Imãs de Neodímio

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LOGAN
Está um calor insuportável hoje, um dos dias mais quentes do ano. Decidimos então ir à praia, no caso a Cassie decidiu. Ela e Louis resolveram dar uma festa na casa de praia da família Wright enquanto seus pais estão viajando. Estamos fazendo churrasco e Louis resolveu fritar hambúrgueres também, Tristan está no mar com algumas garotas. Jason vem até mim no quintal e me entrega uma cerveja e deixa outra para Tristan em cima da mesa, Louis que tinha acabado de secar uma garrafa joga o casco dela no chão e captura a cerveja de Tristan antes que ele consiga alcançar, Louis saí correndo pelo quintal em direção à praia e Tristan vai em disparada atrás dele. Tristan o derruba no chão e toma a cerveja antes de sair correndo na direção oposta, dessa vez é Louis quem corre atrás dele, parecem duas crianças atentadas.
O dia está tão bonito, todos estão animados e calorosos. Queria que Amélie estivesse aqui, talvez fosse bom para ela interagir com outras pessoas e fazer amigos, deve ser muito difícil se mudar sozinha para uma cidade nova e ficar isolada assim.
Já faz mais de duas semanas que não vejo Amélie, nem de longe. Tento enviar mensagens mas não chegam para ela, e também não consigo completar as ligações. Sei que está em casa porque Matilda sempre sobe para meu apartamento afim de irritar Archer. –é pois é, esse foi o nome escolhido pelo novo inquilino, bichinho caprichoso. Só queria que Amélie me falasse o que aconteceu, se ela está preocupada sobre o resultado do nosso jogo não precisa esquentar a cabeça com isso. Eu posso entender muito bem que era apenas uma brincadeira, ela não é obrigada a me contar nada, a vida é dela e tem o direito de escolher se quer contar seus segredos ou não. Não quero que se afaste de mim por causa dessa besteira.
–O que aconteceu que você está aí caladão? Não fez nenhuma guerrinha de água com o Tristan ainda. –Jason perguntou por perguntar algo que ele já sabia, desde o dia que Amélie apareceu de surpresa lá em casa ele não me deixou em paz até que eu contasse tudo sobre nossa relação. Que se resumia a nada, já que ela nunca me dá abertura para se aproximar e quando eu achei que pudesse fazer isso, ela vai lá e foge de novo. –É por causa da garota, né? Pelo o que você me contou ela é bem estranha Logan, melhor deixá-la pra lá, não acha?
–Amélie é uma garota normal como qualquer outra, não quero que fique pilhado sobre as coisas que Tristan falou sobre ela e eu te contei. Você sabe que ele é doido. –sorri e ele tomou um gole de cerveja enquanto balançava a cabeça.
–Não quero que meta os pés pelas mãos Lo. –abri minha cerveja também e bebi um pouco tirei a camiseta para um mergulho.
–Por favor não me trate como se eu fosse um menininho emocionado. Ela é só uma garota solitária que precisa de um amigo. –saí sendo seguido por seu olhar desconfiado. Me sentei na areia e molhei meus pés com a água do mar que impressionantemente estava quentinha.
–Ei você, o que está fazendo aqui afastado de todos? –olhei para cima cobrindo o sol com a mão para identificar quem estava me olhando de cima.
–Jullie, ei olá. Como está você? –ela se sentou ao meu lado e esticou as pernas.
–Estou bem, e você como vai? Parece cansado, e que milagre te ver aqui. Você ultimamente não costuma ser muito sociável. –ela arrumou a postura e enrolou uma mecha de cabelo escuro no dedo. –Senti sua falta Logan, parece que até que está fugindo de mim.
–Ela deu um tapinha no meu ombro e sorriu.
–Me permiti tirar uma folga, okay? Também não sou tão anti social assim. Mas e aí o que tem feito? –ela suspirou tomou um pouco do conteúdo azul que tinha em seu copo.
–Acho que não sei direito, estou sobrevivendo. Muita coisa pra estudar na faculdade está tomando todo o meu tempo. –acenei enquanto tomava o restante da cerveja. Sim eu sabia bem como era. –Conheci alguém mês passado a Cassie me apresentou. Tivemos alguns encontros desde então.
–E como foi? –ela pensou um pouco sorriu sem humor e depois disse:
–Uma droga, na verdade. Ele é um cara bacana e os encontros foram bem originais e fantásticos, mas… É que não entendi, simplesmente não rolou. Acho que não consigo tirar outra pessoa da minha cabeça. –ela então me encarou com seus olhos castanhos e eu só poderia ter entendido errado. –Logan, eu sei que combinamos de ser só amigos e não nos envolvermos, sei que não sente nada por mim nesse sentido, mas é complicado. Eu gosto de você e é algo que não posso controlar.
Eu fiquei sem a menor reação nem conseguia me mexer, então depois de me encarar por alguns segundos Juliette se aproximou de mim e selou nossos lábios, fiquei quieto para não provocar nenhum movimento brusco, então encostei minhas mãos delicadamente em seus ombros e a afastei gentilmente para longe.
–Jullie? –a chamei e ela encontrou meus olhos antes de desviar para seu colo.
–Ai meu Deus Logan! Eu sinto muito, eu não… não devia… quer dizer olha eu gosto mesmo de você. –ela então respirou profundamente e olhou para o horizonte diante de nós. –Mas você não sente o mesmo e concordamos em ser só amigos, é que sei lá. Achei que talvez pudéssemos tentar?
Ela me olhou com um fio de esperança ainda pendurado entre nós.
–Eu sinto muito também Julie. Mas somos melhores como amigos, por favor não faça com que eu me afaste de você por não entender isso. –ela acenou com a cabeça e depois abaixou e continuou assim por um tempo. –Mas ei, está tudo bem. Ainda sou seu amigo, não precisa se preocupar, eu só não quero que você se machuque.
Coloquei uma mão em seu ombro e ela olhou para mim.
–Obrigada. Eu agi sem pensar, prometo que isso nunca mais vai se repetir. Você é um cara muito bacana. –sorri pra ela que retribuiu.
–Você vai encontrar um cara legal, Jullie, tenho certeza. Uma garota incrível como você merece alguém legal, que lhe ame e lhe mereça, entendeu? Não aceite nada menos do que isso. –Julie se inclinou e me deu abraço e sussurrou "você é o cara mais incrível do mundo" depois me soltou e foi procurar Cassie.
Voltei o olhar para o Sol já se pondo à minha frente ele mergulhava direto no oceano e de repente já tinha desaparecido, e o roxo se transformava em um tom de azul escuro com lindos pontinhos brilhantes já se posicionando.
Enquanto admirava as estrelas elas se transformaram em uma linda constelação única, que eu nunca tinha enxergado no céu antes, mas com certeza seriam as mais preciosas de todas. As lindas pintinhas no rosto de Amélie tinham me encantado e me fizeram pensar em como suas sardas são um mapa das estrelas.
–Aí Lo, para de ser encostado e vem ajudar a acender a fogueira! –olhei para Louis por cima do ombro e ele cruzou os braços pra minha falta de ação. –Se demorar muito vou ai te jogar na água.
Com plena certeza de que ele sem dúvidas faria isso levantei e saí para o quintal onde a festa se mantinha a todo vapor, com muito mais gente do que eu me lembrava e sem nenhuma probabilidade de acabar.
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Era bem mais de duas da manhã  quando as pessoas começaram a ir embora. Todo mundo estava muito bêbado e a maioria pediu Uber ou que o amiguinho mais sóbrio do grupo o acompanhasse. Eu não tinha bebido nada além das duas cervejas que Jason e Louis me serviram, como os outros estavam curtindo eu resolvi ser o responsável da vez, porque sempre era necessário que um de nós ficasse nesse papel. Depois que os convidados foram embora ajudei o pessoal a ir para os quartos e me deitei no sofá cama da sala, já que Julie estava em um quarto de hóspedes, Cassie e Jason no principal e os meninos no quarto que tinha beliche. Aprontei a cama com lençóis limpos e me cobri, estiquei o braço e peguei o celular que estava em cima da mesinha de canto. Entrei no aplicativo de mensagens e rolei até a conversa com Amélie, nenhuma resposta, nem mesmo uma visualização para me garantir que estava tudo bem.
