Capítulo 16

6.8K 372 12
                                    

Maria Eduarda.

- Qualquer coisa me liga. - assenti e beijei sua boca antes de sair do carro e entrar em casa.

Rafael ainda me escondia algo, e eu não o julgava, cada um tem seus segredos. Mas eu sinto que é algo mais profundo do que parece. A forma como ele falou no celular foi estranho, um palavreado diferente. Eu o ouvi xingando alguns palavrões poucas vezes, mas nada como aquelas palavras.

Abri a porta de casa e meu pai me olhou do lado de dentro analisando cada parte do meu corpo, parando os olhos no meu pescoço.

- Aproveitou bastante né? - ele disse sarcastico e não entendi. - Com quem estava?

- Com um amigo, eu falei quando saí. - disse impaciente pelo questionário.

- Quero nomes, Maria Eduarda. - ele levantou e caminhou em passos lentos na minha direção.

- Rafael, pai. O nome dele é Rafael.

- O Rafael que fez isso? - ele passou um dedo no meu pescoço. Estendi o celular com a câmera ligada pra ver do que se tratava e eram dois chupões, um no meu pescoço e outro perto do peito.

Que vontade de matar Rafael agora, péssima hora pra ele marcar território em mim.

- Me responde, porra. - sua voz estava baixa e assustadora.

- Não pai, eu... - tentei mentir.

- Não mente pra mim, você sabe o que acontece quando mente. - ele desferiu um tapa no meu rosto. - Está parecendo uma vagabunda. Me desculpe a palavra, mas está como uma puta. Se oferecendo por aí.

- Para de falar assim. - eu gritei, externalizando toda a minha raiva. - Você é meu pai, não deveria me tratar assim.

- O que eu faço é pra proteger você, mesmo você sendo a ingrata que é.

- Isso é doentio, nunca foi proteção. - ele desferiu mais um tapa, dessa vez bem mais forte, quase um soco.

- Você está abusada demais pro meu gosto, está precisando de correção dobrada.

- Eu preciso de distância dessa casa.

- Cale a sua boca, Maria. Suba pro seu quarto agora e não me questione.

Eu marchei pro meu quarto já sabendo o que me esperava. Minha mãe entrou no quarto começando o seu discurso de que eu estava com o comportamento de uma vagabunda, uma prostituta, e que ela não me criou pra isso.

Meu pai chegou logo depois com o cinto de couro e começou uma sessão de tortura. Dessa vez ele me batia com o lado da fivela do cinto, com o choque contra a minha pele acabava cortando e eu sentia sangue escorrer. Eu gritava de dor, de raiva, de angústia, e minha mãe assistia tudo sem dar uma palavra. Ele não se limitou somente do meu pescoço pra baixo, meu rosto também era atingido e nem maquiagem esconderia as feridas que estavam ali. A única coisa que eu tentava fazer era proteger meus olhos pra que ele não acertasse e acabasse me cegando.

Não sei como meus vizinhos não ouvem, não perguntam nada, nem denunciam. Mas eu até entendo que se denunciarem não vai adiantar de nada, sendo o meu pai o delegado da polícia.

Eu me encolhi no chão mesmo quando meus pais saíram, levaram meu celular, trancaram a porta como sempre faziam. Mas dessa vez eu simplesmente não conseguia reagir. Todo o meu corpo doía, minhas costas e pernas ardiam por conta dos cortes abertos. Eram cortes pequenos mas estavam inchados e doloridos.

Não sei quanto tempo fiquei ali chorando, desejando que minha realidade fosse outra. Pais amorosos, uma casa onde eu me sentisse acolhida, memórias boas com minha família. Era só isso o que eu queria.

Tentei me levantar, mas minhas pernas falharam e eu tropecei caindo no chão novamente.

O salgado das minhas lágrimas passaram pelos meus lábios e eles estavam cortados, ardeu e eu franzi o rosto sentindo dor.

Consegui me levantar e sentar na beirada da cama, ainda vestia a camisa de Rafael, por isso minhas pernas estavam descobertas. Seu cheiro na camisa conseguia me trazer sentimentos bons mesmo em meio a tudo isso, como uma mágica.

Eu não deveria ter voltado pra casa, deveria ter ficado com Rafael pelo resto da noite, ou da semana, ou do ano. Bem longe da casa dos meus pais.

Me deitei na cama e fechei os olhos sabendo que eu não dormiria. Mas só de fechar os olhos eu conseguia imaginar como seria se tudo fosse diferente e isso de alguma forma era uma distração pra que eu não me concentrasse na dor.

O CHEFE DO TRÁFICO [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora