1 - PRÓLOGO.

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São por volta das quatro horas da tarde enquanto ando pelas ruas movimentadas de Seul. A Tensão e o desespero eram tão materiais que poderiam ser apalpados ou até mesmo cortados por uma faca.
As esquinas eram tomadas por gritos, cartazes, choros de desespero, manifestações e protestos. Era apavorante demais e eu só sabia esconder minhas mãos suadas nos bolsos do meu casaco.

— O que será de nossas crianças se crescerem nessas circunstâncias violentas?
O que ganham colocando nossas famílias em risco?? — Alguém contestou. Já não havia mais o que fazer, era inútil.

Comecei a remexer a embalagem de comprimidos recém-comprados em meu bolso, quase os esqueci. Não sei como passaria essa noite sem eles, eu já estou em pânico o suficiente. Todos estamos.
Segui caminho até o pequeno prédio onde morava. Era um lugar simples e muito utilizado a fim de alugar seus apartamentos para os alunos que frequentavam a universidade local. Adentro o estabelecimento quase junto de um jovem loiro que veio pelo outro lado. Era San, o cara do apartamento em frente ao meu.
Seu rosto era tenso e indecifrável.

— Boa tarde. — Digo ao rapaz que acena com a cabeça para mim. Queria poder dizer mais alguma coisa, mas naquela situação, era complicado.

Imagino que San esteja de certa forma preparado para o que está por vir, afinal, ele tem um grau considerável de preparação militar. Me recordo de vê-lo carregando grandes tábuas de madeira alguns dias antes, provavelmente para reforçar a segurança.
O caminho do elevador até nossos apartamentos é tão silencioso que me causa desconforto. Estamos agindo como desconhecidos.
Não confie em ninguém.

Destravo a porta com minha chave e entro em casa, finalmente. Dou uma breve olhada antes de tirar meus sapatos: A casa estava limpa, as janelas estavam cobertas e Seonghwa estava falando ao telefone. Não consigo ouvir muito bem a conversa, mas assim que ele percebe minha presença, o desliga.

— Você demorou. — Ele diz quase como uma bronca. Estou acostumado com essas coisas, esse é o tipo de Seonghwa.
— Me desculpe, mãe. Lá fora está uma bagunça.
Falo jogando a cartela de comprimidos encima da pequena mesa de centro. Seonghwa apenas me observa com um olhar baixo e sério. Tivemos uma pequena discussão na noite anterior, acho que são os sentimentos à flor da pele. Dividimos o apartamento por quase dois anos e nunca tivemos uma discussão desse tipo. Era estranho para nós dois.

— Olha… eu sei que está planejando uma festa surpresa para mim, não precisa disfarçar. — Dou risada do meu próprio comentário. Seonghwa fez uma careta e soltou uma risada curta que foi o suficiente para aliviar-me da angústia que era estar brigado com ele.

— Eu vi o San hoje. Agora pouco, na verdade. Ele está bem nervoso também.

Começo a falar com o intuito de gerar um assunto. Ele apenas me encara.

— E quem não está? — Ele fez uma pausa. — Wooyoung e Yeosang estão desesperados. — Disse enquanto teclava algo em seu aparelho.

Yeosang e Wooyoung são os colegas de apartamento de San. Eles são amigos desde muito pequenos e fizeram de tudo para ingressar na mesma faculdade.

— Imagino… Quer dizer, eu não entendo o porquê de não podermos ficar todos juntos essa noite. Iríamos juntar nossos recursos e forças para nos proteger, não é uma boa ideia?

Seonghwa me avaliou de cima a baixo, o olhar era de reprovação.

— Não confie em ninguém. Nós não sabemos o que as pessoas irão se tornar esta noite, Hongjoong. Eu, você, San, Wooyoung e Yeosang somos amigos anualmente por trezentos e sessenta e quatro dias. Hoje, não somos.

O tom de Seonghwa era áspero e simples, nunca o ouvi falar dessa forma antes. Ele é adorável, mas quando está com raiva, é assustador.
Apenas assinto e solto um suspiro. Eu só preciso de um banho e descanso por agora, não quero mais discutir. Tiro meu casaco e ando até o banheiro.

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Estamos em frente a televisão jantando um prato de ramen que eu preparei. No momento a programação era de um desenho qualquer em alguma rede aberta. Eu e Seonghwa sabíamos o que estávamos esperando.
Pouco antes de oito horas, o programa foi interrompido por uma tela azul e um barulho alto.

Palavras começaram a rolar na tela, juntamente à uma voz feminina.

"Isso não é um teste.
É o sistema de transmissão de emergência anunciando o início da purificação anual aprovada pelo governo da Coréia do Sul.

Armas de classe quatro ou abaixo foram autorizadas para o uso durante a purificação. O uso de qualquer outro armamento é restrito.

Oficiais do governo de nível dez, receberão imunidade durante a purificação e não poderão ser feridos.

Ao toque da sirene, todo e qualquer crime, incluindo assassinato, serão permitidos durante doze horas contínuas.

A polícia, os bombeiros e os serviços médicos de emergência estarão indisponíveis até amanhã às sete da manhã, quando a purificação estará encerrada.

Abençoado seja nossos pais fundadores e nossa nação que será renascida.

Que Deus esteja com vocês.

E uma sirene altíssima toca.

Minha cabeça gira e minhas mãos tremem. Seonghwa olha pra mim com hesitação e eu apenas sinto meus pulmões tão pesados que respirar dói.
De repente, escuto um disparo que parece vir da rua à nossa frente.

O pesadelo oficialmente começou.

Doze horas. - ATEEZ.Onde histórias criam vida. Descubra agora