Capítulo VI: Arrancaria seu coração.

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Um suspiro cansado me escapa, aperto e massageio minha nuca, enquanto acompanho Yve, que entra em meu alojamento. Depois de eu ter saído na mão com um daqueles bostas, nós decidimos não continuar no refeitório e aproveitar as próximas horas livres, aqui com Märk, ou então em seu próprio alojamento.

Por mais que provavelmente não iremos ter vontade de ficar parados em frente a uma tela, assistindo um filme, depois daquilo.

Tranco a porta e arranco meu véu, o jogando no chão, tiro também o colete a prova de balas, os porta-facas, coldres de perna e as botas, os deixando junto ao véu. Sinto um alívio do cacete por estar livre, então cruzo meus braços, apoiando minhas costas na porta, assistindo enquanto Yve faz o mesmo, após deixar um Märkyg sonolento deitado no sofá, com Max, que imediatamente se enfia entre as pernas do menino e também descansa a cabeça sobre as patas para dormir.

— Quer conversar, Mausi? — Pergunto em uma voz baixa e ela apenas acena com a cabeça, sem me encarar.

Estou decidido a deixá-la ter seu tempo para falar algo, mas então ouço um soluço baixo e meio abafado, seus ombros tremem. Franzo minhas sobrancelhas e antes que possa perguntar algo, ela se endireita e caminha até onde estou, encarando o chão.

Seu rosto bate contra meu peito em um abraço que de tão apertado é quase desesperado, meu coração se aperta e o choro aumenta tanto que de uma forma quase automática, a abraço de volta a puxando para cima de um jeito que a seguro em meu colo, sentindo seu rosto se afundando em meu pescoço.

Suas pernas pressionam os lados de minha cintura, enfio meus dedos em seu cabelo e faço meu melhor, para lhe acalmar com um carinho lento. Após alguns minutos de um choro alto — que me parece ser de pura revolta e mágoa, sem contar a raiva provavelmente guardada a muito tempo — ela deixa a gola de minha camisa preta encharcada. Yve soluça novamente, puxando uma respiração estrangulada.

— Pode continuar, se quiser. — Sussurro, sorrindo de maneira reconfortante.

Yve separa o rosto de minha pele e sorri, um pouco envergonhada, encarando minha camisa.

— Não, acho que já bati minha cota de hoje… e também do resto do ano. — Sua voz sai um pouco estranha por conta de seu nariz entupido, mas inspira e murmura: — Desculpa por não ter te contado, querido.

— Não tem problema — A carrego até me sentar no sofá, com ela ainda montada em mim, tentando se manter respirando pela boca. —, você não precisa me falar, se vai te fazer mal.

— Mas eu acho que quero. — Ela sussurra, e eu aceno em afirmativa. Demora alguns momentos encarando minha camisa, e como se fosse deixá-la mais a vontade, Yve deita a cabeça em meu peito, me abraça e começa a murmurar: — Eu não o matei, só por ter me deixado e não querer assumir Märkyg… mas porque mesmo comigo grávida e me recuperando da última surra que tinha levado, por ter contado sobre a gravidez, mesmo morrendo de medo, tinha achado um jeito de ir para um lugar longe dele, mas ainda assim o desgraçado foi atrás de mim no meu alojamento e me espancou, ele achava que assim iria me fazer abortar e até falou que continuaria comigo… caso acontecesse. Como se eu fosse voltar para o desgraçado, que me engravidou em um estupro! — Suas palavras são como facas em meu peito e ouvidos. Coloco meus dedos em sua cabeça novamente, também massageando suas costas, a apertando contra mim como se aquilo fosse diminuir esse amargo de minha boca. — Eu fingi um desmaio e, quando ele estava saindo, peguei minha arma de onde ele tinha jogado, e ainda caída atirei nele, no momento eu nem consegui sentir alívio, mas hoje eu vejo que foi a melhor coisa que fiz! Enfim, quando estava minimamente fora de perigo de ter um aborto ou me suicidar, fui levada para depor e acabei absolvida do homicídio doloso que tentaram me imputar, porque consideraram legitima defesa, e o fato de precisar ser internada logo depois, ajudou, mas Victor ainda acha que fiz errado… passei a gravidez inteira com risco de perder meu bebê, sentindo tanta dor que era até insuportável e Märkyg só tá vivo por milagre, quando conheci Daphne, estava grávida de um mês e ainda tinha hematomas por todo o meu corpo, durante toda a minha gravidez chorava por madrugadas inteiras porque Märk não se mexia ou chutava como os outros bebês, e ela me consolava, estava comigo até quando o médico me disse que por seu coração estar batendo extremamente fraco, suspeitava que Märkyg não aguentaria e iria morrer durante a noite, sem ela, não sei se teria conseguido passar por tudo isso… mas aquele broxa escroto, pedaço de bosta maldito mais sem utilidade que já tive o desprazer de conhecer, um saco de lixo do caralho, tem coragem de dizer que foi errado matar aquele monstro!

𝙳𝙴𝚂𝙴𝚁𝚃 𝚁𝙾𝚂𝙴.Onde histórias criam vida. Descubra agora