Larguei o celular na mesinha novamente e me aconcheguei para dormir. Quando finalmente consegui cair no sono e as profundezas do inconsciente me puxavam, ouvi uma vozinha bem fraca sussurrando no meu ouvido: Não durma Logan… fique em alerta… no momento em que abri os olhos meu celular tocou, verifiquei a tela mas era um número desconhecido. Imaginei ser maluquice da minha cabeça então resolvi tomar um copo de leite. Quando passei na porta da cozinha o aparelho tocou de novo e antes que eu pudesse atender a ligação caiu.  Então caminhei de volta para a sala e peguei o aparelho da mesinha segurando com força. Esperei um, dois, três segundos e já estava desistindo, mas ele tocou e eu atendi de primeira.
–Alô? –silêncio. Conferi o celular mas a ligação estava ativa. –Alô, quem é?
Tentei mais uma vez.
–Se for um trote eu juro que você vai ta muito fodi…
–Logan, sou eu. Amélie. –fiquei surpreso de primeira mas também um pouco aliviado por ela ter entrado em contato. –É que eu saí ontem à tarde para dar uma volta e comer uma sobremesa famosa na cidade mas… é que agora não faço ideia de onde estou e eu nem comi a sobremesa.
Ela deu uma risadinha nervosa e eu notei seu desespero.
–Amélie Caramba, o que aconteceu? Onde você está? Tá tudo bem? –me desesperei por imaginar ela perdida em uma cidade desconhecida e que na sua cabeça não tinha para quem pedir ajuda.
–Desculpa, não sabia pra quem mais ligar. Você poderia vir me buscar… por favor? –sua voz estava trêmula, será que estava em um beco escuro ou na beira da estrada? Decidi perguntar pessoalmente, não sabia onde ela poderia estar até em perigo.
–Sabe identificar onde está? Tem algum ponto de referência aí…? Não sei, algo chamativo?! –ela ficou em silêncio parecia estar procurando.
–Eu… eu não sei… na verdade não faço ideia de onde estou. E não tem nada aqui só um ponto de ônibus no final da rua… –merda, ela estava perdida. Precisava pensar, onde Amélie poderia estar?
–Certo, há quanto tempo está andando? Você se lembra de ter visto algo no caminho? Uma placa ou um prédio grande, talvez? –conseguia ouvir sua respiração do outro lado da linha, ela parecia muito assustada.
–Ei, não precisa ficar com medo. Eu vou achar você, tá? Mesmo que não faça a mínima ideia de onde esteja, eu  prometo que não vou te deixar perdida. Tá bom? –Amélie pareceu se acalmar um pouco então concordou. –Certo, agora se acalme e tente pensar, tá? Qual o último lugar que você se lembra de ter passado? –a ligação ficou em silêncio novamente e parece tempo demais. –Amélie?
–Ainda estou aqui Logan. Olha eu pensei um pouco e acho que me lembro de um outdoor. –ela suspirou e ficou em silêncio de novo antes de continuar. –Tinha maçãs… maçãs enormes e um cara bem sorridente com cabelo grisalho. Se não me engano já vi um desses no centro da cidade, tinha algo escrito também… Ah! Estava escrito: "Bem vindo a vermelho maduro, a fazenda das maçãs mais bonitas e apetitosas de todo o interior da Califórnia.
Em 25 km a direita você poderá identificar nossa linda fazenda, aproveite a viagem."
–Ai meu Deus. E quantos quilômetros você já passou depois disso?
–Não me lembro.
–Você está no interior? Consegue identificar em qual cidade?
–Não, eu não sei.
Ela já estava ficando nervosa novamente e eu me esmurrei mentalmente por isso.
–Certo, desculpa. Eu já estou saindo, vou jogar no Google.
