"Tempestade" (capítulo único)

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Eu odiava dias chuvosos.

Desde que me conheço por gente, lembro da sensação de desgosto sob os pingos gelados de chuva caindo sobre meus sapatos surrados, criando diversas poças d’água melancólicas pela cidade. O mundo se tornava um rastro cinza de melancolia, assim como meu humor.

Por mais inacreditável que seja, a escola estava quase vazia, todos pareciam ter optado por ficar em casa, evitando o clima desagradável e frio que pairava South Park.

Mas eu tinha um compromisso importante: precisava encontrar um livro para o trabalho de literatura. O senhor Garrison era um professor exigentie e rabugento, e eu precisava de notas melhores. Acho que sempre fui mais de exatas, apesar da maioria das pessoas desse maldito lugar me julgarem como uma “garota burra” por conta de meus antigos atos e aparência.

Com passos arrastados, me dirigi à biblioteca, com minha mochila protegendo meu caderno de anotações da chuva, apesar de não ter conseguido evitar que ele se molhasse com o lúgubre e úmido clima do outono no Colorado.

Meu cabelo castanho estava totalmente encharcado, então decido prender ele num rabo de cavalo desleixado.

Eu ainda mantenho ele com pequenas luzes loiras — as quais eu mesmo pintei durante a pré adolescência. 

Porém, ele tinha crescido um pouco desde meus 11 anos. Sinceramente, não mudei tanto de aparência assim quanto imaginava.

Eu era comum. Não era feia, nem bonita. Minhas únicas características em destaque (além do meu cabelo ridículo), eram a minha altura e minhas sardas salpicadas pela minha pele levemente bronzeada.

Minha mãe costumava achar bonitinho, apesar de eu as ter herdado do meu pai.

Quando eu era pequena, ela sempre dizia:

— Tamara! Suas sardas me lembram estrelinhas… —  Minha mãe dizia a mim, enquanto ela ajeitava meu cabelo quando eu era pequena.  

Eu nunca gostei tanto do meu nome, “Tamara”. Em hebraico, ele significa “palmeira”, além de ser parecido ao nome de uma fruta — e sinceramente eu acho muito estranho um nome cujo o significado lembre uma fruta e uma planta.

— Bom dia, Tammy! — diz a bibliotecária sorridente da escola — O que veio fazer aqui hoje nessa manhã tão chuvosa? Ouvir alguma música ou ler? —  ela era uma senhora de cabelos cacheados brancos muito simpática, e já me conhecia, pois sempre que tenho intervalos livres entre as aulas venho matar o tempo por aqui.


Geralmente as pessoas me tratam apenas por “Tammy”, o que eu não acho ruim de um todo. É um apelido comum, pra uma menina comum. 

— Bom dia, senhora Smith!  — repliquei, sorridente também. Embora eu estivesse desanimada, era apenas mais um dia de merda numa escola merda dentro de uma cidade de merda. — Na verdade, hoje eu vim fazer um trabalho de literatura, não ler — meu riso de nervoso disfarçava um possível incômodo.

— Poxa, sinto muito, mocinha. Imagino que os últimos anos do ensino fundamental sejam meio pesados na questão de estudos…  — ela respondeu, ajeitando seus olhos e olhando algo no computador extremamente antigo da biblioteca.

— São sim, mas nem quero imaginar como será o ensino médio, isso meio que me assusta — digo ajeitando minha mochila nas costas. Ela era lilás e desbotada conforme os anos de uso se passaram. Haviam pequenos bottoms idiotas dos Jonas Brothers, os quais eu coloquei enquanto ainda estava frequentando a quinta série.

 Eu ainda me lembro quando os vi ao vivo pela primeira vez, foi tão emocionante, principalmente pois eu estava com o garoto que eu mais amei em toda minha vida.

Dias de chuva (South Park)Onde histórias criam vida. Descubra agora