Capítulo 19

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RAFAEL.

Ver Madu daquele jeito me desmontou, me deixou de uma forma que eu não imaginava que ficaria. Eu não sei o que diabos essa mulher fez comigo, eu não consigo parar de pensar no que deve ter acontecido dentro daquela casa pra deixar ela nesse estado. E cada vez que eu penso, me dá vontade de socar o primeiro que eu ver pela frente.

Quando chegamos aqui, ela reconheceu Cauê da festa. Eu sei que ele se arrependeu de ter feito aquilo, mas não tiro a razão de Maria, até porque ela não o conhece como eu conheço. E o olhar dela pra mim, cheio de dúvidas, um pingo de decepção.

Voltei pra sala depois de ter deixado ela no quarto e eles ainda estavam em silêncio. Cauê me olhou e Felipe parecia querer rir.

- Cara, eu tenho tantas perguntas. - Felipe quebrou o silêncio. - Essa era a sua visita domingo? Porque a garota tá toda arrebentada?

- É pessoal dela, não vou dizer. - eu falei e me joguei no sofá.

Estava mentalmente cansado, pensava em tudo o que estava acontecendo e isso me cansava ainda mais.

- Pô cara, ela deve ter ódio de mim, preciso me redimir. - Cauê falou com a cabeça baixa.

- Ódio ela tem com certeza. - Felipe falou e se virou pra mim. - Cara no que você estava pensando quando se envolveu com ela? Ela é filha de quem a gente quer a cabeça na bandeja.

- Mas porra, ela não tem nada a ver com o pai. Eu sei o que tô fazendo.

- E o pai dela já sabe quem você é? - Cauê perguntou.

- Não sabia, mas a essa altura já deve saber. - dei de ombros e peguei a coca cola que eles trouxeram pra mim, abri e levei a boca tomando dois goles. Estava geladinha como eu gosto.

Eles abriram a pizza e comeram devagar conversando, mas eu não estava com cabeça nenhuma pra bater papo assim.

Madu devia estar com fome. Será que uma fatia de pizza abriria o apetite dela? Diana disse que ela não comia, nem sentia fome, mas talvez algo gostoso deixaria ela com fome.

- Já volto. - peguei duas fatias e levei pro meu quarto onde ela tava encolhida na beira da cama, não estava dormindo, só tava com os olhos fechados.

- Linda... - a chamei baixo pra que não a assustasse e ela abriu os olhos devagar me encarando.

- Oi... - deu um meio sorriso.

- Você precisa comer, trouxe pizza. - estendi o prato pra ela.

- Obrigada, mas eu não tô com fome. - ela voltou a fechar os olhos e se encolheu novamente na cama.

- Por favor, Madu. Vai acabar desmaiando se ficar mais tempo sem comer. - olhei pra ela que respirou fundo e se sentou na cama devagar.

- Obrigada por ter me tirado de lá, eu entraria em colapso se passasse mais tempo dentro daquela casa. - ela falou baixo, quase inaudível.

- Não precisa agradecer, princesa. - beijei a boca dela antes de ela morder o primeiro pedaço de pizza.

- Isso tá uma delicia. - ela falou com a boca cheia e deu um mini sorriso de lado e eu ri porque meu plano tinha dado certo, era só dar uma comida boa que o apetite voltava.

- Come bem, eu vou expulsar os meninos e trazer alguma coisa pra você beber. - ela negou com a cabeça.

- Não expulsa eles não, não quero atrapalhar, eles já estavam aqui antes de mim e seria chato irem embora porque eu cheguei. Eu vou ficar quietinha aqui, não se preocupa comigo.

- Vai ficar bem aí mesmo? - ela afirmou com a cabeça. - Eu não vou demorar, vou só fazer companhia pra eles, e depois que eles forem pra casa eu volto pra ficar contigo.

- Sem pressa, eu vou ficar bem aqui.

Dei um selinho nela e beijei sua testa antes de sair do quarto e deixar ela comendo.

- Ei, sábado a gente vai fazer um baile lá na Rocinha. Pra comemorar o retorno do pai. Queria que vocês fossem, são meus irmãos. - Cauê falou e eu assenti colocando um pedaço de pizza na boca.

- Pode confirmar que eu vou. - ele bateu a mão na minha e Felipe confirmou que ia também.

- Não recuso baile, bebê. - Felipe falou e a gente riu.

- Baile tu recusa, puta que não. - eu falei e ele deu de ombros.

- Essa vida foi feita pra viver. E eu escolhi viver comendo puta, Deus me livre ficar amarrado a uma mulher só. - eu e Cauê nos olhamos com a fala dele e rimos.

- A gente ainda vai te ver pagando com a língua, e eu vou rir muito quando isso acontecer. - eu falei negando com a cabeça.

- Cara tu colocou puta e Deus na mesma frase, tu acha que vai pro céu? - Cauê fez graça.

- Não vou pro céu de jeito nenhum, capaz de até o inferno me rejeitar. - eles gargalharam.

Ficamos lá jogando conversa fora, e umas onze horas eles foram pra casa. Eu juntei toda a louça e lavei, dona Jane voltaria a trabalhar amanhã mas não ia cair minha mão se eu lavasse pelo menos uma parte.

Voltei pro quarto e Madu não estava na cama, mas estava na sacada, sentada no sofá que tinha ali fora que eu costumava sentar quando queria fumar e alinhar meus pensamentos.

Ela me viu aproximando e deu um quase sorriso.

Puxei ela pela mão, ela se levantou e eu me sentei no sofá que era médio, e puxei ela pra que sentasse no meu colo. Ela se sentou de lado nas minhas pernas e escondeu a cabeça no vão do meu pescoço.

- Seu cheiro é muito bom. - ela disse e respirou bem no meu pescoço me arrepiando.

- O seu é melhor, linda. - inalei seu cheiro e ela já tinha tomado banho, estava com uma roupa minha que já tinha tomado liberdade pra pegar.

Queria que ela ficasse realmente a vontade, faria de tudo pra que ela se sentisse em casa. Coisa que ela talvez nunca tenha sentido na casa onde morava antes.

Madu era uma mulher forte, admirável. Passou por muita coisa e permaneceu com sua índole, com sua personalidade de menina mas o caráter de mulher. Eu realmente tava curtindo ela, gostando disso como nunca.

Nunca fui de uma mulher só, nunca tive um relacionamento, não sei nem como funciona. Mas Maria Eduarda desperta em mim a vontade de firmar algo verdadeiro com ela.

Mas eu esperaria uma iniciativa dela, um sinal de que as intenções dela eram as mesmas.

- Vamo deitar? - ela assentiu ainda com o rosto no meu pescoço.

Levantei com ela no colo e fui até a cama que não era longe. Deitei ela e me deitei do seu lado trazendo ela pra deitar no meu peito. Mais uma vez, seus dedos contornaram minhas tatuagens mas dessa vez ela não perguntou o significado de nenhuma. Estava calada, quieta. E eu entendia que no tempo dela ela iria se soltar novamente e tagarelar pra mim como fazia antes.

O CHEFE DO TRÁFICO [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora