Capítulo XXVI

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*- Aviso -*

Armas, morte, menção de suicídio e sangue.

Este capítulo tem descrições gráficas e pode perturbar alguns leitores mais sensíveis. Discrição é aconselhada.

Ryan 

Faltam algumas horas para ir acordá-las. Voltando para o turno, depois de ter ido á casa de banho, encontro Agnes já levantada e perfeitamente arranjada na cozinha. Ela separava folhas e flores do caule de uma dúzia de plantas, e dava os restos para James Coelho, que comia tranquilamente ao lado dela, em cima do balcão. Ela repara em mim e abre um sorriso largo, com os olhos cintilantes. Parece tão inocente e apenas grata pela vida. Pergunto-me como é que uma mulher como ela está aqui. É como se a ovelha fosse para dentro da toca do lobo, de livre vontade. Por um lado fico aliviado de ela nos ter encontrado antes de alguém encontrar a ela. Não é que ela estivesse minimamente armada ou algo do género. Podia ter acabado muito mal.

- Bom dia. Prefere tomar o chá agora ou depois? - Olho confuso para ela.

- Chá? 

- Sim. Eu disse que lhe fazia um chá para dormir melhor. 

- Obrigado Agnes, mas hoje vais levar-nos até á aldeia. 

- Oh, claro. Não me esqueci disso, mas temo de que nada servirá ter os dois homens do grupo completamente exaustos. Conheço um caminho que não demorará mais de trinta minutos. Por isso, porquê que não descansam pelo menos a manhã? - Por mais que a sua disposição seja contagiante e calorenta, não quero arriscar confiar totalmente em ninguém deste sítio, por muito inocente que ela aparecente ser.

- Tudo bem. - Digo secamente e vou lá para fora ter com Brandon. Ela segue-me com o seu caderno pequeno em mãos. 

- Senhor, não quer saber o que descobri no diário do senhor Don? - Ela sabe que capta a nossa atenção, então dá um pequeno sorriso de vitória. 

- Ele escreveu mais após ter fugido? - Brandon pergunta e ela negou imediatamente. 

- O senhor Don deixou-nos mais informação que ele achava útil antes de partir com a pequena Marie, juntamente com um símbolo de proteção temporário e as suas consequências. - Por uns momentos fico quieto. Como assim havia consequências? Foi a Clara que desenhou o símbolo, isso quer dizer que ela vai sofrer as consequências? Não quero ser rude com a Agnes, mas não evito interrompê-la no momento que ela falou nisso.

- Que consequências, Agnes? 

- Esse símbolo é passado por gerações pelas famílias praticantes de magia, e poucos são as pessoas na minha aldeia que têm conhecimento desse símbolo. A vizinha que cuidava de mim e das minhas irmãs tinha esse símbolo desenhado pelas paredes porque ela acreditava que esta floresta estava cheia de espíritos malignos e outros perdidos. Ela contou-me, um dia, que esse símbolo de proteção trazia com ele pesadelos horríveis até ao final da vida. "Os sonhos serão substituídos cruelmente por pesadelos terríveis até ao final da vida", como ela dizia. - Fiquei em silêncio por um bocado. Estou arrasado pela Clara. Tenho de lhe contar imediatamente assim que ela acordar. 

- Não há uma forma de desfazer isso? - Pergunto ainda com alguma esperança de poupar a Clara dessa sentença horrível.

- Desculpe, é tudo o que tenho. - Agnes deu-me alguns segundos para assentar as informações e depois continuou. - O senhor Don não refere isso no diário que me entregou, mas depois que a Clara mostrou-me os livros negros, pude encontrar a página que faltava no diário. - Mas é claro que ela deu-lhe os livros. - Don refere-se a uma energia. Essa energia nasce da angústia ou da felicidade em vida. Ele considera esta energia como sendo a própria alma. Dependentemente da carga que a alma transporta, essas almas podem se manifestar, até ficando visíveis para pessoas mais sensíveis espiritualmente ou alguém em especifico, como o seu assassino ou ante querido. No caso, essas almas podem se parecer como elas eram em vida, ou algo medonho e sombrio. 

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