Dezembro de 1990, um ano após O Dia Em Que a Balança Pendeu.
A cozinha era pequena e abafada, cabia somente dois armários, uma geladeira, um fogão e uma mesa pequena. As paredes brancas estavam manchadas pelo mofo e a luz estava sempre queimando, mas mesmo assim, eles viviam felizes naquele lugar.
Mia cortava o tomate quando escutou uma melodia conhecida vinda do rádio, ela sorriu e esticou-se até o balcão que separava a cozinha da sala para aumentar o volume.
Stayin' Alive preencheu o pequeno apartamento. Mia estava voltando a cortar quando um gritinho chamou sua atenção. Sorrindo ela olhou para trás, onde seu filho estava sentado no chão lotado de brinquedos. O bebê deu uma risadinha e balançou o corpinho gordinho. Mia riu e largou a faca para segurar seu filho.
Mãe e filho não se pareciam em nada. Enquanto Mia tinha cabelos castanhos longos e olhos pretos comuns, seu filho nascera com cabelos brancos espetados e olhos azuis. Os médicos haviam dito que era um caso raro de albinismo, mas para ela isso tinha um significado maior, uma benção talvez, era uma pena que Hiro não tivera a chance de conhece-lo.
Mia rodopiou pela cozinha e o bebê riu alto. Os dois continuaram dançando e gargalhando por mais alguns minutos, até Mia começar a sentir um cheiro de queimado vindo panela que ela definitivamente tinha se esquecido. Ela correu e apagou o fogo, suspirando de alívio ao perceber que não tinha perdido a carne por completo.
— Que bom, não é mesmo? — perguntou, olhando em seguida para seu filho.
Contudo, o menino estava virado, encarando a porta da frente.
— Satoru?
O bebê virou-se de volta e bocejou, encostando-se no ombro dela e fechando os olhinhos. Mia franziu o cenho, aquilo não era normal, ele tinha acabado de acordar.
A campainha tocou. O som assustou Mia que quase derrubou o filho.
Andando devagar, ela aproximou-se da porta e olhou pelo olho mágico. Do outro lado, uma senhora encarava a porta de braços cruzados.
Ela era bem velha, seu cabelo longo já tinha ficado completamente branco e mesmo assim, continuava bonita, com o olhar imponente e o queixo pontudo.
— Quem é?
A velha revirou os olhos.
— Me chamo Keiko Gojo.
Mia deu um passo para trás. Impossível, pensou, Hiro me disse que toda a sua família tinha morrido.
— Desculpe, mas...
— Ah, cala a boca menina, tô sem paciência hoje.
A raiva subiu pelo corpo de Mia, porém, seu corpo gelou em seguida quando a maçaneta da porta torceu e espatifou. Ela recuou e apertou seu filho, Satoru encolheu-se.
A mulher escancarou a porta e entrou sem cerimônia. Ela vestia um quimono azul claro com bordados em prata, uma tira azul escura fechava a roupa. A velha a olhou de cima a baixo. Mia fez o mesmo.
— Saí daqui, sua velha feiosa.
Keiko nem mesmo piscou, depois do rápido exame em Mia, ela só tinha olhos para o pequeno Satoru. A mãe o apertou com mais força.
— Seja lá o que for, nos deixe em paz ou então eu mato você.
A velha desviou o olhar e encarou Mia com os olhos brilhantes de uma rainha. Um sorriso doentio nasceu no rosto dela.
— Você tem noção do quão especial seu filho é?
— Claro que sim, por...
— Não, eu não acho que tem, então me deixe dizer — Keiko deu um passo à frente. — Seu filho herdou as duas técnicas do nosso Clã, ele é o feiticeiro mais poderoso dessa era. Esse pequeno menino aí modificou o equilíbrio natural desse mundo, não é certo deixar ele vivendo aqui com uma mãe humana.
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Nós Nascemos para Morrer
FanfictionAntes de Shibuya, antes de Yuta Okkutsu e até mesmo antes de Riko Amanai, a história de Geto e Gojo começou. Aos dez anos, Geto descobre ter uma habilidade única e rara ao mesmo tempo que percebe um mundo cheio de maldições. Em contrapartida, o jov...