one love, two mouths

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estou tão imerso em meus pensamentos que mal noto alguém se aproximando de mim na varanda do apartamento cheio.

— a lua está linda hoje, não acha? — diz o garoto de voz melodiosa.

— realmente. mas acho que sempre está, não? — respondo sem olhá-lo, ainda com o copo quase cheio em mãos.

— sabe quem está ainda mais bonito? — o vejo se virando em minha direção com um sorriso de canto ao mesmo tempo que me viro para ele, a expressão desacreditada.

— está flertando comigo?

não posso evitar soltar um riso enquanto falo, ele é inacreditável! "encare como quiser" é o que recebo, acompanhado de um levantar de ombros, e consigo sentir meu sorriso se alargar. — eu nem ao menos sei seu nome, como fala uma coisa dessas sem nos conhecermos?

— ah, isso não é problema. mark lee, do curso de letras — apresenta-se, bebendo um curto gole da bebida colorida que segura em seguida.

— "mark"? não é daqui, estou certo?

encantador. ele é muito encantador, tenho que admitir.

— canadá. e você, qual o seu nome?

— huang renjun. sou chinês, antes que pergunte.

— e o que um garoto tão lindo como você faz nessa cidade pequena em outro país? — pergunta, até parecendo verdadeiramente interessado. talvez não faça mal conversar um pouco com outro estrangeiro, faz tempo que não conheço um e não tenho nada melhor para fazer nessa festa chata.

— estudos — sua expressão demonstra confusão e curiosidade ao mesmo tempo. seria facilmente associada a um leão filhote com as sobrancelhas franzidas dessa maneira. — curso moda. a coreia é uma grande referência na área e eu não curto cidades grandes e cheias, são sufocantes e movimentadas demais.

o lee suaviza um pouco a expressão, mas não deixa de ser levemente fofo. e bonito, de fato. e divertido também, estava gostando dele.

o resto da noite não é tão ruim quanto eu esperava. na verdade, é surpreendentemente... bom. conversamos por muito mais tempo, descubro diversas coisas sobre ele e me deixo soltar e baixar a guarda também. aparentemente, ele está um semestre acima de mim, mas é pouco mais de um ano mais velho. quase não sinto a diferença de idade, ele me trata como se fôssemos bons amigos e consigo me sentir realmente confortável perto de alguém novo pela primeira vez em muito tempo. sua energia é boa demais, o humor, a personalidade... esse garoto chama a minha atenção de uma maneira completamente nova pra mim. a conversa flui naturalmente bem, é bom estar com ele.

volto o caminho inteiro com os pensamentos centrados apenas em mark, e caio no sono não muito diferente.

no dia seguinte, recebo uma mensagem dele no celular. não sei como ele conseguiu meu número, mas não é algo realmente importante no momento. me pergunta se não quero nos encontrar novamente hoje e me dá o endereço de uma loja de conveniência. nos encontramos às onze horas e ele não perde tempo, me diz que quer me levar a um lugar.

venta e faz frio, nem mesmo as várias camadas de roupa esquentam o suficiente debaixo do céu aberto, e meus dedos dos pés congelam na areia da praia. ele me estende seu braço coberto apenas por um suéter bonito e diz para que eu coloque as minhas mãos dentro das suas mangas compridas, para aquecê-las. nós dois sabemos que é uma desculpa para ficar mais perto. acabamos por segurar ambas as mãos um do outro, ficando de frente, olho a olho.

o silêncio não é nada incômodo, não tem realmente algo a ser dito de qualquer jeito. somos apenas nós dois na praia escura, o barulho calmo das ondas e a chuva fraca que nos toca apenas deixa tudo melhor ainda. mas nada supera o momento em que ele me puxa para mais perto, de maneira que meu rosto esquenta pela sua respiração, e depois mais perto ainda, a ponto de nossos lábios se encostarem minimamente, sem nenhum movimento de um dos lados. no final, eu mesmo decido acabar de vez com o espaço sufocante entre a boca chamativa dele e a minha.

ele é incrível, bonito, legal e agora descobri que beija de um jeito que me tira completamente o fôlego. os toques, mesmo que por cima de tantos panos, queimam minha pele da melhor maneira possível. o desejo é inegável.

de alguma maneira, vamos parar no meu apartamento. meu quarto é pequeno e aconchegante, e deitar nessa cama com esse garoto parece o ideal para o clima chuvoso do lado de fora.

agora sem suéteres, camisas, blusas ou casacos nos atrapalhando, continuamos o que estávamos fazendo em frente às ondas, mais fervorosamente dessa vez. me entrego por inteiro quando sua mão esquerda pega possessivamente minha cintura descoberta, não que antes eu estivesse me segurando muito.

gastamos horas juntos naqueles lençóis. sensações novas surgem a cada segundo, e fazemos questão de explorá-las de todas as maneiras possíveis, juntos, demorando o tempo que for preciso em cada uma.

vamos dormir por volta das duas da manhã, acho. abraçados na minha cama, debaixo do cobertor grosso e com meu rosto apoiado tranquilamente em seu peito exposto. o calor dos corpos é tanto que a coberta quase nem é necessária, mesmo com o tempo gélido e molhado.

vou dormir com o coração aquecido também, relaxado por estar com mark, um cara interessante e divertido que conheci ontem e que espero que não desista fácil disso, nós. pois, se depender de mim, ficaríamos assim por muito tempo ainda, fazendo o momento durar para sempre (e um pouco mais).

toes in the sand (markren)Onde histórias criam vida. Descubra agora