The Challenge

Two



San Diego, Califórnia
Doze de julho, 2023

Eu costumava retornar ao meu lar de ônibus, uma vez que estava situado a uma distância considerável de minha instituição de ensino. Meu pai, em geral, me aguardava na esquina, evitando adentrar as proximidades da escola, pois não queria que se percebesse que eu era filha do zelador. Jacob, meu pai, insistia que eu deveria envergonhar-me de minha filiação paterna e não desejava manchar ainda mais a minha reputação. A seu ver, sua presença na escola não era desejável. Eu, por outro lado, já não me importava, pois ele me ignorava com cortesia na escola. A única pessoa que tinha conhecimento de minha filiação a ele era Hanna, e ela me atormentava incessantemente por causa disso. Ao chegarmos em nossa modesta residência, situada no bairro mais humilde de San Diego, meu pai foi assistir ao noticiário enquanto eu me dispus a preparar o almoço. Raramente mantínhamos conversas longas, a não ser quando ele dissipava o dinheiro do aluguel em bebidas e retornava para casa embriagado, dando origem a acalorados desentendimentos. Entretanto, naquele momento, ele estava lutando para deixar o vício do álcool, encontrando-se em tratamento.

— Como foi o seu dia na escola? - Ele indagou enquanto compartilhávamos em silêncio uma refeição à base de macarrão que eu havia cozinhado.

— Bem - eu respondi simplesmente.
— Certo, - ele concluiu, pondo fim à conversa.

Durante a tarde, ele partiria para o seu emprego, e eu permaneceria em casa estudando. À noite, prepararia o jantar para mim mesma, comeria sozinha e ele chegaria nas primeiras horas da madrugada. No entanto, naquele dia, as coisas seriam diferentes, pois eu tinha um compromisso. Procurei por uma calça mais justa e, por sorte, encontrei uma que estava guardada. Embora não tivesse grande confiança em meu corpo, optei por uma blusa branca com uma jaqueta jeans sobreposta, completando o visual com meus habituais chinelos baixos. Ponderei sobre soltar meu cabelo, mas decidi mantê-lo preso em um rabo de cavalo. O endereço fornecido por Mia se situava no lado leste da cidade, uma área que eu jamais havia visitado, embora ouvisse dizer que a incidência de crimes era mais alta ali. Ir de ônibus não era uma opção, pois isso implicaria em pegar o metrô e circular pela cidade durante a noite toda. Portanto, recorri ao único amigo que eu possuía, que curiosamente era também meu ex-namorado, Kaleb.

— Aonde você quer ir a essa hora da noite, garota? Eu estava dormindo, sabia? - Ele resmungou.
— Eu preciso ir a este lugar - eu entreguei a ele o papel que Mia me dera.
— O que diabos você está pensando, indo para o outro lado da cidade?
— Só me leve lá.
— Não sei por que ainda aguento você. - Ele bufou, ligando o carro.
— Porque você me ama e é meu amigo desde que me entendo por gente.
— Puxa-saco.

Eu conhecia Kaleb desde a infância; éramos melhores amigos, mas acabamos confundindo amizade com paixão e namoramos por oito meses. No entanto, não funcionou bem, e Kaleb descobriu que era atraído por homens. No início, me senti um pouco culpada, mas com o tempo, as coisas se acalmaram. Meu afeto por ele não era tão profundo quanto imaginava, e optei por manter nossa amizade intacta. Gastamos exatos quarenta minutos até chegarmos ao local, que era uma academia chamada "Aka", um estabelecimento inteiramente pintado de preto, ao lado do qual se encontrava um estúdio de tatuagem. À nossa frente, havia dois homens corpulentos rindo e bebendo.

— Você está brincando comigo, não é? - Kaleb reclamou. —Você deixou de ser a garota boazinha para se tornar uma aventureira e se envolver com criminosos?
— Cala a boca. - Eu desci do carro, ignorando seus apelos para que eu voltasse.
— Meu Deus, esses caras vão nos matar. Vamos embora, Clary. - ele murmurou, seguindo-me cochichando.
— Eu preciso ver alguém antes. - eu expliquei.
— Este lugar está cheio de drogados e bêbados. Logo a polícia vai aparecer, e seremos presos junto com eles.
— Relaxe.