capítulo 3

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O alvorecer chegou na manhã seguinte, e eu não estava nem um pouco afim de sair da cama. Havia sonhado com Anatalie, e acordei com um desejo sobre humano por ela, por seu cheiro, seu calor, suas ideias. Eu queria conhecer-la mais, eu queria a novamente. Acabei me lembrando que ela morava com Carl, e eu deveria ter de entregar seu cavalo a essa hora, mas isso era o de menos, o que eu queria mesmo era ela.
Essa mulher seria a causa perfeita para me tirar da cama.
Desci sem camisa para o andar de baixo da casa, quando vi a minha irmã escorada na parede me esperando.
   — Olha quem conseguiu sair da cama! — exclamou.
— Vai a algum lugar? — perguntei intrigado passando por ela.
     — Eu vou à cidade comprar um vestido novo.
— Mas, já tem vários. E não pode ir sozinha. — reclamei sem imaginar que tudo aquilo era um plano da minha irmã.
— Eu sei que, mesmo sendo uma mulher adulta, eu não posso ir para a cidade só, mas é por isso que eu estou o esperando. Você me levará até a casa do Carl, a prima dele ficou de me acompanhar em seu lugar.

      — Anatalie irá com você? — perguntei animado, e notando os brilhos se formarem nos olhos de Hanna, rapidamente disfarcei. — Não sabia que vocês se conheciam.
Minha irmã olhou o relógio com certa fuga da situação, depois retornou sua atenção para mim.
— Sim, eu a conheci na igreja. — desconfiei daquilo como um gato ao ver um vulto no armário. Hanna não é de ir a igreja sozinha.
     — Quando foi que você foi à igreja?
— Quando fui com o Carl e com a esposa dele. — me respondeu se afastando da escada.

           — Deixou a Hailly sozinha? — perguntei irritado.
— Ela não estava sozinha. — replicou. — Eu não a deixaria sozinha, você sabe disso mais do que ninguém Jhonny, mas Carl queria que eu saísse um pouco de casa, então me convidou para ir ao batizado de um primo dele. Ele percebeu o quanto eu me sacrificava por ela, e não obtendo resultado nenhum há 4 anos. Você sabe como é. O Carl se preocupa com você também, então ele pediu para uma governanta da casa dele ficar aqui com a minha mãe, para que eu pudesse ir. Eu precisava.
— Eu sei... eu sei disso. Mas… — eu não conseguia encontrar palavras. Hanna tinha razão, eu sabia, mas... — mesmo assim, Hanna... ela é a sua mãe, você sabe disso. Eu não quero que você sofra ou se culpe caso algo acontecer.

— Jhonny, você sabe, eu sei... vai acontecer. Sempre acontece. É inevitável. Nós três sabemos disso, e nem por isso eu deixo de amar- la a cada maldito segundo que o tempo torna isso cada vez mais próximo. Eu a amo mais do que a minha própria vida, mas não é algo que esteja sob o meu controle.

Eu me perguntei quando foi que minha irmã havia ficado tão “sábia", tão adulta. Vi ela se aproximar da porta e cruzar os braços para olhar para algum horizonte que só era visível para ela, eu sabia que ela estava se sentindo culpada. Eu sabia que ela não tinha culpa, eu sabia que ela precisava sair de casa um pouco mais, aproveitar a própria juventude, mas... eu não suportaria em ver Hanna se culpando caso algo acontecesse à sua própria mãe quando ela não estivesse por perto. Me aproximei para abraçar- la, e ela para a minha surpresa não sentia raiva de mim, não estava chateada.
Como eu mesmo disse... não há homem algum sob este céu que seja digno de tal amor.
Nem mesmo eu.

Chegamos a casa de Carl as 8h da manhã, e ele não estava me esperando como de costume. Em seu lugar, estava o mordomo, e ela. Anatalie estava sentada no degrau da escada quando estampou seu sorriso maravilhoso ao avistar a minha irmã atrás de mim. Rapidamente correu para ajudar-la a descer do cavalo e as duas se abraçaram como duas velhas amigas.
       — Achei que iria me pedir ajuda para descer do cavalo hoje também.  — comentou ao me ver descer.
   Segurei uma risada abafada. Não queria admitir que adorava ser provocado por ela.
— É que não tinha avistado sua educação hoje, não queria incomodar-la pedindo por isso. Sabe como é... sou um homem muito gentil.  — respondi com um sorriso estampado na cara, mal conseguindo esconder o motivo.
Os olhos dela eram lindos vistos na luz do dia, tão perfeitos. Queria elogiar-la, mas isso quebraria nossa dinâmica.
— Vejo que se atrasou um pouco, senhor Archeron. — comentou Thomas, humorado. — Se perdeu no caminho?

