Capítulo 39

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Matteo

Eu levei somente um dia para pôr as coisas em ordem, colocar alguém à frente para os compromissos menores, e deixei meu irmão encarregado das decisões mais importantes mesmo com ele reclamando. Para ele, eu não deveria levar muito tempo convencendo Rebeca a vir morar comigo, já que as condições dela não era lá muito favoráveis, contudo eu a conhecia suficiente para saber que não seria tão fácil persuadi-la a deixar tudo e vir morar onde há pouco um furacão saiu destruindo tudo, sem contar o que ela me falou sobre ter um filho sendo criado no nosso ambiente que ela passou a ter aversão.

Tudo bem que eu não era mais o mesmo, nem tampouco eu tinha vontade de assumir alguma coisa, mas como é de conhecimento de todos, ninguém sai da máfia depois de ter entrado nela e vai viver uma outra vida. Eu só não ponho as caras, apareço, mas sabia que se precisasse resolver algum conflito, somente meu nome já era suficiente para as pessoas tremerem. Claro que agora eu era um associado que me aproveitava e beneficiava as pessoas de dentro da organização, e às vezes eu era consultado afinal os meus conselhos eram muito proveitosos já que eu tinha sido criado para aquilo.

Uma das consequências de tudo e que mais me irritava era a necessidade de informar à justiça meus passos e o motivo. Eu fui condenado por tráfico de influência e lavagem de dinheiro, tirando-me da condição de réu primário, e só não fui preso, como eu disse, por ter passado por um covarde que não conseguia me opor ao meu pai, o chefe da organização.

Quando cheguei ao Brasil, o informante que Lucca havia contratado me buscou ainda no aeroporto e me entregou um pequeno relatório sobre Rebeca - onde ela estava, como estava e principalmente se o tio a assediava. Quando eu soube que ela voltara para o Brasil para a casa da avó e que estava morando debaixo do mesmo teto que aquele crápula, eu quase enlouqueci. Minha vontade era mandar matá-lo, mas depois de ter um monte de acusações de assassinato sem provas nas minhas costas, e saber que a polícia ainda investigava outras possibilidades, eu me contive.

Não que eu esteja sendo covarde, mas se quero conquistar minha morena, eu preciso parecer um homem justo e decente que aprendeu a lição.

Parecer...

Para evitar alarde e jornalistas que adoram expor a situação da minha família, aluguei um flat de luxo em frente à Praia de Copacabana em vez de uma suíte em algum hotel, e fiz questão que tivesse espaço e segurança suficiente para uma criança brincar para quando eu trouxesse meu filho.

Tomei um banho, troquei de roupa ansioso em reencontrá-los. Tanto que eu tinha comprado um monte de presentes para meu filho que faria dois anos, além de um anel belo de compromisso para minha morena. Se ela aceitaria... ela haveria de aceitar. Eu não a perderia mais nunca nem que eu precisasse vir morar aqui.

O bairro que ela morava era horrível, e o lugar que ela trabalhava conseguia ser pior. Tudo bem que uma oficina mecânica não é lá um lugar muito apresentável, mas a recepção que eu imaginava ser um ambiente reservado e limpo, estava longe de ser.

Concentrada em alguma coisa que lia, ela não me viu chegar,

— Buongiorno ragazza — a cumprimentei chamando sua atenção. — Mi manchi molto ― e dizer que sentia saudades foi respondido com um sorriso e um abraço.

Seu cheiro, mesmo misturado à combustível queimado, era único. A abracei forte lembrando-me do nosso último dia – quando ao me despedir, eu tentei beijá-la e ela virou o rosto impedindo-me.

Rebeca parecia mais madura mesmo que continuasse tendo aquele rostinho de garota sapeca. E seu aperto mostrava sua carência, ou seu cansaço, ou somente a necessidade de ter alguém cuidando dela.

Era isso. Ela estava esgotada e eu só pensava em tirá-la dali e paparicá-la para que nunca mais precisasse de qualquer coisa.

Depois de lamentavelmente nos separarmos, ela me apontou uma cadeira e com muito custo eu me sentei. Eu queria levá-la e nunca mais deixá-la vir, mas como a profissional que ela era e orgulhosa como ninguém, ela continuou atendendo o telefone, respondendo sempre que alguém aparecia pedindo algo, e assistindo quem precisasse de sua atenção.

Completamente, Seu (Livro 2 - Traídos)Onde histórias criam vida. Descubra agora