Capítulo 7

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O barco em que estamos é de porte médio, com um convés inferior amplo, uma área interna luxuosa, onde há um bar e uma grelha, e um deque superior ao sol pleno e radiante. Enquanto o resto do grupo procura lugares para guardar seus pertences e vai atrás de lanches, Simone e eu vamos direto ao bar, pegamos bebidas e subimos a escada para o deque superior vazio.

Está calor. Tiro meu short e a canga que vestia como uma blusa, ao passo que Simone tira sua bata. Então, ambas estamos seminuas, juntas, em plena luz do dia, nos afogando em silêncio.

Olhamos para tudo, menos uma para a outra. De repente, gostaria que estivéssemos rodeadas por pessoas.

- Belo barco – digo.

- É.

- Como está sua bebida?

Indiferente, Simone dá de ombros.

- Bebida barata, mas está boa.

O vento faz o cabelo chicotear meu rosto. Então, Simone segura minha taça de Aperol Spritz enquanto apanho um elástico na bolsa e amarro um coque frouxo. Seus olhos vão do horizonte para meu biquíni vermelho, depois de volta para o horizonte.

- Eu vi isso – digo.

Ela toma um gole de sua bebida.

- Viu o quê?

- Você deu uma olhada nos meus peitos.

- Claro que dei. É quase como ter duas outras pessoas aqui conosco. Não quero ser mal-educada.

- Simone, não sei se você já se olhou no espelho, mas eu acredito perfeitamente que, na verdade, temos mais quatro pessoas por aqui – umedeço os lábios e capturo o olhar dela.

- O que você quis dizer com isso... – ela inicia a frase com a feição confusa e conclui com o pescoço completamente vermelho – SORAYA!

Como que seguindo uma deixa, uma cabeça aparece no alto da escada: Beth, seguida de perto por Sofia.

Elas pisam no deque, segurando suas margaritas em copos de plástico.

- Oi, garotas! – Sofia diz, aproximando-se. – Uau, não é lindérrimo?

- Muito lindérrimo – concordo, ignorando a expressão horrorizada de Simone. Sem chance de ela estar me julgando mais do que eu estou julgando a mim mesma.

Estamos juntas, o quarteto mais improvável do mundo, e tento dissipar a tensão desconfortável entre nós.

- Então, Beth, como vocês duas se conheceram?

Beth estreita os olhos por causa do sol.

- No mercado.

- Beth é supervisora de uma rede de supermercados – Sofia informa. – Ela estava orientando a reposição de estoque de material escolar, e eu estava comprando pratos de papel no mesmo corredor.

Espero, supondo que haverá mais. Mas não há.

O silêncio se prolonga até que Simone vem me ajudar.

- Aquele na Rua Maracaju ou...

Sofia murmura junto ao seu canudo e balança a cabeça enquanto sorve.

- O da Álvares de Azevedo.

- Não costumo ir lá – digo. Mais silêncio. Eu gosto do que fica na Avenida Afonso Pena.

- Tem uma ótima seção de hortifruti nesse – Simone concorda.

Por alguns instantes, Sofia me encara e, em seguida, olha para Simone.

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