Notas

Capítulo 3

Três dias antes...

Tenho tanta coisa em mente, eu sempre tenho. Mas hoje, parece que meus pensamentos estão se tornando um belíssimo furacão. Lorenzo está estranho, meu pai ainda está distante. Tenho que pensar no que o Michel disse.

Vamos lá, se eu aceitar, além de sexo gratuito, status e mais uma imensidão de coisas, eu teria o Michel de volta na minha vida, o que é uma benção. Mas como eu disse, esse diabo por mais que tenha um rosto lindo, não deixa de ser o diabo. Eu o conheço de perto, sei de suas dores até os fetiches, sei bem que aquele rosto, voz e gentileza são uma máscara.

Preciso levantar dessa cadeira e fazer alguma coisa da minha vida.

— Filha, quer ir a um jantar? Igual nós fazíamos antes? - Meu pai se aproximou dando um beijinho em minha testa.

— Pai, eu adoraria, agora eu quero ver você convencer aqueles três marmanjos ali do lado. - Apontei para os meninos no sofá.

Eles resmungaram e eu dei risada, meu pai sentou a minha frente, eu estava lendo algumas bobagens no celular, logo o larguei e observei meu pai com mais atenção.

— Não querida, sem eles. Eu e você, igual fazíamos quando você queria ser uma dama, jantar em um lugar chique juntos.

— Ah, assim? Eu topo, mas, precisaríamos de uma...

— Reserva? Eu conheci o dono do La Noche á alguns dias, ele me disse que se algum dia eu quisesse ir lá, era só avisar. Eu consigo uma reserva em dez minutos. - Meu pai sorriu e se levantou animado - se arrume então querida, você sabe como é lá!

— Tudo bem pai!

Eu sorri de forma boba, mesmo tendo crescido, ele ainda me trata como uma princesa. O que eu adoro, todo mundo curte ser um pouco mimado. Claro que eu amo meus irmãos e tal, mas as vezes ser a única mulher da casa é complicado, então qualquer chance de ser uma princesa, eu sempre estou aceitando.

Um tempo depois, decidi me arrumar. Passei maquiagem, coloquei um vestido e uma bota, me arrumei bem já que eu conheço o nível do La Noche.

Princesinha do papai, ha!

— Vem querida!

Assim saímos de casa, e no carro vintage do meu pai, ouvimos música brasileira alta no rádio. Rimos e conversamos sobre bobagens até chegar ao restaurante. Mudamos quase que completamente de postura, nos ajeitamos e entramos no restaurante. Nossa mesa era privilegiada, incrível como meu pai realmente conseguiu isso rápido, assim que nos sentamos, já trouxeram vinho e tudo mais, meu pai bebeu só água por que estava dirigindo, mas ele sabe o quanto eu gosto de vinho.

— Então querida, eu queria conversar uma coisa com você. - Ele iniciou a conversa em tom sério cruzando os braços em seguida.

— Pode falar pai, sou toda ouvidos. - Correspondi a seriedade de sua voz, tinham quase convicção prévia que ele tinha algum tipo de assunto sério para tratar comigo.

— Você sabe que eu tenho algumas ações no Brasil, certo?

— Sim, o senhor já me disse sobre isso. Supermercados, farmácias, hospitais e tudo mais, comércio no geral, certo? - Cerrei os olhos suavemente, curiosa com o respectivo assunto.

— Exatamente. E esse é o ponto, caso aconteça alguma coisa comigo, essas ações estão no seu nome. Você sempre foi a minha menina, a de pensamento mais rápido e que sempre consegue o que quer. Então tudo que tenho, está nas suas mãos quando eu morrer. - Puxou o cardápio e começou a passar suas páginas.

— Pai, não diga coisas desse sentido. - Dei um gole do vinho e voltei a olhá-lo com a expressão ligeiramente indignada. - Não acontecerá nada com o senhor. Eu garanto.

— Não pode garantir coisas fora do seu poder querida, você não é uma entidade superior para decidir quando alguém morre, ou até quando um velho continuará vivo. - Ele sorriu. - Mas chega deste papo, vamos apenas comer e conversar sobre outras coisas. Como vai os ensaios?

Mesmo iniciando um papo genérico em seguida, aquilo me deixou com uma pulga atrás da orelha, ele nunca diz coisas mórbidas ou nesse sentido, o que me assustou. Eu não pude ignorar os pensamentos sobre isso, mas talvez seja só preocupação, não vai acontecer nada e eu sei disso.