I: Distração

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O clima ensolarado e o cheiro de flores, típicos de Jardins de Cima, eram os mesmos. A mesa ao ar livre com os mais variados tipos de tortas e refrescos continuava lá enquanto o dia parecia ser só mais um no paraíso. Meus irmãos se levantavam da mesa em direção a seus afazeres e eu os seguia, como sempre. Foi quando minha avó, Olenna, me parou.

"Você não, Agatha. Temos que conversar", ela apontou para a cadeira onde eu estava sentada.

Retornei à mesa, olhando de canto para meus irmãos saindo. Fiquei intrigada ao ver o sorriso de Loras em minha direção, aquele que ele lançava quando queria me consolar. Seja lá o que eu ouviria, o moço já ouviu e está de acordo, mas temendo por mim.

"Então, você sabe que estamos sem representação no Pequeno Conselho, não sabe, querida?", indagou com uma das mãos apoiando o queixo, refletindo, como era de costume.

Acenei com a cabeça, redirecionando minha atenção e pensando bem no ocorrido. Meu pai, Lorde Mace Tyrell, ficara doente. Uma infecção, pelo que ouvi dos meistres. Não tão grave, mas o bastante para afastar o Supremo Marechal da Campina por semanas, o que é uma falta imensa. Nossa Casa precisa de uma voz em Porto Real, influenciando na tomada das grandes decisões.

"Uma reunião do Pequeno Conselho foi convocada para daqui algumas semanas", mulher prossegue, mostrando uma carta em mãos enviada pelo própria rainha. "Uma na qual, obviamente, seu pai não poderá comparecer. Então, conversei muito com conselheiros, filhos, netos... E até que você pode vir a ser útil nisso tudo", Olenna sorriu em silêncio enquanto suas palavras faziam efeito total na minha mente, levando minha reação a crescer aos poucos, como ela sabia que aconteceria.

E ela cresceu, se mostrando em forma de curiosidade temerosa. Meu corpo se enrijeceu e minha mente corria entre possibilidades.

"E eu suponho que a senhora NÃO esteja pensando em enviar a MIM para representar a Casa Tyrell, correto?", perguntei, desconfiada.

A senhora ri.

"Sabe que eu odeio quando alguém se faz de tolo sem necessidade. Correto, é exatamente nisso que eu estou pensando."

Não fazia sentido, simplesmente não fazia. Nossa casa é a sengunda maior e mais rica de Westeros, atrás apenas dos Lannisters. Estamos sempre ativos no grande jogo. Como assim, eu, uma mulher jovem que veste calças e fala pelos cotovelos, no meio dos homens mais ricos e influentes do país e falando diretamente com a rainha Cersei, é um movimento inteligente?

"Mas por que não enviam Willas?", questionei, claramente inconformada, gesticulando para a direção por onde meus irmãos saíram. "Ele é o primogênito, homem, herdeiro de Jardins de Cima e..."

"Sim, sim, sim, eu sei quem ele é, garota", fui interrompida. "Também sei que mandar a minha neta caçula para dividir sala com a monarca puta e seus abutres é a ideia mais estúpida que já ouvi em semanas. No entanto, nossa ausência naquela mesa será sentida e usada como brecha. Precisamos de alguém que fale e bem alto. Cada um recebeu um papel nesses tempos. Este é o seu" Olenna pontuou.

"Espera aí...", eu começo a pensar como se fosse ler a mente da idosa sentada à minha frente. "Todos com o seu papel, claro. Sou a mais nova, então ganhei o menor. Porém, se o menor ato é simplesmente me embrenhar no Pequeno Conselho, é porque tem um movimento muito grande prestes a ser feito... Um que vai ecoar por todo o continente. Avó...", disse atropeladamente.

Preocupação foi tomando conta de mim enquanto eu pensava em voz alta. Seria uma rebelião aberta? Guerra? Um novo acordo que vai mudar tudo?

Os pássaros não cantavam mais, o movimento das folhas não produzia mais som. Tudo o que eu ouvia era o ruído do caos que NÓS causaríamos.

"Viu? Você só não tem o corpo de um homem, mas sabe impor respeito e intelecto sobre um. Até falha em lidar com mulheres que te apreciam de volta, tal qual um garotinho apaixonado! Uma cópia quase perfeita, de fato."

Nós rimos, o que me ajudou a relaxar um pouco. Eu sempre adorei ouvir suas patadas, histórias e conselhos; seus sermões e suas demonstrações de coragem. Olenna Tyrell prevaleceu sobre um mundo feito para aniquilar pessoas como ela, e eu a admiro demais por isso. Nunca conseguiria a odiar por apontar meus defeitos.

Ela então estende seu braço e segura minha mão gentilmente, seus olhos me servindo de consolo.

"Você é a Rosa de Ferro, nunca se esqueça disso. Conhece o jogo, afinal, eu te ensinei as regras. E você é muito, muito inteligente, Agatha. Faça o que precisa ser feito."

Sorri de canto. O apelido me dado pelo senhorio da Campina até que não soava mal. Começou porque eu sabia empunhar uma espada, depois pelo meu modo de agir resistente. E, não vou mentir, gosto de manter essa fama.

Me senti orgulhosa por um momento. A tão chamada Rainha dos Espinhos sempre esteve à frente de seu tempo; "dois passos além de seus rivais, mais ainda de seus aliados", dizia desde a minha mais tenra idade. E se ela acredita em mim, então eu devo honrar cada uma de suas lições e ser a jogadora que o meu povo precisa que eu seja.

"E o qual é o papel que irei encarnar desta vez, avó?"

"O de uma boa e velha distração. A sua conduta e vestimentas já são uma atração e tanto, eu garanto", sorriu convencida.

Seu olhar então se converteu numa seriedade quase melancólica.

"Não estará só. Sua irmã Margeary está lá, tolerando ser casada com o menino que sobrou da Cersei, Tommen. Pobre rapaz. Ela pode e vai te ajudar. Fora isso... não se atreva a morrer", ela continuou, sua mão apertando a minha com mais força.

"E o que está acontecendo, afinal? Nós entraremos em rebelião contra os Lannisters? Não faz sentido, e..."

"Cumpra o seu papel, Agatha", retrucou confiante. "O reino todo a agradecerá depois."

A Rosa De Ferro - Cersei Lannister (gxg)Onde histórias criam vida. Descubra agora