Eu tenho mil e um motivos para odiar John MacKenzie.
Ele é frio, mal humorado, ignorante e por último e mais importante, está me devendo cinquenta libras há mais de cinco anos!
Nos conhecemos na faculdade, John cursava direito e como todo outro estudante do curso, ele era insuportável. Infelizmente esse imbecil era o melhor amigo do meu irmão, e tínhamos que conviver todo santo dia. Final de semana na praia? John Mackenzie estava lá. Noite de filmes no MEU dormitório mesmo que eu deixasse claro que abominava sua presença? Ele estava lá. E como pai solteiro, June estava sempre com ele, menos nas noites de bar que ele raramente participava.
Filmes de terror viravam filmes da Barbie, e filmes de romance que tinham um beijo minimamente insinuoso eram automaticamente trocados pela sequência de Shrek. Não que eu achasse ruim sinceramente; June sempre foi uma criança gentil e engraçada de estar perto, o que é um mistério já que o pai dela é um pau no cu de chato.
Eu cheguei a ficar de babá para ela em alguns momentos, quando John tinha um seminário importante por exemplo, e precisava ensaiar por horas sem a filha brincando de faz de conta e jogando bola dentro de casa. Ele por algum motivo confiava em mim o suficiente para levar ela para o parque de diversão, para tomar sorvete ou então ficar comigo na livraria que eu trabalhava na época. Para os outros, June era minha filha, eu mentia a idade dela já que se falasse a verdadeira eu tecnicamente a teria tido com treze anos.
Quando descobri que estava grávida, cinco meses antes de terminar a faculdade, me senti perdida. Para dizer o mínimo. Eu estava desesperada, vomitando o dia todo de ansiedade e medo. Eu sabia quem era o progenitor de Alice, um cara suíço que eu ficava de vez em quando. Obviamente usávamos proteção e eu ainda tomava anticoncepcional quando suspeitava que a camisinha tinha estourado. Mas naquela noite, eu estava tão alterada que não fiz questão de checar, e o gringo do caralho não fez questão de avisar como sempre fazia. E sem camisinha estourada, sem anticoncepcional tomado. O resultado? Um bebê a caminho e um filho da puta voltando para a Suíça por "problemas familiares".
Eu pensei em acabar com a gravidez, várias e várias vezes na verdade. Eu era uma jovem de vinte e três anos que estava terminando a faculdade, em um país diferente e sem família nenhuma além de um irmão baiano de consideração. Eu tinha apenas alguns meses para me preparar para a chegada da uma criança, correr atrás de pacientes para depois de conseguir o diploma e me cadastrar no British Psychological Society.
Eu precisava trabalhar cinco vezes mais para juntar um dinheiro quase insignificante para cuidar de um recém-nascido.
Colocar para adoção nunca foi uma opção, então ou era aborto ou era criar. Escolhi a segunda um pouco antes de completar os três meses e depois disso não olhei mais para trás, não me arrependi nem por um mísero segundo.
Os primeiros meses foram uma tortura.
Com a Ally recém-nascida, uma quitinete minúscula, o cansaço me fazendo beirar a intensidade e só cinco pacientes para atender na semana, eu achava que não iria conseguir.
Eu até pediria que John olhasse minha filha por pelo menos duas horas para que eu conseguisse abrir a minha agenda para mais dois pacientes, no entanto ele tinha se mudado logo após o fim da faculdade. Ele simplesmente foi embora, levando June com ele. Não fez questão de dizer tchau ou sequer deixou eu me despedir de sua filha a quem eu tinha me apegado.
Luiz, meu irmão, era quem ficava de olho em Ally quando ela já tinha alguns meses, para que eu pudesse atender mais gente e ganhar um dinheiro a mais. Eu queria que minha filha tivesse e fizesse o que queria, não apenas aquilo que precisasse. Luiz trabalhava em home office na maior parte do tempo, além de morar na quitinete ao lado o que facilitava muito nossa rotina.
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Lina Castro Não Quer Saber do Amor.
RomanceEvangelina Castro da Silva, ou Lina, como prefere ser chamada, conseguiu uma bolsa de estudos para estudar Psicologia na Universidade de Edimburgo, na Escócia, quando tinha apenas dezoito anos. Desde o início da adolescência, Lina sonhava com o suce...