Capítulo 1

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Sempre fui quieto e observador, desde menininho não era de muitas palavras e andava pelos cantos de casa descobrindo os detalhes da vida...vivia de médico em médico com a minha mãe pois ela tinha medo que eu tivesse algum atraso mental, mas, a resposta era sempre a mesma:

"_ não há nada de errado com ele, é um garoto normal!"

Acho que não ter falado até os 3 anos, contribuía bastante com o fato de minha mãe não colocar fé nos diagnósticos médicos. Assim, além de hospitais posso dizer que conheci os mais variados tipos de religiões...

Não era dificuldade com a fala, na verdade eu falava, apenas me sentia inseguro demais para expressar os meus pensamentos perto de outras pessoas então, guardava eles para mim e vivia bem assim até que, em uma noite aleatória, minha mãe me pegou falando com um ursinho de pelúcia. A partir daí, os médicos de desenvolvimento deixaram de ser o foco e meus passeios semanais passaram a ser visitas a psicólogos e psiquiatras.

Eu não era repreendido por ser quieto, meus pais nunca foram grosseiros ou ríspidos comigo, eram apenas preocupados com a ideia de que quando eu crescesse talvez não conseguisse conviver bem em sociedade e por isso faziam o possível e impossível para que eu me sentisse confiante a ponto de falar com eles e com outras pessoas, mas sempre me cercando de amor e carinho.

Foi assim até os 8 anos de idade, quando eles morreram... em uma noite eu tinha pai e mãe, já na manhã seguinte eu era órfão e assim passei a morar com uma tia.

Nos primeiros dias eu fiquei apenas dentro do quarto, não falava nada, não comia nada, apenas chorava e aparentemente minha tia não se importava o suficiente para me apoiar no luto.

Nessa época, descobri que os meus pais eram donos de uma grande fortuna e bom, eu era filho único. Me lembro da prontidão de Minhee para ser minha tutora legal... mas isso não passou de um teatro, afinal, quando comecei a sair do quarto, minha tia fazia questão de dizer a todo momento que meus pais morreram por minha causa, dizia que eles morreram de desgosto por ter um filho retardado.

Eu era uma criança com aparência angelical, com a pele branquinha de meu pai e os cabelos louros de minha mãe, os olhinhos puxados e espertos de meu pai e os lábios avantajados e rosados de minha mãe, a mistura exata dos dois e, antes de morrer, eles faziam questão de deixar claro o fato de que amavam esse resultado: EU

Minha aparência delicada e frágil, parecia ser uma afronta a minha tia, já que ela passou a usar esse motivo como desculpa para me machucar fisicamente sempre que possível. Era esperta e não machucava o meu rosto pois eu tinha que ir para a escola, mas machucava locais onde era possível esconder com camadas de roupas. Ela dizia que um homem deve parecer um homem e assim, a cada dia que se passava, eu sentia menos vontade de me comunicar com outras pessoas e me fechava mais ainda em meu próprio mundo.

Aos 15 anos, o marido de Minhee chegou em casa alcoolizado e decidiu que eu me parecia com uma garota, dizia que minha pele era macia como tal e que meus lábios eram muito convidativos para um garoto... Enfim, acho que vocês são capazes de entender o que houve e foi nessa mesma época que eu decidi fugir daquela situação.

Saí no meio da noite com apenas uma mochila, com algumas roupas e sem identidade. Na rodoviária, o meu problema em falar foi suprimido pela necessidade de manter a minha nova decisão e com isso, convenci uma senhora a se passar por minha mãe para conseguir pegar um ônibus para Seul.

Já na cidade grande, descobri que precisava me virar para não ser achado e também não morrer de fome, meu primeiro passo foi pintar o meu cabelo natural de preto e, somado ao tempo e decisões ruins, minha aparência frágil foi desaparecendo.

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⏰ Última atualização: Sep 01, 2023 ⏰

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