–Okay, só por favor não desligue, ta bom? Não quero ficar sozinha.
–Não vou te deixar sozinha Amélie, é uma promessa, e eu só faço promessas que tenho absoluta certeza de que vou cumprir.
–Venha logo, por favor.
–Estou indo. –peguei então minha mochila que estava no canto da sala e vesti uma calça e um moletom, catei as chaves e a carteira e zarpei para fora de casa o mais rápido que consegui. Liguei o carro, coloquei o endereço que encontrei no gps e saí em disparada sem fazer a mínima ideia de onde Amélie poderia estar e se estava em perigo ou até mesmo machucada. Só tinha certeza de que eu ia achá la porque a sensação que eu tinha de já conhecê-la antes era bem mais que só um sentimento confuso. Eu sentia que éramos como ímãs de neodímio, porque não importava a distância que estivéssemos, nossa força magnética não poderia ser quebrada, eu sempre ia acabar sendo puxado para ela.
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Eu estava na estrada há horas e parecia que não chegava nunca. Amélie tinha ido parar simplesmente em Laguna Beach no interior da Califórnia. Um total de 1 hora e 25 minutos de carro até lá 80,7 km de distância. Não é muito, mas é estranho pra cacete ela ter vindo parar aqui. Tudo sobre Amélie consegue ficar cada vez mais estranho, seja a aparição repentina sei lá de onde, e como se tivesse saído do nada para cá, ou a forma assustada que ela age, o motivo de ter ido na minha casa àquele dia e eu nunca ter perguntado e por isso não saber o motivo. O sumiço e em fim o reaparecimento estando perdida em um lugar desconhecido depois de sair sozinha.
Hoje eu vou querer saber tudo, mesmo que não fosse minha intenção usar a carta branca porque queria respeitar suas decisões. Mas agora não dá mais, não posso deixar isso pra lá, já me envolvi e não consigo deixar de me preocupar com ela, tenho que saber o que Amélie esconde.
Voltei a prestar atenção na estrada e finalmente avistei a bendita placa, pelo o que parece ela saiu a pé, e como não sabia me falar o quanto já tinha andado depois da placa, tudo o que me restava era rezar para que ela não tivesse ido muito longe. E o pior é que o celular dela acabou descarregando e não conseguimos mais manter contato.
Saí devagar com o carro tentando ver o ponto de ônibus que ela mencionou, uns 20 metros pra frente eu a vi, parecia tão minúscula e frágil encolhida no banco de metal, que me senti um cretino infeliz por cogitar a opção de colocá-la contra a parede só para alimentar minha maldita curiosidade.
–Amélie! –chamei enquanto descia do carro. No mesmo momento percebi que a temperatura estava mais baixa então apanhei um moletom que estava no banco do passageiro e fui até ela que levantou a cabeça quando me viu e ficou de pé. –Você está bem? Está machucada? Tome, vista isso, está esfriando.
Ela somente balançou a cabeça indicando sim e não para minhas duas perguntas, mas continuou em silêncio e vestiu a blusa.
Em seguida a guiei até o carro mas ela ainda se mantinha quieta.
–Vou te levar pra casa agora. –ela balançou a cabeça de novo e a encostou no vidro, liguei então o motor e dei a volta para fazer o retorno. –Olha, você não precisa me falar nada, tá? Não é da minha conta, mas eu queria entender o que aconteceu hoje, porque veio parar aqui? Você foi comer uma sobremesa no meio da rodovia?
Olhei Amélie novamente mas ela estava exatamente igual, decidi esperar seu tempo, quando ela quisesse me contar iria contar, pelo menos era o que eu esperava.
Voltei a prestar atenção na estrada e de repente a chuva começou cair no parabrisa. Depois disso o carro deu um pequeno solavanco e um dos pneus parou de funcionar. Que ótimo, tudo de melhor acontece nas horas certas.
–Mas que caralhos! –xinguei entre dentes e notei Amélie se mover pelo canto do olho.
–O que aconteceu? –eu a encarei e ela parecia confusa com minha mudança de humor repentina. Então decidi respirar fundo.
–Acho que o pneu furou.
–E você não tem um estepe?
–Então, é que possivelmente o que furou agora é o estepe. –encostei a cabeça no banco e tentei alinhar meus pensamentos para encontrar uma solução e nos tirar dali.
–Olha se não me engano deve ter um posto de gasolina um pouco à frente. –olhei para Amélie tendo certeza do ponto de interrogação estampado em minha testa. –Eu me lembrei que vi uma placa à esquerda da estrada, você não viu quando estava vindo?
–Não, porque eu estava olhando freneticamente para o lado direito procurando o outdoor. –ela sorriu como quem sabia que tinha pisado na bola. –De qualquer forma não tem problema, eu vou lá ver se tem alguém que possa nos ajudar. Você, fique aqui dentro.
Consegui colocar o carro no acostamento e depois comecei tirar o cinto.
– Você não imagina que eu vá ficar aqui sozinha de novo, não é?
–É melhor, não quero que fique doente e está chovendo muito.
–De jeito nenhum, eu vou com você. –ela me encarou séria com seus grandes olhos verdes que eram refletidos pela luz dos faróis que batiam na água da chuva.
–Tá! Mas põe o capuz e fica do meu lado.
–Pra onde mais eu iria? Não dá pra te perder de vista tão fácil, você é um ótimo ponto de referência. –ela abriu um lindo sorriso com direito a covinhas e nariz franzido enquanto eu exibia minha expressão incrédula.
Revirei os olhos e ela riu da minha cara.
Saímos do carro e começamos a andar, poucos segundos e já éramos dois pintos molhados. Avistamos um posto de gasolina há uns dois quilômetros e continuamos andando com a chuva torrencial quase nos afogando. Entramos no posto e notei que um pequeno hotel também funcionava ali ele tinha uma placa de aberto na cabine de atendimento. Me aproximei com Amélie logo atrás de mim e toquei a campainha. Uma mulher loira apareceu sorridente na janela.
–Olá, boa noite. Bem vindo ao Peônia. Seu local de abastecimento com o melhor combustível da cidade e também o ponto de pouso para viajantes cansados. –ela me olhou sorridente antes de prosseguir. –O que deseja senhor?
Ela era jovem, não da nossa idade mas também não muito mais velha. Era bonita e bem charmosa, uma mulher muito atraente mas também muito exibida e arrogante.
–Estávamos viajando e o pneu furou, sei que não é uma oficina mas será que não teria ninguém que pudesse nos dar uma ajuda? –ela se afastou um pouco da janela e deu um sorrisinho antes de tirar o telefone do gancho.
A moça discou um número e rapidamente começou a conversar com a pessoa do outro lado da linha. Não conseguia entender o que estavam falando porque era em outro idioma. Depois de alguns minutos desligou e voltou para a janela novamente.
–Meu irmão vai ajudar você. Mas ele só volta amanhã e disse que você precisa alugar um quarto. –a moça sorriu e aproximou o decote do vidro, consegui ler seu nome no crachá de identificação. Maya.
–Então, Maya não é? –ela acenou com a cabeça. –Certo, que garantia eu tenho que seu irmão vai ajudar com o carro se eu alugar um quarto?
–Nenhuma, mas se não fizer isso não só ficará sem voltar para casa hoje como também não consertará o carro. Não tem mais ninguém em um raio de 30 quilômetros queridinho. –ela passou a mão por debaixo do vidro e acariciou meu braço. –Mas se você preferir posso te acompanhar até meu apartamento quando meu turno acabar.
Puxei o braço para longe e dei um passo atrás, me senti tão desconfortável que cravei meu olhos no chão e mais senti do que vi Amélie colocar a mão no meu ombro e ficar ao meu lado. A observei de soslaio e ela encarava a mulher que até o momento não tinha se dado o trabalho de notar sua presença. Ela se aproximou da janela e Maya mirou seus olhos nela com a expressão não tão mais satisfeita assim.
