Capítulo Único

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Era o fim de uma tarde de um dia que previa chuva durante a noite. Aproximando de um presídio abandonado, haviam quatro garotas, duas estavam conversando e as outras apenas ouvindo. Elas estudaram o ambiente ao seu redor e logo entraram no lugar. O grupo adentrou em um corredor que fedia muito, mas isso não abalou sua convicção. Um barulho estranho soou do fundo e assustou Emily, que pulou nos braços de sua namorada, Helena. Logo depois, as meninas viram um cavalo branco saindo da direita no final do corredor e as outras três riram da reação de Emily, que mostrou a língua infantilmente.

Seguindo em frente, as garotas notaram marcas na parede que pareciam ter sido feitas por um animal de grande porte com garras afiadas. O chão estava sujo de fezes por todo canto e o lugar também apresentava indícios de incêndio. Enquanto elas subiam a escada para o segundo andar, um morcego passou voando por elas. Naquele piso, elas encontraram uma fogueira apagada. Sem demora, elas chegaram no terceiro andar e descobriram ter sangue fresco no chão. Pela primeira vez, elas sentiram um pouco de medo real e duas queriam partir, porém foram convencidas pelas outras a continuar explorando. Continuando, o grupo chegou a um grande salão.

Mais sons estranhos vieram de um grande buraco no teto e dessa vez elas sabiam que não poderiam ser de algo já visto antes. Todas empalideceram com o monstro de três metros que saltou e pousou na frente delas. Ele tinha a aparência de uma aranha gigante e deformada, esguio, com seis braços e quatro pernas. No lugar de olhos, havia somente um vazio avassalador. Além disso, flechas e estacas perfuravam seu corpo. Em seu estômago, uma joia cercada por ossos brilhava com uma luz escarlate. A criatura soltou um grito estridente e avançou contra as quatro.

Amedrontadas mas não indefesas, Elizabeth desembainhou sua espada da cintura de Emily, que a trouxe para tirar fotos. Emma esquivou-se do ataque com agilidade e Helena, que pratica capoeira desde os nove anos e possui o físico mais atlético das garotas, moveu-se para trás e protegeu sua namorada atrás de si. Emily, que só sabia cozinhar, naturalmente se sentiu grata e aliviada por estar sendo cuidada. Elizabeth percebeu que o monstro provavelmente não enxergava e, consequentemente, deveria orientar-se pela audição.

Sabendo disso, enquanto todas esforçavam-se para ficar longe do alcance da criatura, ela mencionou sua teoria e as meninas criaram um plano. O grupo há muito tinha um entendimento tácito e seguiram seus instintos, aproveitando-se dos barulhos e rangidos que o piso de taco da prisão causava para tentar atordoar o gigante, e Emily silenciosamente se afastou da luta. Ela tentou ajudar pegando pedaços de madeira, grandes e pequenos, espalhados pelo salão, para lançar no monstro distraindo-o para que suas amigas agissem.

As outras três eram jovens e enérgicas, porém inexperientes. Elizabeth, uma esgrimista e a única com uma arma, tornou-se a principal atacante e constantemente buscava aberturas para desferir golpes, ainda que não surtissem muito efeito. Helena não tinha muitas oportunidades de chutar ou atingir a criatura porque estava muito longe dos oponentes que já enfrentou, mas ela se adaptou e usou diferentes estilos de luta, não sendo muito pior que Elizabeth. Emma era dançarina e não sabia lutar, seu ponto forte era sua flexibilidade e ela estava acostumada a usar bem o seu corpo para se mover, então bastava que ela tivesse criatividade para copiar ou inventar ataques por si só.

O monstro protegia ferozmente a joia em seu estômago, e as garotas logo notaram isso. Enquanto as outras o distraíam de todos os jeitos e formas, Elizabeth avançou passo a passo e, no ângulo e momento certos, lançou sua espada na pedra. Enquanto viam a joia extremamente frágil partir-se em pedaços aos poucos, a criatura falou pela primeira vez com uma voz longa e áspera: "humanos... são os verdadeiros monstros". Em poucos segundos, a criatura e a joia fragmentaram-se e desapareceram, como se nunca estivessem ali.

As meninas, exaustas e feridas, deixaram o presídio abandonado para trás. Nem a chuva que caía sobre elas ou o céu escuro conseguiram deixar seu humor mais sombrio do que o monstro e suas últimas palavras. Emily não suportava ver sua namorada angustiada e só podia abraçá-la em silêncio. Elizabeth não conseguia parar de pensar no motivo de o monstro ter desperdiçado seu último fôlego restante para dizer algo tão vago, como se essa fosse sua opinião mais importante. Talvez ele acreditasse realmente nisso... e ela também.

Somente um vazioOnde histórias criam vida. Descubra agora