O ar da noite está crepitante.
Agatha podia sentir as pontas dos dedos formigando, como se deles fossem sair algo, a qualquer instante. Ela conhece muito bem essa sensação, é a de expectativa misturada com adrenalina! Céus, ela adora sentir isso, esse poder correndo por suas veias como uma promessa viva.
A festa da empresa La Selva sempre foi muito concorrido, afinal não é todo dia que tem um evento desse porte em Nova Primavera. É uma tradição que Antônio segue à risca desde que fundou a empresa, promover um grande baile para todas as famílias da cidade para todos verem o seu poder! E todos sabem o quanto esse evento é raro. Não é segredo que Antônio detesta esse tipo de coisa, mas ao mesmo tempo, ele adora que todos o vejam como o senhor todo poderoso de Nova Primavera! Então, todos compareceram, vindo de quilômetros das redondezas.
Antônio, obviamente não organizou o evento. Tinha empregados para cuidar de todos detalhes, além da atual esposa para resolver outras necessidades, como os arranjos florais no salão e a escolha dos pratos do jantar. Porém, Caio comentou com ela que o pai demonstrou mais interesse do que o normal nos preparativos deste evento, como por exemplo exigindo que fossem distribuídos Narcisos amarelos por todo salão de baile. Narcisos esses, que são suas flores preferidas, pensou sorrindo ao descer do carro.
Os convidados estavam espalhados pelo grande salão, observou aceitando de bom grado o braço que Caio lhe oferecia. Sorriu ainda mais ao ver o orgulho estampado no rosto dele por entrar com ela de braços dados. Caio. Seu filho. O olhou com amor sentindo o coração de repente pesar ao lembrar que quando chegasse a hora teria que partir. Teria que deixá-lo novamente. Não tinha jeito. Mas, não era hora de pensar nisso, decidiu-se. Quer que esta noite seja especial. Memorável!
Sentindo a confiança vibrar dentro de si, entrou com Caio. Todos os olhares se voltaram para eles, quer dizer, para ela! Por um segundo sentiu o crepitar no ar, sorriu largo, adorava os olhares para si, admirados, desejosos, invejosos! Sabe muito bem o que causa, o que só torna tudo mais instigante!
Caio fez questão de levá-la de mesa em mesa, andando de um lado a outro, sorrindo, cumprimentando, revendo velhos conhecidos, recebendo elogios, distribuindo sorrisos. E uma coisa ficou clara, podia ter passado 25 anos longe, mas para todas aquelas pessoas, ela continua sendo a dona Ágatha, do doutor Antônio! Ah, o poder do laço!
De frente para a entrada estava a mesa do Antônio e família. Viu quando ele e a Irene estavam prestes a brindar quando ele a viu entrando. Sorriu para ele vendo a taça ficar a meio do caminho. Antônio acenou com a cabeça para ela deixando um sorriso de lado escapar. Foi dado o primeiro passo.
Continuando andando pelo salão viu pelo canto do olho eles acompanhando seus passos, seus gestos, cada respiração. Lógico, que cada um com um pensamento, a Irene certamente querendo lhe matar, já o Antônio estava visivelmente perturbado pelo fato de não ter ido lá cumprimentá-lo! Se tem uma coisa que sabe é que ele odeia é ser ignorado por ela, é vê-la dando atenção a outros e não a ele, é vê outros recebendo o que acredita ser dele! Mesmo de costas sentia o olhar dele lhe queimando, consumindo, incendiando, e sorrindo de lado decidiu dar o segundo passo ao chegar na mesa do Ademir.
O salão estava realmente magnífico, pensou Antônio quando chegou e se viu de pé, cumprimentando a todos que iam chegando. Vestia seu usual traje social preto, com Irene ao seu lado. Os Narcisos amarelos estavam por todos os lados assim como pediu, queria que quando Agatha visse soubesse que eram pra ela! Que ele tinha feito aquilo por ela.
E como se o pensamento a atraísse, Agatha entrava ladeada pelo filho deles no salão. Adorável. Agatha Moura La Selva, sorria transbordando luz e alegria ao cumprimentar a todos por quem passava roubando a cena. O vestido verde musgo com mangas longas que deixava os ombros desnudos, e na altura dos joelhos, deixava o colo à mostra sem ser vulgar, mas fazendo a imaginação viajar. Os botões na frente davam um ar de promessa para quem os abrisse, a cintura marcada pelo cinto marrom só a deixava ainda mais atraente. E tinha os olhos verdes. Que só a deixava parecendo um pedaço de primavera em meio a sua plantação. O coração de Antônio se elevou ao vê-la.
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Eu te quero e preciso.
FanfictionO plano era absurdamente simples, provocar o Antônio, despertar o velho ciúmes, mas claro que com Antônio La Selva, nada é simples!