   — Na realidade... acho que me encontrei. — disse olhando para os olhos castanhos mais lindos que eu já vi em toda a minha vida. Fiquei feliz em vê- la sorrir contidamente quando me olhou de volta. — A propósito: bom dia, senhorita Ford. — a cumprimentei, a provocando.

         — Que homem educado  — comentou provocada.  — Bom dia, senhor Archeron. O senhor dormiu bem? — perguntou se aproximando um pouco mais e colocando a mão no pescoço do cavalo.
        — Eu dormi tão bem que acho que te recomendaria um longo sono na minha cama também. Sabe… te faria ter um bom humor. — respondi a provocando. — Uma pena que eu não posso emprestar.
Hanna segurou um riso baixo.
— Eu não tomo coisas emprestadas, são temporárias. — ela disse chegando mais perto de mim. — Prefiro acreditar que o que é meu... — uma pausa demorada o suficiente para iniciar um longo universo e me fazer ter uma ereção forte o suficiente sem precisar do seu toque. — o que é meu, será meu, querido Jhon.  — seu tom foi um sussurro no meu ouvido.
    Retirei meu casaco e coloquei na cintura para esconder minha virilha. Hanna agora ria contida como se fosse algo errado.

         — Sabe... eu acredito na mesma coisa. — disse ao vê-la se afastar de mim, rezando para que  voltasse.
Mas, não poderia.
    — Vejo que os dois já se conheceram! — A voz de Carl era inconfundível. — Thomas, leve os cavalos para os estábulos.
   — É claro. Bom dia, jovem mestre.
— Bom dia. — disse ao mordomo enquanto ele sumia com os dois cavalos. — Creio que se trouxe sua irmã.. eu imagino que vá ficar? — me perguntou como um convite.

— Eu queria, mas tenho de acompanhar Hanna, e sua querida prima...  — a olhei novamente. Ela sorriu de canto ao notar meu olhar sobre ela. — elas vão comprar um vestido novo.
Hanna parecia estar se divertindo com Anatalie, de uma forma que nunca mais tinha visto.
        — Por mais que um passeio na cidade seja legal, creio que não será preciso. Se Hanna precisa de um vestido para o meu aniversário, eu a darei um. Minha esposa tem vários que quer doar. Anatalie, mostre a ela, por favor. 

     — Espera... como assim, um vestido para o seu aniversário? — perguntei com certa irritabilidade.
— Jhon... você sabe mais do que ninguém, que ela merece isso. Vocês dois merecem. — me disse me olhando nos olhos.
Vi Anatalie e Hanna subirem para dentro da grande casa, enquanto Carl me puxava para uma conversa mais solitária.
      — Carl... você não pode me contrariar, não quando se trata dela, da minha irmã. — exclamei furioso.
— Eu sei disso, mas foi um pedido da mãe dela, não é culpa minha. Eu devo isso a Hailly, só deus sabe o quanto ela me ajudou. — o tom de voz dele era tão calmo quanto o próprio oceano. — Eu sinto muito, eu não podia recusar isso, e você sabe disso. Espero que possa compreender isso.
   — E o que eu devo fazer com isso, Carl? Ela não pode ficar sozinha, e Hanna também não. Você sabe disso. Sabe porque eu sou tão rigoroso com os seus pretendentes. Ela merece ser feliz.

— E você acha que ela estar sendo feliz sendo controlada por você, mesmo sendo capaz de tomar as próprias decisões? Hanna merece aproveitar a própria juventude.Você também merece. Acha que não notei como olha para Anatalie? Como consegue imaginar o mundo morrendo toda vez que a olha nos olhos e como odeia quando ela não estar por perto? Você merece ser feliz, Jhonny. Não pode prender sua irmã para sempre. Você não é a sua mãe.

Eu sabia... ele também estava certo. Todos eles estavam. Mas, eu devia a Hailly... ela não deveria ficar sozinha.
Como se lendo meus pensamentos... Carl me abraçou, como um irmão abraçaria o outro.

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