Primeira fic em colaboração com o projeto mais bonito de HSR <3
Agradecimentos aos maravilhosos Roro pela betagem e Vivi pela capa. Dois perfeitos que merecem todo o amor do mundo <3
AVISOS: A história aqui tratada envolve temas complicados e polêmicos que podem causar desconforto em algumas pessoas, dialogando sobre um amor frustrado entre uma pessoa imortal com mais de 1k de anos de idade e a reencarnação de seu amado que ainda é jovem demais pra que o outro sequer tente qualquer tipo de aproximação. O personagem citado NÃO É de forma nenhuma um predador, escolhendo o anonimato até que o outro possivelmente lembre de sua existência, sendo assim um angst sobre a reflexão da impossibilidade desse romance.
Embora eu odeie a ideia de entregar tudo em um parágrafo, acho importante deixar estas observações para evitar qualquer tipo de entendimento errôneo do tema trabalhado.
Se mesmo assim esse tipo de conteúdo te causa sensações inconvenientes, a leitura a seguir não é recomendada.___________________________________
Não conseguia acreditar no que estava vendo. Era impossível ser uma coincidência, entretanto. Aquele definitivamente era Dan Feng, seu Yin Yue Jun. O homem para quem tinha entregado sua vida séculos atrás, em nome de quem vinha pagando o caro preço da eternidade, Jun estava ali no pátio do internato onde Ren agora lecionava história. Usando o uniforme dos alunos da instituição, o garoto ria com os colegas enquanto brincavam de passar a bola um para o outro. Parecia ter uns dezessete ou dezoito anos, um rosto mais jovial do que a última vez que o vira, como um dragão milenar, há mais de mil e quinhentos anos atrás, mas certamente não se enganaria se o visse novamente. Ren sentiu o estômago embrulhar. O coração batia acelerado e a respiração se tornava difícil. O que fazer?
Na sala dos professores, organizando os planos de aula e exercícios dos alunos, Ren parecia absorto em seus pensamentos. Não que fosse muito comunicativo normalmente, mas pelo menos costumava responder quando os colegas de trabalho dirigiam-lhe a palavra. Kafka não era o tipo de pessoa que se importava com qualquer um além do diretor Elio, mas sabia que algo muito grave deveria estar acontecendo dentro da cabeça do professor de história.
— Ren... — a mulher tocou gentilmente o ombro do homem que a olhou confuso, fugindo de seu transe momentâneo.
— Sim, Kafka, posso ajudar em algo?
— Eu que pergunto-lhe, Ren. Tem algo em que eu possa te ajudar? Você parece ainda mais distante do que o normal hoje. — ela cruzou os braços na frente do peito.
Ren suspirou e negou com a cabeça, forçando um sorriso leve para a mulher.
— Não é nada, só... muita coisa na cabeça.
E definitivamente ele tinha muita coisa na cabeça.
De repente era como se todas as memórias que se esforçou para trancafiar no fundo de sua alma tivessem voltado à superfície. De repente era como se estivesse diante de Dan Feng outra vez, como se o visse partir outra vez, como se o visse morrer outra vez. O luto estava vivo como nunca antes naqueles mil e quinhentos anos.
Lembrava de trançar os longos cabelos dele enquanto o ouvia tocar o shamisen, de envolvê-lo em seus braços sob a luz do luar enquanto ouvia-o contar histórias de tempos imemoriais. Lembrava de chorar ao pensar em como seria ruim envelhecer e morrer, deixar para trás o amor de sua vida a quem seria eternamente ligado. A empatia o destruiu. Não restava mais nada de seu eu original além daquelas memórias. Yin Yue Jun o traiu. Yin Yue Jun se permitiu ser morto e o abandonou com a maldição da eternidade, maldição esta que só aceitou para passar a eternidade ao lado dele. Mas ali estava ele, sozinho há mais de um milênio e meio, abandonado à própria sorte num mundo vasto, imenso e imparável, vendo morrer todas as pessoas que um dia considerou importantes, inclusive Dan Feng, inclusive seu Yin Yue Jun.
Não restou nem ao menos o cheiro dele, o sabor de seus lábios, nada. Sua voz doce à meia noite. Nada. Apenas o vazio, o abandono, a solidão eterna. Nunca mais teve coragem de amar de novo. Por que se envolver quando veria a pessoa morrer em seus braços? Quando a mortalidade separaria seus corpos e suas almas? Por que amar quando a morte lhe tomaria a felicidade outra vez? Talvez nunca tivesse superado Yin Yue Jun. Nunca perdoou Dan Feng.
Mas agora ele estava ali, tão perto e tão distante. Ren sabia que era ele, seus instintos gritavam que era ele. Sabia que os Vidyadhara reencarnavam de tempos em tempos. Quando morriam era como se voltassem a ser crianças, mas o corpo de Yin Yue Jun fora cremado por aqueles que o mataram para evitar que voltasse. Por algum tempo Ren rezou para o Aeon da permanência implorando para que trouxesse seu amado de volta, mas depois de alguns anos acabou desistindo e passou a odiar todos os Aeons.
Mas ali estava ele. Entrando na biblioteca sozinho, escolhendo um entre tantos livros, lendo em silêncio, seus olhos concentrados, os dedos passando as páginas lentamente, roubando toda a atenção do professor que nada podia fazer além de observar e remoer dentro de si as lembranças de um passado cujo final fora infeliz.
O garoto provavelmente não se lembrava dele, não ainda. Talvez quando se tornasse maduro recuperasse suas lembranças, voltasse atrás dele... Talvez não. E se ele se apaixonasse por outra pessoa antes de recordar? Se quando lembrasse do que viveram juntos e do sacrifício de Ren já não tivesse mais espaço para ele em seu coração?
Preso entre a cruz e a espada.
Se fosse até o jovem e lhe contasse sobre o passado, arriscaria parecer um louco, um obsessivo, um pedófilo. Não queria ser um monstro, não esperava que um garoto tão jovem fosse compreender a profundidade de uma vida, de mil e quinhentos anos de sofrimento e saudade, muito menos corresponder aos seus sentimentos. Não se permitiria ser a pessoa que iria tão contra seus princípios a ponto de se envolver com um rapaz de dezessete anos. Mas se não tentasse ao menos explicar a ligação de seus passados, poderia perder a única oportunidade dada pelo destino para que se reencontrassem.
O destino adorava lhe castigar pelo pacto feito quando era jovem. Adorava lhe mostrar que o governo estava certo e que os humanos não foram feitos para viver eternamente.
Castigado por um amor impossível, punido pela eternidade. Preso ao destino de forma irremediável. Ren só podia assistir a vida passar diante de seus olhos e rezar para que Yin Yue Jun se lembrasse dele e sentisse sua falta.
Sua opção de não interferir na nova vida de Dan Feng poderia lhe trazer muitos arrependimentos, mas Ren jamais se permitiria tornar-se um tormento na vida do outro como este tinha sido para si.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Destino Cativo (RenHeng)
FanfictionA maior parte das pessoas simplesmente não pensa em como a imortalidade é uma maldição, e Blade também não pensou nisso quando aceitou tornar-se uma criatura imortal. Porém, depois de perder seu amado Yin Yue Jun, a incapacidade de morrer se tornou...