don't blame me, love made me crazy

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Três dias. Não que importasse para ele, porque não importava, mas fazia três dias que ele não via Atena. Ele não se importava, e se ele subia na cobertura a cada 15 minutos era apenas para saber se estava tudo bem com o velho, não tinha nada a ver com ela.

Não que ele se importasse, mas ele notou que algumas roupas dela haviam sumido da cobertura. Ele notou que o perfume dela lá dentro estava se dissipando sem ela ali todos os dias. Mas ele não se importava. Ainda assim, depois de tanto tempo, agora a cobertura parecia grande demais sem ela ali. Era incomodo ficar ali. Atena era expansiva, onde chegava enchia o ambiente. Tudo ficava pequeno quando ela chegava. Mas ele não se importava.

Desceu para o cafofo de novo e mal se sentou no sofá rasgado, já sentiu o celular vibrar. Era o Tio. A facção precisava se reunir no local de sempre para discutir alguma coisa importante. Por algum motivo, ele se pegou escolhendo roupa para ir até o ponto de encontro. Se a facção toda havia sido convocada, ela estaria lá. Por algum motivo, que nem ele mesmo soube explicar, acabou pegando algumas roupas que Atena havia comprado pra ele. Olhou para o RR bordado e sorriu sozinho. Inferno, de mulher. Até quando ela some sua presença é sentida. Ascânio bateu na porta do cafofo já pedindo carona e pra não deixar o velho sozinho, Romero acabou cedendo.

"Se arrumou todo assim para a facção, foi? Ou é só esperança de ver a fran fran?

"Cala a boca, ô terreno baldio, ou eu te largo no meio do caminho".

Chegaram ao local marcado e viram os membros da facção chegando um por um. Aparentemente o negócio era importante, seja lá qual fosse o motivo do encontro. Viu o carro de Orlando chegando e não deu muito bola já que não se bicava muito com o sujeito. Mas, então, uma risada que ele conhecia muito bem invadiu seus ouvidos e ele foi obrigado a olhar na direção do carro. Olhou apenas a tempo de ver Atena descendo do carro e aceitando o braço que Orlando oferecia para ela e juntos eles foram rumo aos demais.

Ela estava estonteante. Tinha ficado ainda mais bonita nestes três dias afastada dele. Era possível isso? O vestido preto marcando seu corpo e o salto alto, que em nada combinavam com o ambiente, mas combinavam com ela, tiveram um efeito sobre ele que Romero não estava esperando. Ele não conseguia tirar os olhos dela.

Atena não se posicionou junto aos demais, mas sim ao lado do Tio, com Orlando e Zé Maria fechando o grupo que comandava a conversa. O resto era ouvinte, ali estava quem mandava. A mensagem era clara. Olhando para todos os presentes, Atena viu Ascânio e Romero um ao lado do outro. Deu uma gargalhada e gritou ""E ai, velho? Como é que tu tá?", mas não esperou ele responder antes de olhar para Romero, dos pés à cabeça reparando na roupa e sorrindo no canto da boca, antes de dizer "Vitória na Guerra, irmão". Ela desviou o olhar antes mesmo de ouvir a saudação de volta.

Romero sentiu algo diferente, apesar do sorriso que ela deixou escapar havia algo diferente no olhar dela. Não foi um olhar de raiva ou ódio. Também não foi de amor e paixão que ele tão bem conhecia. Foi um olhar de indiferença. Pela primeira vez Romero precisou encarar a possibilidade de não ter Atena. De ter desdenhado tanto do seu amor e dedicação à ponto de perdê-la. Precisou encarrar a possibilidade de que, se não fizesse por onde, poderia não ter ela sempre ao seu lado. Não ter mais suas ideias completamente malucas que sempre davam certo, ou um abraço pra correr quando tudo dava errado. A ideia de não ter mais o corpo dela junto ao dele.

Talvez, apenas talvez, ele se importasse.

A reunião era sobre uma documentação importante para a facção que Atena havia conseguido recuperar das mãos de um policial. A operação, que Romero não fazia ideia da existência, havia durado quase 1 mês e foi intensificada nos últimos três dias. O Tio e Zé Maria agradeciam a Atena pelo feito, e Romero pode ver o ar de reverência (e de desejo) que exalava do restante dos membros para ela. Pode ver a maneira como Orlando colocou o braço na cintura de Atena para dar parabéns e como ela não retirou a mão dele de lá.

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