~ɪᴍᴘéʀɪᴏ ᴅᴇ ᴅᴇᴜꜱᴇꜱ ᴇ ᴍᴏɴꜱᴛʀᴏꜱ~

CAPÍTULO VINTE E NOVE

—Malessa—

Se passam alguns segundos silenciosos, então sinto a magia de Warren me envolver como um cobertor quentinho. A sensação faz os pelos dos meus braços arrepiarem, minha pele formigar e meu corpo finalmente relaxar. Não sinto mais frio, somente um calor aconchegante e totalmente bem-vindo.

     Paro de olhar para o meu corpo coberto pela sensação da magia, e elevo os olhos para ele. Um pequeno sorriso repousa em seus lábios, e uma expressão de contentamento reveste suas feições como se tivesse gostado do que aquilo me fez sentir, ou do que acabou de ouvir de mim. Eu ainda não tinha certeza.

     — Significa que aceita minhas desculpas? — pergunto, sorrindo fraco.

     Warren estica as costas, enquanto coloca mais alguns gravetos no fogo.

     — Não, eu só estava cansado de ouvir seus ossos tremendo. — ele diz, me olhando de soslaio.

     Um sorriso fraco sai de mim, e balanço a cabeça. Warren me encara de novo, e sinto aquele escudo mágico ao meu redor pulsar levemente, fazendo meu corpo inteiro relaxar ainda mais.

     — Você cumpriu sua parte do acordo. Afinal, ainda estou aqui, não estou? — ele sussurra.

     — Não graças ao Diário.

     — Mesmo se eu tivesse o Diário, seria você a me salvar de qualquer forma.

     Warren me olha tão intensamente que as palavras morrem na minha garganta. Onde estava o guerreiro rabugento que me fazia vibrar de raiva? Não sei qual eu prefiro: ele, ou o homem que está me deixando ver através da sua barreira. Aquilo me assustava, mas era interessante não esperar o pior de alguém e apenas... confiar. Eu não queria mais odiá-lo. Ele não me dava motivos e, na verdade, não sei quando parei de esperar por eles. Mas aqui estamos... Duas pessoas totalmente diferentes, com histórias diferentes e, ainda assim, tão iguais.

— Você não sabia do plano dos Reais, sabia? — pergunto, porque suponho que esse assunto seja mais seguro do que os pensamentos que correm livres por minha cabeça confusa.

Warren franze a testa, mas logo parece entender onde quero chegar.

— Está falando sobre o que o Real disse no salão em Nêmesis?

— Lembro que você ficou pálido, quando escutou sobre a criação de novos Predadores. — paro um segundo, torcendo para ele não agir como sempre e ignorar minhas perguntas com um grunhido. — Você não sabia que eles estão mesmo contando com essa possibilidade, sabia?

Ele se remexe, desconfortável, e encara o fogo com um olhar distante e vazio. Por quantas coisas terríveis ele teve que passar para ter essa expressão no olhar? Não me permito pensar na resposta.

— Eu sabia que isso não ia acabar. — o guerreiro sussurra mais para ele mesmo do que para qualquer um.

— Como assim?

Warren demora responder, mas quando fala novamente, ele respira fundo e não encara nada além das chamas vivas.

— Há muito atrás, o feitiço para criar Predadores foi destruído. Justamente pelo fato de que esse programa estava começando a dar muito errado. — ele suspira, como se relembrar exigisse um certo esforço. — Os sacrifícios já não eram de uma só espécie, mas de várias, em uma só pessoa. E pelo exerço de poder, até os hospedeiros estavam morrendo.

Sinto minha respiração querer falhar. Nunca tinha ouvido falar dos escolhidos à Predadores morrerem na tentativa de Criação.

— As bruxas responsáveis não queriam parar, mesmo com as baixas. Elas queriam um Predador que suportasse três especies diferentes no DNA, mas sempre falhavam.