Londres te ensina algumas coisas, entre elas, a que encabeça a lista é: leve um guarda-chuva, pode chover mesmo em um dia de sol. Nada é fácil em um lugar como Londres, portanto, encontre sua felicidade, mesmo em um lugar como Londres. E por fim, ne...
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Londres te ensina algumas coisas, entre elas, a que encabeça a lista é: leve um guarda-chuva, pode chover mesmo em um dia de sol. Nada é fácil em um lugar como Londres, portanto, encontre sua felicidade – mesmo em um lugar como Londres. E por fim, nenhum lugar possui tanta história para contar quanto essa cidade, tanto em seus prédios quanto suas pessoas.
E lá estava ele, parado na Tower Bridge, observando o pôr-do-sol afagar Londres e cintilar o Tamisa. A luz dourada iluminava a face do homem que acabara de fazer quarenta e três anos, como se desse uma boa olhada naquele rosto, que agora já possuía linhas nos olhos e na testa, fazendo companhia para a fina cicatriz de raio, escondida pelos cabelos negros salpicados de um jeito bonito por alguns poucos fios brancos.
A postura um pouco curvada do bruxo sobre o guarda-corpo denunciava o cansaço e o peso de mais um dia de trabalho, mas seus olhos tão verdes, ao revés, continuavam com um brilho de satisfação, misturados com um pouquinho de tristeza por trás das lentes redondas dos óculos. Fazia um calor infernal em Londres, até mesmo para o verão, mas o homem insistia em usar uma camisa de botão cinza – ele havia arregaçado as mangas até os cotovelos, pelo menos.
As pessoas passavam pela ponte e tiravam fotos, conversavam entre si e continuavam seu turismo como se não pudessem ver o homem solitário ali, alheias ao quão importante aquela pessoa era e à sua história. Mas havia algo de belo naquela solidão, em vê-lo observar a cidade a sua frente. Não demorou muito, no entanto, uma figura curiosa se juntou a ele.
Um garoto de cabelo azul e um corte moicano, exibindo braços tatuados graças a sua camisa branca de manga curta, se aproximou por trás, e ao invés de furtar a carteira do homem, apenas o cutucou nas costelas, surpreendendo o senhor com um pequeno susto que logo se transformou em uma satisfação indizível e um sorriso brilhante, acompanhado por uma voz grave e feliz que exclamou "Teddy!" e foi abraçado com força pelo rapaz que não se cabia de contentamento. Há dez anos, esta teria sido uma visão peculiar para muitos – um homem de aparência respeitável abraçando tão alegremente um delinquente que com certeza não devia ter um pingo de juízo. Mas o mundo não fica parado por dez anos (ainda bem!).
O rapaz o cumprimentou de volta com a mesma alegria de alguém que não vê uma pessoa querida há muito tempo.
- Tá com essa carinha de cachorro que caiu da mudança por que deixou os filhotes na escola de adestramento?
- Garoto, eu já conversei com você sobre esse seu jeito de falar... – alertou o homem, com uma advertência brincalhona enquanto puxava de brincadeira uma das orelhas cheias de piercings.
Teddy riu, e colocou os braços por cima dos ombros do outro, o puxando para longe daquela ponte e daquela solidão sisuda.
- Você sabe que eu tô falando do Tiago e que o Al fica logo atrás dele na fila, né? A Lily é um docinho.
O homem, Harry, não podia nem concordar, já que não podia dar direito àquele menino bocudo, nem discordar, porque senão estaria mentindo. Eles continuaram caminhando e conversando, matando aos pouquinhos a saudade e colocando a conversa em dia. Os dias agitados de Londres haviam separado afilhado e padrinho em seu ritmo acelerado, levando-os muitas vezes para longe, trazendo-lhes muitos problemas... mas eles haviam encontrado um jeitinho de não perderem o que tinham no meio da correria – e era andar juntos, devagar enquanto os outros corriam, para poderem participar da vida um do outro.