Capítulo I - The pool

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                   Não desviava meu olhar de sua direção, meus olhos vidrados e sem fôlego. Mal dava pra perceber que ele estava em uma competição, tão completamente focado, como se toda a piscina fosse uma realidade paralela onde nada mais importava além de nadar.

                   Observava cada braçada que era dada por ele, cada mergulho, cada vez que emergia para respirar, tudo naquele meio estava sendo catalogado por meus olhos e minha câmera. Ser do clube de fotografia tinha lá suas vantagens e desvantagens, no início apenas para ocupar o meu tempo. O modo como a escola nos força a ter participação nestes clubes ainda é frustrante pois eles esquecem que somos espíritos livres e não pássaros trancados em gaiolas, obrigados a assentir e respeitar supostos seres superiores que alegam saber mais sobre nós do que nós mesmos. Com o decorrer do tempo acabei vendo vantagem em participar deste clube, minha câmera se tornou uma excelente desculpa para poder observá-lo de longe e virou minha fiel companheira.

                   Acabei sendo encarregado de registrar as competições de natação para a Gazeta Royal, o jornal do colégio. A Sra. Skyllar ter me convencido a participar do "Festival regional de fotografia de Quebec" foi sem sombra de dúvidas a minha pior decisão dos últimos anos. Agora sou encarregado de fotografar todos os eventos do colégio Mont Royal.

                  Elói Fitzwilliam. Era onde minha câmera tinha seu total foco, o mais provável a ganhar a competição de natação, suas técnicas eram perfeitas, o 'que faz sentido sendo que ele treina todos os dias por cinco horas. - não me pergunte como tenho essa informação - Difícil saber se é dedicação a um sonho, ou obrigação por ser o filho do treinador. Seu apelido Voltz se referindo a sua velocidade por mais esnobe que seja faz jus a sua reputação. Elói desde criança se tornou prodígio nas piscinas de toda Quebec. Me lembro de anos atrás quando ainda éramos próximos e passávamos o final de semana nadando no lago Lac Pink na casa do meu pai - mesmo naquela idade eu já fazia viagens sozinho, acredito que seja a única vantagem de ter uma madrasta que te odeia.

                    Minha câmera captura o momento exato em que sua mão encosta na outra borda da piscina, dando fim a fase inicial da competição, todos pulando escandalosamente pelo colégio ter finalmente se classificado para a próxima etapa. Flashes por todo o lado, desço para fotografar o pódio, e tudo se silencia quando nossos olhares se encontram, se não estivesse tão frio com certeza daria para notar o rubor em minhas bochechas.

                    A multidão logo invade o local para festejar com os ganhadores. Tudo começou a ficar sufocante, mais e mais pessoas lotando o local. Meu coração dispara, respiro com dificuldade, meus dedos ardem, gente por todo o lado me empurrando para chegar aos vencedores, a invisibilidade neste momento me desespera. Tanta gente, parece que serei engolido, tudo começa a ficar escuro e saio rapidamente da área da piscina. O corredor diferentemente da piscina está vazio, não se ouve nada, além da agora distante comemoração. Me sento no banco de madeira ao lado do bebedouro. Procuro em meus bolsos o frasco do meu remédio

                    - Não deveria ter aceitado virar fotógrafo do jornal, não devia, toda essa gente, esse calor, me falta ar. Achei que conseguiria mas não dá. Não estou pronto pra isso ainda. - Pego um pouco de água e engulo o comprimido com dificuldade. Não posso depender disso pra sempre. Me levanto esperando que o efeito do remédio faça efeito e sigo em direção ao jornal. - Vou me encontrar com a Sra. Skyllar amanhã, vou pedir para colocarem outra pessoa como fotógrafo da gazeta.

                                                                                            ~ ~ ~

                       Encarava aquela porta enorme não sabendo se deveria mesmo entrar, o som que vinha de dentro era ensurdecedor. Océane me encorajou a semana toda para vir a essa festa e tentava a todo custo me empurrar pra dentro. Claro que a festeira da escola tinha que ser a melhor amiga do "maior introvertido de todos", apelido carinhosamente dado a mim por ela

-   Vai logo Alex! É só uma festa que mal tem de vir comigo de vez em quando, não é como se você um recluso que nunca sai de casa. - Océane me empurra para dentro - Agora entra, quem sabe você não conhece um gatinho e ainda por cima acaba se divertindo, hein, vamos?

- Você sabe que eu não beber nada né? Alguém tem que tomar conta de você - coloco a mão na cintura enquanto Ocy me olha com carinho.

- Você é um amor - diz sarcasticamente - Agora entra logo!

- Vai com calma. Ei! já vou! - digo bufando enquanto ela me empurra em direção a festa 

                       Océane sempre encontra as melhores festas, todas as noites está em um point diferente, ela tem um faro natural para isso. Lá dentro todos os alunos do colégio já estavam alterados. Pessoas dançando risos altos, e uma música mais alta ainda. A vantagem de chegar no meio da festa é que ninguém repara na sua presença. Ocy como sempre desafiando as leis da natureza já estava com uma bebida na mão e claro se enturmando facilmente, é um mistério como ela tem a habilidade de se tornar a alma de qualquer festa tão rápido. Sinto suas mãos em meu ombro e percebo que havia travado ao passar pela porta.

- Alex! vai circular, conhece umas pessoas. Eu vou pegar uma bebida. - dizia enquanto me chacoalhava como quem mal começou a beber e já está alterada, realmente sua tolerância não acompanha seu espírito festeiro - DETONA GERAAL!

- Ocy... você já tem uma bebida- falo mas ela já está longe de mais para ouvir

                      Começo a andar pela casa, procurando rostos conhecidos entre os convidados. Nunca gostei muito de festas, pessoas bebendo por toda parte e se drogando, isso nunca foi meu estilo, preferia estar em casa, não vendo essas pessoas se pegarem, espero que minha repulsa não seja muito óbvia. Passando pela cozinha e vejo um jogo beer pong, paro pra assistir. Ao longe avisto Zack encostado na varanda para o quintal, acho que fizemos um trabalho de ciências juntos a gente nunca conversou direito, não sei muito sobre ele. Já o vi com o Elói algumas vezes. De qualquer forma, um rosto conhecido é melhor que nada.

- Ei Zack!- me apoio na mureta e ele logo se vira e vem em minha direção.

- Finalmente você resolveu vir pra uma festa, veio arrastado ou oque?

- Hum, to de motorista pra Ocy. Sabe que a tolerância dela é péssima. 

- Hã... Ta de chofer- diz ao se aproximar, passando a mão no cabelo enquanto me observa sugestivamente - Deveria vir mais vezes... sinto falta de alguém atraente para conversar - A tom rouco e grave de sua voz quase me faz perder o rumo.

- Não sei se estas festas são bem o meu tipo... -  Digo sem graça, ainda me recuperando do flerte. 

                       Não é como se eu tivesse interesse em sair com ele nem nada. Mas não dá pra negar que o Zack é extremamente bonito e galante. Com seus olhos verdes como rubi, e o cabelo preto descolorido em várias mechas brancas. Toda essa beleza desperdiçada em alguém como ele que dá má fama aos bissexuais sendo patife assim.

- E o que essa festa precisaria ter pra ser o seu "tipo"... - reconheço sua voz mesmo após tantos anos sem nos dirigirmos a palavra, me viro bruscamente sentindo meu coração saltar pela boca. - Alex?

Continua?

Por Trás das Câmeras de Mont RoyalOnde histórias criam vida. Descubra agora