Tinham sido muitos os motivos que o fizeram se encantar por Helô quando se conheceram. Havia algo sobre a voz de comando e a determinação em saber exatamente o que queria, somado ao espirito livre e aventureiro que faziam com que ele quisesse decifrá-la.
Entre muitas burradas que havia cometido na sua vida de mulherengo, ter perdido Helô sempre seria a maior delas. Na época, depois de um muito tentar, foi um alivio tê-la ali, como amiga e confidente ao longo dos anos, mas a distância emocional que ela havia imposto à ele após ser tão machucada, era algo que ele lutava todos os dias pra aceitar dentro de si, sem muito sucesso (diga-se de passagem).
Perceber depois de tanto tempo, depois de todos os obstáculos e curvas do destino, que ainda a amava, não tinha sido uma grande surpresa. Parando para pensar ao longo dos anos, ele nunca deixou de amar Heloísa Sampaio.
O caminho para reconquistar o amor da delegada não tinha sido fácil, depois de muita insistência, testes e mais testes, depois de muito fazer as malas e ser expulso da casa que –agora- ele podia chamar de deles, ele estava finalmente feliz de novo. Com ela ao seu lado, ele sempre se sentia mais completo, mesmo com a rotina dela cada vez mais insana na policia federal. Os horários de Helô não eram lá muito fixos e ela continuava chegando e saindo em horários absurdos, horários que faziam Stênio se questionar como ela aguentava tudo aquilo.
Mas quando podia, gostava de olhar para Helô dormindo ao seu lado, na cama deles, no quarto deles, na casa deles. Vê-la deitada, ali, mostrava que tudo havia valido a pena. Ainda com a sua capa sobre os olhos para evitar a luz nos seus olhos logo cedo, o cabelo espalhado pelo travesseiro, ela era a personificação do paraíso pro advogado. A visão mais linda do mundo. Sorria pra si mesmo pensando que entre 10 anos de separação e 10 anos de recasamento, seu amor por ela só fazia aumentar.
O cabelo de Helô sempre tinha sido um ponto fraco de Stênio. Sempre que podia (e quando não podia também) ele dava um jeito de tocar nele. Sabia que a delegada também tinha um fraco por isso. Via a maneira como Heloísa Sampaio Alencar perdia a pose de durona e arrepiava, fechando os olhos toda vez que ele mexia nas mechas moreno iluminadas dela.
Podia ser de brincadeira, podia ser mais sexual e podia ser, simplesmente, o maior dos atos de carinho. Deitados juntos no sofá, conversando sobre seu dia enquanto dividiam um vinho. A maneira como a cabeça dela achava naturalmente o caminho para o ombro dele, sabendo que as mãos do advogado caminhariam para o cabelo dela já prontos para fazer o carinho que ela tanto gostava de receber, mas odiava precisar pedir.
Eram muitos anos de história, aprendendo o jeito um do outro. Aprendendo a ler o outro, sem precisar de ajuda ou tradução.
Stênio virou completamente na cama, não conseguindo segurar o ímpeto de passar os dedos pelos cabelos de Helô. A delegada se mexeu de leve, sentindo um movimento, mas ele estava decidido a não parar. Helô se virou na cama, tentando tirar a mão dele dali.
-Stênio, eu preciso dormir – sussurrou ela, mas o fato dela ter falado algo naquela voz baixa e suave, apenas aumentou a vontade de Stênio de chegar mais perto, agora cheirando o cabelo dela enquanto continuava o carinho ali com as mãos.
- Pode dormir, não queria te acordar....- E era verdade...pelo menos uma meia verdade.
Helô tirou o tecido que cobria seus olhos, se virou novamente e olhou nos olhos de Stênio. Toda a intenção de brigar com o advogado por ter sido acordada mais cedo morreu quando ela viu o olhar apaixonado que ele a dirigia. Sorriu de leve, levando suas mãos até aquele rosto que tanto amava, contornado sua mandíbula, sentindo a barba, subindo até o cabelo, enroscando ali os dedos e puxando a cabeça dele até a sua de leve, murmurando junto à sua boca.
- Você sabe que eu não vou conseguir dormir com você fazendo isso.
- Eu sei...eu sei bem..- disse ele fechando a distância entre eles com um beijo, mas ainda conseguia sentir ela sorrindo. Ele amava quando ela fazia isso.
- Bom dia – disse ela afastandoos lábios dois dois, mas ainda segurando o rosto do advogado, fazendo um leve carinho em sua barba.
- Bom dia – respondeu ele, voltando as mãos ao cabelo dela.
- Stênio, qual que é a tua com meu cabelo, hein? – perguntou ela rindo.
- Porquê? Não posso mais gostar do seu cabelo não?
- Pode! Aliás, pode não...- não segurou a vontade e deu um selinho nele antes de continuar - Deve. Só acho engraçado, só isso. – intensificou os carinhos que fazia no cabelo do advogado enquanto completava dizendo - Eu também gosto do seu.
Voltaram a se beijar, e ficaram deitados ali na cama, apenas aproveitando a presença um do outro.
- Helô?- o tom de voz sugeria curiosidade com algo, ela conhecia bem.
- humm?
- Sobre aquele problema lá na tua delegacia...- disse ele, como quem não quer nada...
- Ah, pô Stênio? Ai não, né..
- Me conta Helô, vai...
- Pô, cortou o clima todo – disse ela se desvencilhando dele, levantando da cama. Stênio tentou ainda, sem sucesso, segurar a delegada na cama.
- Não, Helô, volta pra cá.- disse ele rindo, observando ela colocar o robe amarrando ele firme na cintura, propositalmente cobrindo o corpo quase todo.
- NÃO! Mantenha distância! – disse ela se direcionando até a porta do quarto, olhando pra trás uma última vez – É INACRÊditavel que tu me acordou cedo pra isso – disse ela saindo do cômodo.
Stênio ficou rindo na cama até se levantar e ir atrás dela. Ele sempre iria atrás dela.
- HELÔ, VOLTA AQUI....HELÔ!