Daryl não conseguia respirar.
Ele estava parado, sentado na cama, encarando a parede, pelo que pareciam horas, e não conseguia respirar.
Racionalmente, ele estava respirando, seu peito estava subindo e descendo, o ar estava entrando e saindo, mas não parecia o suficiente, não era a quantidade correta, a velocidade correta, e Daryl tentava puxar mais ar, mas não era o suficiente, não era o suficiente, não era o suficiente.
O rapaz sabia exatamente onde estava se metendo quando começou aquele o que quer que aquilo fosse com Marco, sabia que não era a situação ideal para alguém com o nome Noer, sabia que poderia sofrer consequências que não estava pronto para sofrer, e mesmo assim o aceitou.
O que ele tinha feito? Que ideia idiota se apaixonar por um homem, por mais incrível que Marco fosse, por mais que fosse genuinamente bom e gentil, por mais que fosse tão cuidadoso, com uma energia tão contagiante e – que Deus o perdoe – tão incrivelmente lindo.
Daryl não saberia descrever em palavras as sensações que o enchiam inesperadamente diante dos olhos verdes brilhantes de Marco, era uma honra ser olhado por ele, era uma honra ser tocado por ele; e se aquela sensação tão devastadora que o deixava sem respirar fosse o que o levaria direto para o inferno – de acordo com as crenças que enfiaram em sua cabeça desde que aprendeu a falar – então ir para o inferno não poderia ser tão ruim assim.
Por mais que tentasse ignorar o que a religião de seus pais o ensinava, por mais que soubesse que, para ele, religião não fazia o menor sentido, não conseguia deixar de sentir um incômodo comichão no fundo da mente que dizia que ele estava errado, que estava fazendo a coisa errada, que estava sentindo a coisa errada, que seus pais o odiariam e com razão – talvez fosse por culpa dele que Marise não estava mais entre eles, talvez não fosse a primeira vez que os sentimentos e pensamentos impuros o dominavam, talvez ele só não tivesse notado antes.
Daryl sabia que não deveria se deixar abalar por uma ideia tão ridícula, mas ela ainda existia, ela ainda o incomodava.
E, se fosse completamente honesto, Daryl sabia que sempre o incomodaria, afinal ele foi criado para sentir medo – medo do que pensariam dele, medo de quem o observava em silêncio, medo do que sentia, medo de como se tornava uma pessoa completamente diferente de quem estava acostumado perto de Marco.
Sentia-se nu, vulnerável,exposto perto de Marco.
E não era culpa do rapaz negro, não poderia ser, ele era bonito, charmoso, legal, uma boa pessoa que literalmente ninguém conseguiria odiar depois de meros minutos de conversa. Marco era perfeito, era tudo que Daryl sempre quis ser e jamais seria, e pensou que sentiria inveja disso, mas só sentia a mais pura admiração, a vontade incontrolável de se esconder do mundo em seu abraço confortável.
Algo mudou dentro de Daryl na noite que jantou com a família Voiny, a forma como eles se tratavam com tanto amor, tanto respeito, como Marco brincava com as irmãs, como elas olhavam para ele como se ele segurasse os céus nos ombros como Atlas.
Marco daria seu sangue e sua vida pelas irmãs, as criava como se fosse o pai delas, parte do desenvolvimento delas, as demonstrações de carinho e afeto, a educação, vinha dele.
E como Daryl poderia não se apaixonar por ele? Como qualquer pessoa em sã consciência escaparia dos encantos de Marco Voiny?
Como resistir aquele sorriso que brilhava com toda alegria do mundo? Como ignorar um olhar tão gentil? Era impossível.
Daryl era um homem fraco, não tinha força ou vontade o suficiente para resistir o que sentia por Marco, mas ainda assim sentia tanto medo...
O que Daryl tinha feito de bom em sua vida?Como poderia ser bom o suficiente para aquele sorriso? Como mereceria aquele carinho.
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O Amor é Azul
RomanceEm circunstâncias normais, os caminhos de Daryl e Marco não tinham a mínima chance de se cruzar, mas quando a família de Daryl volta para cidade em que viviam quando ele era criança para fugir de um escândalo no nome da família Noer e Marco sendo o...