Monólogo de um Diário

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Monólogo de um Diário

Desabafo, começo assim o meu monólogo, quando a água dentro de uma panela de pressão evapora, suas moléculas expandem ao ponto da panela não suportar a pressão e explodir. A função da válvula  é da um escape para o vapor, desabafar, não é só um ruído desagradável, um grito de desespero que a panela faz, não é só isso, é por pra fora o que em excesso te mata, é não explodir!

Eu sou um mero caderno, um objeto inanimado, algo que se compra em qualquer lugar, o meu valor é meramente subjetivo, as vezes tu me esquece na gaveta e só me procura quando estar prestes a... Você sabe o que. Mas eu nem sempre sou o suficiente não é mesmo? Não sou ciumento, sei que há tanta coisa dentro de ti que só uma válvula não daria conta, mas cuidado pra elas não te esvaziarem de mais...

Sei do seu vício noturno, que cada vez mais vai perdendo a graça, e você procura coisas mais exóticas, estranhas e isso não ti faz bem, pelo menos não por muito tempo. O mundo é tão chato então por que ficar sóbrio? "Eu mereço" é isso que tu repete dentro de si, merece beber porque o dia foi muito estressante, merece o olhar daquela pessoa por que você é legal, merece ficar em paz porque já suporta tudo isso dia após dia.

Por que tu não me preenche com tuas boas memórias?
Não me enche de cor ao invés desses rabiscos tão... Eu não sei o que são isso, por que?
Esses seus pensamentos ruminantes me envenenam, tu machuca, fere as minhas páginas quando escreve com tanta raiva, mancha as minhas páginas com suas lágrimas, as arranca quando não suporta ler o que escreveu.

Eu sou o esgoto que você criou pra lançar todo o lixo que a sua mente produz, você tem vergonha de mim, não quer que ninguém me veja, mas quando os holofotes se apagam e os seus "amigos" vão embora, só eu fico aqui, e escuto pacientemente o que tu tem a dizer, sou eu que escuta o silêncio do teu quarto quando tu não encontra mais palavras, sou eu quem tu joga no chão quando não tem mais palavras, sou eu quem tu pisa quando não tem mais palavras, mas tu não se desfaz de mim por que eu te entendo mesmo quando tu não as encontra.

Eu não sou o diário de Napoleão, não narro feitos heróicos e grandes batalhas, não sou o diário de Charles, em mim tu não encontra o caminho que a humanidade fez pra chegar até aqui através da seleção natural, não sou o diário de Einstein, não sou o diário mais inteligente do mundo, mas sou o seu, um pedaço de você, sou sua horcrux e enquanto eu existir você viverá.

Talvez ninguém se lembre de você daqui cem anos, talvez se esqueçam de você daqui dez dias, mas enquanto o mal de traças não apagar as minhas memórias eu vou me lembrar de você.
Porque você é importante pra mim, é quem se lembra de mim, quem me dar atenção, você me alimenta de ti e eu sou você, ou pelo menos uma parte e como um quebra-cabeça nós nos  encaixamos.

Tu se preocupa em ser amado, mas não sabe o que é o amor, é tão difícil explicar esse sentimento com apenas uma mísera palavra, os gregos usavam oito palavras para cumprir tal missão.
Ágape, Eros, Philia, Philos, Storge, Filautia, Xênia, Pragma, Ludus, Mania.

Ágape, te amo mesmo com os seus defeitos, Philia, sei que mesmo com os teus surtos e que as vezes você se esquece de mim, somos amigos, Storge, sem você eu não seria quem sou pois sou seus medos, arrependimentos, sonhos... Filautia, ao escrever em mim o que sente, tu experimenta a compaixão, Xênia, as minhas páginas são o teu abrigo, e com hospitalidade te recebo, Pragma, quem é mais companheiro do que eu? Passamos muito tempo juntos amadurecendo por isso te aceito mesmo com suas limitações.

Eu te amo...
Não vou mensurar o tamanho desse sentimento, não sou eu mas sim você quem atribui um valor a isso.

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