um dos momentos em que o veneno estava liberando seu efeito, acho melhor você o beijar e evitar um sofrimento maior no futuro. A não ser que aquela ideia sua de matá-lo ainda esteja em pé.

     Muito tentador, mas eu observo o rosto estranhamente pálido, o peitoral subindo e descendo mais lentamente que o normal, e a boca entreaberta. Ele é insuportável na maioria das vezes, e um canalha rabugento todo tempo. Mas ainda assim, afasto os cabelos brancos da testa suada dele, e inclino minha cabeça de lado. Me aproximando um pouco mais do seu rosto, sinto a respiração cada vez mais fraca. Por mais que me irrite, ele é o canalha rabugento que me salvou mais de uma vez, e acho que devo o mesmo a ele. Mesmo não querendo admitir.

     — Acho que eu não sei como fazer. — falo para Runna, ainda com os olhos no rosto do Predador.

     — Por favor, não me diga que nunca beijou alguém. — ela parece não acreditar nas próprias palavras, e eu não tiro os olhos de Warren. — Eu tenho quase dezesseis, e vou morrer de sorrir se você me fizer pensar que eu beijei mais bocas do que uma Caçadora durona e velha.

~ɪᴍᴘéʀɪᴏ ᴅᴇ ᴅᴇᴜꜱᴇꜱ ᴇ ᴍᴏɴꜱᴛʀᴏꜱ~Onde histórias criam vida. Descubra agora