Capítulo Único

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Jisung odiava o novo algoritmo do Twitter. Elon Musk, filho da puta - era o que resmungava de seus lábios todas as vezes que atualizava a tela e deparava-se com uma sequência de tweets completamente aleatórios e de usuários completamente desconhecidos. Era insuportável. As novas alterações haviam tornado sua vida um inferno.

Uma vez, com uma das mãos segurando na barra de apoio do ônibus, e a outra scrollando (rolando a página), deparou-se com uma ilustração muito pornográfica, enquanto rodeado de senhores e senhoras. Aquilo estava longe de ser seu conteúdo consumido na plataforma (seguia apenas streamers, e acompanhava updates sobre Animal Crossing e Pokémon - um completo nerd). Saiu desesperado em rumo a faculdade, três pontos antes e no primeiro após o seu susto, apenas para evitar mais um par de olhos julgador de uma ahjumma nomeando-o de pervertido em sua mente (e provavelmente fora dela também, sendo salvo de dar vida à hipótese pelos fones de ouvido e a música alta que escapava neles).

Não foi a única situação traumatizante com a nova funcionalidade. Uma delas herdou-lhe um constrangimento constante; Estava na biblioteca, arranjando algo para postergar seu momento de estudo, ausente de suas companhias prometidas, quando o seu amigo chegou atrasado para acompanhá-lo, e por cima de seu ombro - queixo vindo a se apoiar no mesmo - surpreendeu-se com uma foto explícita de uma mulher tomando conta da sua tela do Twitter. Jisung lembra vividamente do desespero quando sentiu o riso soprado em seu pescoço, e o olhar desesperado que direcionou-lhe tentando justificar (com as bochechas rosadas) que "Não é o que você está pensando!". Nunca mais usou Twitter quando acompanhado de Chenle, já que ele imediatamente traz à tona o tópico com tom de zoação.

E de todas as situações desconfortáveis que levavam seu recinto on-line e tranquilo a um teor pornográfico, houve um (felizmente no conforto de seu dormitório) que estranhamente chamou-lhe a atenção. Mais real que os outros, mais íntimo que os outros, e ainda assim tão indecente quanto - o suficiente para que o Park se visse obrigado a criar uma conta secundária e privada, apenas para explorar mais os conteúdos daquele usuário.

Por trás do arroba 'fullsunhae' encontrava-se um rapaz de alta melatonina, fios compridos e escuros que alcançaram até sua nuca. Rosto sempre coberto de alguma maneira.

Inocente e inofensivo nos primeiros olhares, até abrir qualquer imagem e deparar-se com seu corpo semi-nu, ou completamente despido. Ou pequenos cortes de vídeos que atiçavam para um possível conteúdo mais explícito, acompanhando links.

Jisung via-se fissurado por uma conta de um criador de conteúdo para OnlyFans. Esclarecedor, por um lado, já que sempre foi incerto de sua sexualidade; E sua fixação por um homem aliviava muito de suas dúvidas.

Seus dedos nervosos ansiavam por clicar nos links fornecidos, para consumir mais do que as prévias, para ter a oportunidade de ver um pouco mais daquele rapaz, de seus dóceis sons, e de seu corpo cativante. De qualquer maneira, nunca cedeu ao desejo; Apenas um universitário quebrado, cujo aluguel do dormitório era pago por seus pais e parte por uma bolsa estudantil enquanto não estagiava.

Foram cinco meses acompanhando fielmente seus conteúdos públicos (do Twitter) em sua conta privada. Curtindo, salvando, interagindo de maneiras sutis e que não lhe taxassem como um pervertido descarado que provavelmente era.

Até voltar chapado de uma das festas universitárias. Fatídico quinto mês de fidelidade a um trabalhador do sexo? (Park definitivamente não sabia como deveria nomeá-lo), frustrado com suas experiências românticas - ou melhor, a completa ausência delas. Vinte e dois anos, sem nunca ter beijado, sem nunca ter transado, e provavelmente ainda mais frustrado por aceitar sua própria sexualidade apenas nessa altura do campeonato.

Your OnlyFan - jihyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora