Como diminui a fonte?

33 3 25
                                    

Corpo jogado, sofá pressionado, pernas para o ar. Nita se sentia uma verdadeira imperadora romana, deitada de lado, sem preocupações, apenas divagando em pensamentos e aproveitando o tempo livre. Folgas daquele emprego infernal no "castelo" de Mandy eram raras. Portanto, precisava aproveitá-las muito bem.

Os olhos da ruiva capturaram, de canto, o passar de uma figura esverdeada, a qual saíra rapidamente pela porta. Era Leon, seu irmão mais novo. Provavelmente foi brincar lá fora, ou encontrar Spike, um cacto ambulante que era seu amigo. Lembrou-se da noite passada, do passeio que ela, o irmão e Bo, seu pai, fizeram.

Os Littlefoot visitaram um circo recém chegado na cidade. Houveram diversas atrações impressionantes mas, sem dúvidas, a coisa mais incrível da noite fora uma mulher de pele bronzeada e cabelos que mais pareciam labaredas. Manipulava as chamas de maneira impressionante; lançava, quase que modelando-as no ar. Engolia bolas de fogo sem sequer pestanejar... e, ao fim de tudo, terminara sua apresentação com um óleo que causou um enorme círculo de chamas, estando ela parada ao centro, sem nem suar.

Embora a noite tenha sido divertida, houve algo incomum: após o fim dos shows, Bo sumiu por um tempo, resguardado pela justificativa de "buscar algo para comer". Nita desconfiara daquilo, mas decidiu ignorar. E agora, falando no diabo, ou melhor, pensando nele, ali estava Bo, parado em frente sua filha. O homem carregava um olhar meigo e doce e, em suas mãos, segurava seu novo celular — aparelho esse que só adquiriu pela insistência dos filhos —.

— Tudo bem, filha? Você parece um pouco cansada. — Disse Bo, aproximando-se. Sentou num pequeno espaço livre no sofá, ao lado da cabeça de sua filha.

— Sim, pai, tô bem. É que lidar com aquelas crianças no castelo de doces é um tanto estressante... isso se não for contar o Chester. — De forma manhosa, deitou a cabeça no colo alheio, aconchegada. Sentiu os dedos do pai entrelaçarem seus fios ruivos, e sorriu, satisfeita.

— E o Leon? Tem dado muito trabalho? — Bo indaga, dando alguns toques na tela do telefone. Parecia incerto de algo.

— Ah, agora que eu descobri que o objetivo principal dele é o pote de pirulitos, tá fácil de impedir que ele continue roubando. — Nita respondeu, arqueando as costas.

— Sente dor nas costas? Posso fazer uma massagem se quiser, querida. — A voz soou doce, em contraste com movimentos brutos e sem jeito na tela do aparelho.

Nita não respondeu de primeira, e Bo não pareceu perceber, absorto no celular. A voz doce, a oferta de massagem, o carinho no cabelo... estava sendo bonzinho demais, tinha algo errado. A mais jovem franziu o cenho, encarando o pai, que fingiu não perceber por alguns instantes, disfarçando com seus toques barulhentos na tela. Entretanto, a encara de Nita era fatal, mais parecendo dez mil facas afiadas. O homem então suspirou, derrotado.

— Qual o problema com o celular dessa vez, pai? Não vai me dizer que é a senha da conta do Google de novo, né? — Nita perguntou em genuíno desânimo. Flashbacks de guerra daquele dia ainda eram recorrentes de vez em quando.

— Não, não! Eu anotei todas as senhas no caderno, filhota. É que eu mexi numas coisas sem querer e ficou desse jeito... — Respondeu, virando o celular para Nita.

Uma supernova multiversal de brilho que fazia o Big Bang parecer um fósforo explodiu as retinas da garota. Como ele conseguia enxergar com tanto brilho no celular!? Ao finalmente conseguir abrir os olhos de novo, Nita percebeu de imediato o problema: LETRAS GIGANTESCAMENTE COLOSSAIS.

— Como tira a letra grande? — Agora, com um sorrisinho nervoso, Bo questionou.

— Ai! Pai, eu pensei que você tinha olhos de águia! — Nita reclamou, apanhando o telefone e abaixando a luz. Em seguida, começava o processo para arrumar as fontes. — Meu Deus, tá muito grande...

— Acho que minha visão não é mais a mesma de perto, Nita... — Respondeu, um tanto deprimido.

Nita resolveu o problema num piscar de olhos, retornando para a fonte original. No entanto, antes que pudesse devolver o aparelho para Bo, uma notificação do WhatsApp chamou sua atenção. Tinha a foto de uma mulher estranhamente familiar: cabelos meio amarelados/alaranjados e pele bronzeada... ERA A MULHER DO CIRCO! Contudo, o maior choque de todos, foi o conteúdo daquela mensagem.

"Vem me ver hoje 😈?"

— Querida, algum problema...? — Bo indagou, preocupado, ao notar a tensão de sua filha.

— N-nada, nada não!!! — Depressa apagou a tela do telefone, entregando o aparelho. Num pulo, saiu do sofá, andando em direção à porta. — E-eu v-vou ver o que o Leon tá fazendo! Te amo, pai!

Problemas Técnicos Onde histórias criam vida. Descubra agora