Existiam coisas que tinham o poder de puxar o olhar de Kihyun; seja um por do sol bonito por detrás de construções antigas que clamam por atenção ou o colorido de uma pintura no cinza urbano.
E havia ele.
Mesmo em um milhão de anos Kihyun sentia que seria capaz de reconhecer o rapaz. A ponte alta do nariz equilibrava um simples óculos de aro fino, a postura invejável, os cabelos revoltos que insistiam em se embaralhar com o vento, os lábios finos murmurando algo não audível naquela distância.
Andava por entre as pessoas que transitavam nas calçadas, no sentido contrário. Lia um folheto sobre o mirante acima do mar em que se encontravam. Parecia estar deixando o lugar, de costas para o sol poente e a luz alaranjada de um céu pronto para receber milhares de estrelas.
Kihyun não pode evitar de sentir o coração se perder no compasso. Faziam anos desde a última vez que ambos os caminhos se cruzaram. Lembrava-se perfeitamente da decisão, mútua porém dolorosa, de seguirem caminhos diferentes. O coração transbordando mágoa não era capaz de sustentar a paixão dos dois jovens.
E Kihyun já havia compreendido de que não era pra ser, estavam destinados a outras vidas, outras pessoas.
Então por que o mais velho deixava o olhar varrer cada local em que ia, a procura de um par de olhos felinos e cabelos pretos?
Em um sentimento súbito, se pegou mudando a direção de seus passos. A multidão pareceu se tornar mais densa, dificultando a passagem do mais velho, que ainda tinha os olhos grudados nas costas do garoto. Vendo que os passos lentos do outro ainda eram mais rápidos que a luta contra a multidão que travava, Kihyun sentiu a sensação que antes residia somente em seu peito, subir pelas paredes da sua voz, se projetando como um grito quase mudo. Quase.
Afinal, Changkyun ouviu.
Parando de súbito, o que atraiu muitos pares de olhares feios para si, Changkyun se virou sem urgência. O brilho do sol nas águas nem tão calmas tingia a lateral do rosto, que tinha uma expressão nada mais que serena. O reflexo morno no olhar do moreno fez uma sensação de deja vu se instalar em Kihyun, que sentia o pulso cardíaco descontrolar a cada segundo que gastava perdido nos olhos alheios.
E, alheio a toda a confusão e agitação do mais velho, Changkyun apenas sorriu. Um sorriso que gastava todas as palavras das enciclopédias para explicar o mundo e as estrelas, ao mesmo tempo que não proferia uma sentença completa. Um sorriso que bastava para esclarecer noites em claro e alguns anos de angústia.
Kihyun sente a brisa salgada varrer seu rosto. O céu alaranjado contrastava com os tons do mirante. Ele também sorriu.
"Isso daria uma boa foto".
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oi! eu tinha esse texto no bloco de notas e gosto demais dele pra só deixar ele mofar sem ver a luz do sol!
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a gente sabe quando é hora de acabar
Fanfictionexistem tantas formas de perceber que acabou, e nem sempre precisa ser através da tempestade. as vezes um sol poente é suficiente. changki |