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No início, tudo estava escuro. Um grande breu cobria todo o lugar, mas eu sabia que não estava em casa. Sentia a neve embaixo dos meus pés e um terrível frio congelar aos poucos cada parte do meu corpo. Meio curvada, comecei a dar passos arrastados para frente tentando achar algum lugar que houvesse luz ou abrigo.

Aos poucos meus olhos se acostumaram com a total escuridão e consegui ver que estava no meio de uma floresta , que até o presente momento, era desconhecida por mim. A neve cobria tudo o que tinha vida, e eu não estava por fora. Sentia minhas mãos e meus pés dormentes, e a pouca roupa não ajudava. Minha situação dificultava minha respiração, e eu sentia minha garganta arranhar.

Meu corpo inteiro tremia. Eu estava com medo, muito medo. Não sabia onde estava e nem como cheguei nessa situação, e essa confusão fazia-me temer, pela primeira vez, a morte.

Minhas pernas tremeram e logo me encontrei com a neve em um baque surdo. Estava sem forças, sentia o frio querer me transformar em um estátua petrificada e sem vida. Obriguei meu corpo a se arrastar para uma árvore próxima e também coberta de neve. Naquele momento, eu e ela éramos as únicas criaturas com vida naquele lugar silencioso e mórbido.

Sentei e apoiei-me em seu tronco gelado e duro, abraçando a mim mesma em uma tentativa inútil de fazer o frio passar.

Não podia me ver, mas sabia que estava igual a um cadáver. A triste realidade me fez perceber que não só parecia, como logo me tornaria um. Talvez a neve cobrisse meu corpo inteiro e depois de meses, ou até anos, aventureiros poderiam vir a essa área e ter a tristeza e o choque de encontrar meu corpo petrificado.
Eu poderia estar nessa mesma posição que estou agora, sentada e abraçada as pernas como uma criança fica quando chora; e com as costas grudadas à árvore. Talvez, nesse dia, eu já faça parte dela.

Estava sentindo meu corpo amolecer e meus sentidos ficarem lentos enquanto eu esperava o tempo passar e minha dor dar lugar ao alívio eterno, onde sei que não haverá volta, mas ainda será um alívio.

Mas um resmungo me despertou a atenção. Levantei a cabeça até então apoiada em minhas pernas e encarei outra árvore mais à frente. Em sua raiz, estava deitado um lobo branco.

O medo de ser morta por aquele animal me dominou, mas logo se transformou em um nada quando vi que seus resmungos não eram de ameaça, mas de alívio. Parecia que ele nem havia notado minha presença, mesmo que nossa distância fosse de poucos metros.

Ele parecia estar com dor e era bem provável que o gelo estivesse lhe trazendo certo alívio. Observei-o durante poucos minutos e decidi me mexer.

Senti uma enorme vontade de chorar e gritar, mas trinquei os dentes e tentei sair daquela posição a qual meu corpo congelou. Talvez meu baixo choro tenha chamado sua atenção, pois logo sua enorme cabeça estava virada em minha direção.

Encarei-o de volta, mas continuei a me mover e deitei-me na neve sem deixar de encará-lo. Apoiei minha cabeça em meus braços e tentei ignorar ao máximo a tremedeira em meu corpo.

Eu ia morrer, já sabia. Talvez, em outra situação, eu não teria me aproximado tanto assim dele, mas meu fim ali era inevitável. Se eu tivesse que morrer, que fosse com estilo e realizando o sonho de me aproximar desse animal tão feroz e protetor familiar.

Minha vista começou a ficar turva e a imagem do lobo já não era nítida. O desespero voltou com tudo, mas eu não conseguia mais me mover. Tudo escureceu e não era possível ver nada.

"Então é assim a morte? Negra e silenciosa?" - pensava enquanto sentia-me sufocar pelo silêncio.

E então, eu acordei.

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⏰ Última atualização: Jun 15, 2015 ⏰

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