Capítulo II: Sequestro de camelos - Parte I.

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O calor é sufocante assim que desço do carro, umedecendo meus lábios secos, dando a volta para me aproximar e abrir a porta do passageiro, ajudando Yve a descer com um Märk sonolento em seus braços. O que com certeza era uma tarefa fácil, até que ela sorriu para mim, enquanto eu pegava a bolsa do bebê no banco de trás, o que me pegou desprevenido e me fez sentir meu coração descontrolado.

Engolindo em seco, fingi normalidade e mentalmente agradeci aos céus por estar usando meu véu, ao sentir meu rosto esquentando.

Seis meses de namoro e ainda ajo como se fosse a primeira semana?

Espero e torço para que seja normal me sentir assim, ainda mais quando Yve também parece ficar ligeiramente tímida de vez em quando, em alguns momentos específicos, como quando a apresento para alguém, ou quando fiz com que se apresentasse para minha irmã, por videochamada.

Por falar em minha mulher, ao encará-la cogito pedir para carregar Märk em seu lugar. Mas tenho certeza que pela forma com que ultimamente está emotiva e muito apegada ao menino, como se fosse atingir os dezoito anos em uma noite de sono, ela negaria.

O que não seria muita surpresa, visto que está crescendo muito em pouco tempo.

Märk puxou o lado da família de sua mãe — pelo que minha mulher me ensinou, homens e meninos samoanos são naturalmente maiores em tamanho, e às vezes até parecem mais velhos do que a maioria — então, mesmo com tenros nove meses, já está enorme, o que faz com que precisemos ouvir a comentários como “Foi parto normal?” e “Nossa, ele puxou para o lado do pai!”, quando alguém que não nos conhece, decide perguntar sobre ele.

Confesso que ficou lisonjeado e ligeiramente orgulhoso, quando ouço a segunda pergunta.

O que não mudou em Märkyg foi sua constituição, o bebê é rechonchudo e fofo, tem os olhos monólidos e espertos, tão grandes que é possível ver as cores castanho e azul de suas íris, e um corpinho macio; tanto que às vezes me pego lhe encarando com uma vontade enorme de abraçá-lo durante horas.

E até faço isso, mas só quando minha mulher tem alguns segundos de distração, que me permitem roubá-lo para mim.

O tamanho de Märkyg também faz Yvennia ter que segurá-lo com os dois braços, enquanto caminhamos para fora do espaço que foi destinado a ser um estacionamento ao ar livre, lotado de carros empoeirados.

Mesmo que a mulher de grandes e monólidos olhos, em que há uma esperteza maliciosa sempre presente, não possa ver minha expressão, sorrio de maneira contida quando joga uma mecha do cabelo cacheado para detrás do ombro tatuado, murmurando algo sobre estar arrependida por sair com ele solto.

Caminho devagar, mantendo meu corpo sempre perto e apenas alguns centímetros atrás do de Yvennia, quase como se fosse seu segurança particular.

Instintivamente olho para os lados algumas vezes, fazendo varreduras superficiais, apenas para garantir que se houver aproximações estranhas, estarei pronto para sacar a Glock 3.9mm enfiada na parte detrás do cós de minha calça.

Será que ele já chegou? Porra, ele me paga, era pra aquele arrombado tá aqui, me esperando logo na entrada!

Além de querer manter Yvennia segura, também estou nervoso e minha mente não para de me levar a pensar no Tenente Caveirinha, minhas palmas ficam geladas somente por pensar se o que pretende me dizer é uma má notícia.

Então com um exalar pesado, me obrigo a controlar minha respiração, desligando o nervosismo, fingindo para meu próprio cérebro que não sei o motivo de termos vindo.

— Tá devendo, Konrad? — Yvennia pergunta, me fazendo perceber que estava aéreo.

Se recompõe, homem!

𝙳𝙴𝚂𝙴𝚁𝚃 𝚁𝙾𝚂𝙴.Onde histórias criam vida. Descubra agora