–Com licença, nós vamos querer um quarto, por favor. Meu namorado e eu estamos muito cansados, se o seu irmão não puder nos ajudar não tem problema, amanhã daremos um jeito, só precisamos dormir. –Amélie sorriu para Maya que lhe devolveu um sorriso amargo com lábios cerrados.
Ela então pegou as chaves do quarto e olhou para mim novamente e depois para Amélie.
–Qual será a forma de pagamento? –Amélie pegou a carteira da bolsa e eu me aproximei dela para impedila mas ela não se intimidou e tirou duzentos dólares do compartimento.
–Dinheiro. –ela espalmou as duas notas de cem em cima do balcão e Maya as recolheu em seguida. Decidi não contestar, Amélie não parecia o tipo de garota que deveria ser contrariada.
–Certo, vou acompanhá-los até o quarto. Maya saiu da cabine e nós a seguimos enquanto suas pernas longas e familiarizadas com o local se apressaram na frente.
Quando ela saiu do quarto e bateu a porta, um silêncio ensurdecedor se espalhou. Um velório estaria mais barulhento do que o quarto em que estávamos. Amélie então se aproximou da cama de casal e começou a tirar os tênis. Andei até a janela e fiquei de costas para ela. Acabei me cansando do silêncio e resolvi perguntar:
–O que foi aquilo na recepção?
–O quê? –me voltei para ela que tinha retirado as roupas pesadas e estava de camiseta e calça jeans, também encharcadas.
–”Meu namorado e eu"? –ela ficou vermelha e desviou o olhar para a mochila.
–Aquela desconhecida estava te assediando Logan, e pelo o que me lembre você também ficou bastante desconfortável com isso. Se fosse um homem me tratando daquele jeito você não teria agido igual? –não, teria agido muito pior. Quebraria a cara do desgraçado no mesmo instante.
–Certo, mas não precisava pagar pelo quarto, eu poderia ter feito isso. –ela me encarou novamente e eu notei como seu cabelo estava lindo molhado. A pontinha do seu nariz também estava vermelha e suas pupilas dilatadas por conta da luz baixa.
–Não tem problema, você veio até aqui por minha causa, eu que nos coloquei nessa situação. É o mínimo Logan, porque nem fazendo isso eu poderia compensar o que fez por mim hoje. Sinceramente, quando liguei pra você achei que era loucura, que você iria desligar na minha cara. E eu bem que merecia. Obrigada por não ter feito isso, e também por ter aparecido para me buscar, faz um bom tempo que não tenho alguém para cuidar de mim assim. –ela me olhou diretamente nos olhos e eu não consegui desviar, apesar disso resolvi mudar o foco da conversa.
–Mas tinha que ser tão exibida daquele jeito? –ela me olhou confusa e eu ri, fazendo um gesto para imitá-la na recepção. –"Dinheiro!" Não podia só ter passado no cartão de crédito? A moça pegou as notas com as mãos tremendo.
Caí na gargalhada e ela acabou me acompanhando.
–Você é um imbecil Logan Harrison. –ela pegou um suéter que estava na mochila e foi em direção ao banheiro. Depois de uns dois minutos saiu na porta já vestida no suéter e confessou: –A verdade é que não tenho cartão de crédito.
–Inacreditável, como alguém não tem cartão? Você é tão antiquada que ainda usa o velho método medieval para efetuar pagamentos? –ela me dá as costas e volta para o banheiro.
Em seguida grita pela brecha da porta: –Se fosse você trocava de roupas logo, ou vai pegar um resfriado. -depois volta para o quarto somente com o suéter, que pelo menos fica na altura dos joelhos.
Passo por ela rapidamente e entro no banheiro. Quando me olho no espelho do armário estou sorrindo feito um idiota, tento mas não consigo apagar a expressão do meu rosto. Estou feliz.   Feliz por vê-la de novo, e por saber que está bem. Feliz por perceber que talvez ela já faça parte da minha vida. Feliz por descobrir que temos uma conexão, mesmo que eu ainda não saiba o motivo disso.

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⏰ Última atualização: Sep 01, 2023 ⏰

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