Capítulo um

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Eu não sei como…

eu não sei como começar a relatar isso.. como posso dizer que encontrei tal mulher no dia em que o padre me prometeu que o céu cairia sobre nós? Como eu poderia?
    Acho que de toda maneira, devo começar por ela. A mulher mais linda que já vi em toda a minha jovem vida humana. Que deus me perdoe, mas quando ela me olhou nos olhos, aqueles castanhos claros como a cor de uma tempestade outonal... eu poderia jurar que deus era uma mulher. Eu poderia e queria continuar a admirar- la por mais tempo do que pude naquele dia.
     — Irmão... o que acha? — minha irmã perguntou enquanto segurava um dos chapéus que queria comprar. Hanna, era linda como a flor mais bela da primavera, e tinha cabelos longos e lisos como ouro derretido, mas ela sempre o prendia. Hanna tinha uma coisa que sempre dizia... — Sei que não irei me casar um dia, mas quero pelo menos atrair os olhares de bons homens.
      — Nenhum desses homens a merece, minha irmã. — eu respondi. Uma coisa que nunca deixei que minha querida irmã soubesse, era que a fila para seus pretendentes eram tão longas que cobriria toda a extensão da rua, mas eu sempre tratava de resolver isso. Apanhei cada nome, cada pessoa, cada homem, e entreguei aos braços da sorte e de suas enfermeiras. Eu deixei a guerra de lado, para proteger o coração de Hanna, não permitirei que se case apenas pelo bem da família. — E para quê, você iria querer um chapéu tão feio?

— Não diga isso! — ela me repreendeu. Hanna se desculpou com o chapeleiro, e posso jurar por sua expressão que ele havia se apaixonado.
      — Nem pense nisso. — Sussurrei para ele quando comprei o chapéu. O medo em seu velho rosto cheio de rugas e olheiras, me deu uma certa satisfação. Eu sei... não deveria me orgulhar disso, mas os valores morais estão mudando.. com a queda do rei... temos mais liberdade para pensarmos em quem somos, e no que somos quando somos.
— Oh, você comprou o chapéu, mesmo após dizer aquilo? Que irmão bonzinho... — disse zombando da minha generosidade. — Eu tô quase duvidando se é você mesmo neste corpo, querido Johnny.

       — Seja educada, e pare de reclamar. Eu compraria mesmo se fosse a coisa mais feia do mundo, desde que fosse do seu agrado. Você sabe disso. — respondi irritado e envergonhado.

Hanna colocou o chapéu, e ele combinou perfeitamente com seu vestido azul marinho, parecia uma deusa das marés e das noites. Eu me questionei o porquê de não encontrar um homem ideal para ela, e talvez eu estivesse sendo exigente demais... De qualquer maneira, Hanna... ela era boa demais para esse mundo tão cinza. Ela merecia tudo que eu não poderia oferecer, tudo.
Nós andamos por toda a praça, atrás de ingredientes para um bolo, era aniversário de Hailly, a mãe de Hanna, e por mais que não fossemos tão próximos, queria oferecer a ela um dia bom para se lembrar.
            Lembro- me como ontem... minha irmã, desastrada como é, dançava animada como sempre pela rua, atraindo olhares de vários machos de todas as idades. Mas, foi bem ali... naquela rua, que eu e todos eles mudamos o foco de nossa atenção de minha linda irmã, para uma mulher saindo de uma livraria. Ela sorria animada, seus movimentos eram leves, delicados e graciosos, seu cabelo castanho mel, me lembrava alguns aspectos vermelhos ou cor laranja por baixo, sua pele era pálida  e avermelhada pelo calor do sol que beijava ela em todos os cantos possíveis. Mas, foi ela e seus olhos que me derrubaram completamente.
A forma como me olhou, como entrou em minha cabeça, despida e com um beijo suave em minha testa... eu não queria que ela desviasse sua atenção. Não queria que ela fugisse dali, de mim, de nós dois. Ela me sorriu, e virou. Uma única esquina... uma mudança em seu curso, foi o suficiente para eu odiar o homem que criou aquela outra rua, com todas as minhas forças.
Eu poderia… eu queria seguir ela. Mas, não deveria.
   — Ela é linda. — praguejou minha irmã ao notar meu estado. — Deveria ir falar com ela, meu querido John.
     — Eu não devo. — respondi de imediato. —  Eu não a conheço, e sei que ela não apreciaria uma investida tão ousada da minha parte. Seria falta de educação. Além do mais... Hanna, estamos atrasados. Vamos. — Segui meu caminho, em linha reta, mas Hanna me arrastou para a livraria, como se eu fosse a porra de um cavalo sob suas rédeas.
    — Irei comprar um livro para Hailly, tudo bem?

A Queda Das EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora