Prólogo

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    — Não há nada de interessante neste bosque! – O jovem príncipe disse enquanto olhava para os musgos que cobriam os troncos caídos em sua volta.

       O clima estava gélido, o que era um tanto fora do comum, já que era primavera. Mas os bosques estavam frios, fantasmagóricos e macabras. Ainda assim, havia uma beleza incontável nas folhagens e criaturas ali, algumas raposas, umas lebres aqui e ali. Borboletas brincando por entre as ondas de vento, cogumelos de todos os tipos e formas, havia uma teoria dentro do velho Merid, de que a floresta estava escondendo sua verdadeira face.

— Eu não diria isso meu príncipe, há histórias, de que está floresta, é viva e mágica, com tantas criaturas tenebrosas e assustadoras, que podem estraçalhar um homem ao meio apenas com uma investida. - o jovem soldado disse encarando o córrego a sua frente.

         Ventos partiam do vasto sul, correndo entre as copas das árvores altas, era pesado, e tentava alertar-los de algo. Lorde Vilien estava confiante de que na alvorada do dia seguinte já estariam voltando para a cidade imperial, o que o homem na flor da idade não esperava, era que sua caça-ao-tesouro, estava preste a terminar.
        O príncipe Karde semicerrou os olhos esverdeados, profundos e sombrios. Seu cabelo dourado formavam ondas sobe sua cabeça, uma mecha rebelde pairava sobre sua testa que estava tomava por ondas de expressões interferentes. Ele encarava o pequeno grupo que começava a montar o acampamento.
     Seu manto negro de pele de urso, dava-lhe um aspecto importante, embora tivesse o título de futuro herdeiro de Warrior, não havia inteligência, muito menos elegância, o jovem príncipe não passava de alguém imaturo e egoísta, aquela expedição era um erro, e até que deixasse seus pensamentos ganharem vida, devia manter as aparências, ou iria ser titulado como um nobre que desobedece as ordens de seu pai e não merece o título que tem, o rapaz desprezava ser diminuído.
    A floresta de Velejar era vasta, verde e viva, selvagem e um lugar perigoso quando as estrelas beijavam o céu escuro. Naquela tarde, os ventos sopravam fortes, cativavam os rostos dos soldados e dos lordes, alguns deles saíram para caçar, mas não encontraram nada, o jantar não seria tão gordo aquela noite.

— Meu príncipe, pelos meus cálculos estaremos de volta à cidade imperial em breve. - Loyad olhava os mapas dentro da tenda.

— Acredito que vamos perder muito tempo aqui se não encontrarmos o que precisamos. - o príncipe Karde comia algumas frutas, com sua venha expressão de desdém.

— Se me permite meu príncipe, estamos há algumas horas do local exato da flor, mas precisamos ir quando amanhecer, a floresta é imersa e perigosa quando anoitece. - o velho Merid o assegurou com confiança.

    Karde não protestou, confiava no velho, no fundo era o único que conseguia arrancar mais que suas palavras irritantes e seu jeito arrogante.
    O acampamento foi levantado, uma fogueira se fez, o calor começou a ficar tinindo e pinicando conforme aquecia os casacos grandes e grotescos dos lordes, que incomodados os tiraram e usaram como almofadas para um conforto melhor.
   Normalmente, o clima friento daquelas bandas durante a noite podiam os deixar confortáveis conforme se aquecessem no calor da fogueira, mas a floresta começou a ficar quente, como se tivessem tapado o ar, e conforme a noite envelhecia, a floresta era tomada pela vasta escuridão.
   Diferente de boa parte das florestas que havia aos derredores dos reinos, Velejar era a favorita dos contadores de histórias e estudiosos. Eram terras desconhecidas, e perigosas como os oceanos, o homem nunca havia alterado sua natureza, era pura e selvagem.

— Assustador! - Lorde Vilien sussurrou ao seu leal guarda.
A fogueira estava alta, e a floresta silenciosa.

— Conheci um velho amigo, muito tempo atrás, ele era fanático por estas terras, afirmava cegamente em lendas e histórias sobre estas bandas, dos povos e raças que habitavam este vasto verde. - Merid estava pronto para mais uma de suas histórias fantásticas.

— Uma vez, ouvi boatos de que existem dríades poderosas, que seduzem os homens para comê-los e engoli-los pelas entranhas de suas árvores ferozes. - Loyad falou olhando para Merid.

— Certa vez, meu tataravô contou que há um reino deles, de todas essas aberrações, a chamavam de Goldarmor, o reino das sombras. - lorde Vilien disse por fim.

— Caro lorde Vilien, deixe de acreditar em tais histórias! Este povo é uma lenda para assustar crianças inocentes, e afinal, se tivessem um reino, iam reinar sobre o que e a quem? Pedras? Raizes? Arvores? É só o que vejo. - o jovem príncipe riu da própria piada, alta e nem um pouco contida, sua risada ecoou pela escuridão da floresta adentro.

    Algo os espreitavam nas trevas da floresta, soltava gargarejos horripilantes, e um grunhido apertado, como se fosse velho, sua chegada logo ficou ainda mais interessante. Conforme a lua era coberta pelas nuvens, e a fogueira se tornava mais viva, a floresta estava furiosa, e acima de tudo, estava viva.

— Quem está aí? - Merid perguntou assustado, a voz do velho saiu trêmula.

"Quem está aí?"
Sussurros repetiam a pergunta do velho.

— Apareçam aberrações! - Karde exigiu com desprezo.

Um vento forte soprou das árvores e a fogueira se apagou, os soldados desembainharam suas armas e ficaram em posição de ataque.

— Protejam o príncipe e os lordes. - um dos soldados exclamou.

Mas então, tudo ficou em silêncio, por um curto momento, é como se o mundo tivesse parado, como se tivessem congelado as árvores e o ar. Nada se ouviu por um tempo.

— Vocês entram em nossos domínios, usam suas bocas profanas para falar do nosso povo, e ainda nos chamam de aberrações. - Um ser de tamanho médio e velho saiu das sombras, seu manto com capuz cobria o corpo velho e marcado pelos ossos amostra debaixo da pele fina, apenas seu grande fuço ficava amostra, lembrava os de um lobo.

— O que querem conosco humanos? - outra figura parecida saiu das sombras, mas esta tinha escamas nos curtos braços uniformes, e tinha um timbre feminino em sua voz.

— Eles querem a flor. - outra figura respondeu à pergunta.

Houve risos cansados dos três seres, que desdenhavam da atitude dos homens em sua presença.

    A flor dava imortalidade a quem a comesse, ela nascia a cada duzentos anos, e naquela primavera, ela desabrocharia em uma caverna próxima, tal flor era cobiçada por muitos, e acreditem, o pequeno grupo de homens não eram os únicos por aquelas bandas em busca da tal flor.

— Quem são vocês e o que querem? - Vilien exigiu respostas, o tom de sua voz era um tanto inseguro e amedrontado ao mesmo tempo.

— Somos Tu, somos Eus, somos Nós, somos Somos. - uma das figuras respondeu.

— Somos os de mil faces. – a voz feminina de uma das vozes também respondeu.

— Somos muito antes do mundo existir. – por fim a última figura respondeu abruptamente.

    Uma das criaturas partiu para o ataque, fazendo assim, com que os soldados começassem a lutar, embora fossem velhos como pedra, eram ágeis como raposas. Se teletransportavam de um lado para o outro, ferindo o grupo com rapidez, até que um dos soldados acertou uma das figuras.

Um grunhido se ouviu e a figura que antes eram três, se personificou em uma, sua voz estava mais firme, porém furiosa, seu tamanho havia dobrado, seus olhos brilhavam na escuridão do capuz.

— Ouçam bem sua pragas mortais, se ao amanhecer, ainda estiverem atrás da flor, não ficarão vivos para contar histórias mentirosas para seus filhos, de quem somos ou quem éramos, nós fomos só um petisco, quando a fúria da floresta sussurrar para os mais valentes, a luz do dia não será o suficiente para protegê-los.

    Dito isto, a figura desapareceu na escuridão, a lua voltou a brilhar sobre o céu prateado, a floresta voltou a sua individualidade mortal, alguns dos soldados estavam mortos, outros feridos e Karde furioso.

A IRMANDADE DA LUZ: E os quatro Guardiões.Onde histórias criam vida. Descubra agora