Parte 1

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Perth e Ohm são irmãos.
Eles tem uma relação muito próxima e amorosa.
Ohm é apaixonado por Nanon, melhor amigo de Perth, mas nunca se declarou e nem contou para ninguém. Nem para seu irmão.

Perth desconfia dos sentimentos de Ohm por Nanon, por isso não deixa que os dois se aproximem.

Perth e Nanon construíram um laço forte de amizade, cumplicidade e dependência.

Como dois bons garotos, eles são comunicativos, educados e prestativos. Eles tem um comportamento socialmente funcional.

Se fosse possível alguém observar de fora as primeiras interações de Nanon e Perth, perceberia que os dois se testavam de maneira bem sutil sobre seus gostos em comum. Citavam filmes e séries de que gostavam, enfatizavam uma ou outra cena mais específica e observavam como o colega reagia.

Apesar do comportamento gentil quando estavam em grupo, ao ficarem sozinhos, era comum fazerem comentários mais ácidos e cruéis.
Assim que estabeleceram um entendimento e confiança sobre as similaridades comportamentais, eles passaram a falar mais abertamente sobre os desejos violentos que possuiam.

Perth não costumava sair com frequência e não se importava com as pessoas em geral. Ele sabia quais eram os comportamentos adequados para as poucas interações que tinha: sabia sorrir quando tinha que sorrir; fingia compaixão quando os outros estavam tristes; mascarava o tédio diante da trivialidade das conversas dos colegas.

Perth só podia ser ele mesmo junto de Nanon.

Por sua vez, Nanon não se esforçava muito para esconder o que sentia. Sua técnica para passar despercebido era o sorriso.

Ele era capaz de dizer atrocidades, depois sorria e se desculpava por "ter feito uma piada extremamente ruim", e todos se encantavam.

Talvez as pessoas até percebessem que havia algo estranho ou assustador nele, mas quando ambiente não é ameaçador e a embalagem é agradável, é mais fácil de não enxergar a maldade.

Em outras palavras, se um leão ruge dentro de uma jaula, nosso medo ancestral desperta, mas a jaula passa a sensação de segurança e, no final das contas, o leão é fofo, não é mesmo?

Perth o admirava e se encantava com a audácia do amigo, sem nunca baixar a guarda.

Era cansativo estar alerta o tempo todo.
Mas era pior fingir o tempo todo.

Na sua cabeça, Perth entendia que enquanto eles só conversassem sobre as vontades que tinham, ele estaria seguro.

Depois de um tempo, Perth sabia que enquanto eles estivessem machucando pequenos insetos, ele estaria seguro.

"Existem pombas demais no mundo, não é mesmo?", pensava Perth. Então enquanto fossem essas pragas urbanas, ele sabia que estaria seguro.

Pequenas concessões. Uma de cada vez. Um grau a mais de intensidade. Um grau a mais de perversidade. "É bom" ele pensava

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