Parte 3

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[Conteúdo sensível: acidente/ fratura]

Neste dia, Nanon foi a casa de Perth porque tinha arranjado uma presa maior, mas não queria contar por telefone.

Era uma regra deles nunca visitarem as casas uns dos outros. Porém a excitação era tão grande dentro de Nanon, que após algumas ligações não atendidas, ele não conseguiu se conter e foi à casa do amigo.

Geralmente, Perth estaria lá, pois faz home office e Ohm deveria estar na clinica veterinária onde trabalha.

Existe uma certa crueldade no destino, quando faz alguns caminhos se cruzarem.

Cada inseto e pequeno animal que entrou no caminho de Perth e Nanon foi testemunha disso.

Ohm trabalhou o dia anterior até às 18h, como de costume. Enquanto se preparava para sair, sorria e brincava com o veterinário assistente do turno da noite e com os últimos clientes da clínica: os humanos e os animais. E ambas as espécies o adoravam.

Antes que conseguisse chegar na porta, houve um grande estrondo e um grito.
De alguma forma, o veterinário da noite caiu ao subir o único degrau da clínica e, sem o menor senso lógico, era visível que ele havia quebrado a perna. Ohm imobilizou o membro como pode e o cliente humano se ofereceu para levá-lo ao hospital.
Sendo assim, Ohm ficou para cuidar dos animais que estavam internados, além de manter o atendimento 24h.

O veterinário substituto só conseguiria chegar às 13h, no dia seguinte.

Depois de quase 30 horas seguidas de trabalho, Ohm só queria ir para casa.
No momento em que ele colocou os pés lá, ele se lembrou de que precisava resolver um problema na companhia de energia, mas, com a correria do dia anterior, ele havia esquecido completamente. As burocracias burras de alguns departamentos o impediam de resolver por telefone ou e-mail.

Era comum ele resolver os assuntos de banco, correio, supermercado etc porque seu irmão sempre fazia uma cara sofrida, miserável e implorava para que ele fosse em seu lugar.
Ohm ria e sempre fazia isso pelo irmão.

Nesse dia, porém, ele precisava dormir. Banho primeiro, dormir depois, ele dizia em sua cabeça, como um mantra.

Ohm avisou Perth que não iria pra casa na noite anterior e contou sobre acidente e se comoveu com a estranha preocupação do irmão com o seu colega de trabalho.

Ohm amava o irmão. E amava como Perth era atencioso com ele, até mesmo, nunca se se cansava de ouvir sobre seu trabalho, as cirurgias, os atendimentos e a consultas.

Atendendo à curiosidade de Perth, Ohm relatou detalhadamente como estava o ferimento do colega e todos os procedimentos que fez antes dele ser levado ao hospital.

O irmão insistia em saber de que cor estava a pele onde o osso quebrado encostava na carne.

"Você riu? Porque pareceu uma risada" Ohm perguntou, pois sabia que o irmão estava sorrindo, mesmo que estivessem se falando por telefone.

E ele soube que havia constrangimento na voz do irmão quando, ainda rindo, disse que era engraçado saber que na clínica veterinária eles também atendiam o animal mais irritante da Terra, que era o assistente dele, Foei.
Ohm o repreendeu, mas riu.

Então, assim que ele entrou em casa, com o pensamento banho-cama-banho-cama repetindo na sua cabeça, ele olhou para o irmão e pediu para que fosse até a companhia de energia em seu lugar.

Perth não teve coragem de negar, pois seu irmão parecia destruído. Somado a isso, existia aquele olhar fofo, absurdamente adorável para o qual não havia possibilidade de negar.
Perth sempre fechava a cara nessa situação e dizia que Ohm parecia um idiota, porque não queria que o irmão soubesse do seu ponto fraco.

Como foi pego de surpresa, ele saiu com o celular quase sem bateria.

Ohm tinha acabado de tomar banho, vestiu um short preto e uma regata verde escrito WELLNESS e percebeu que estava faminto, afinal sua única refeição do dia foi um café de máquina e alguns biscoitos de manhã.

Enquanto comia um macarrão instantâneo apoiado na bancada da pia, a campainha tocou.

Ao abrir a porta, a surpresa foi para ambos os lados.

Nanon conhecia o irmão de Perth, já haviam trocado alguns palavras, mas de fato nunca reparou nele. Muito alegre, muito animado, muito ativo, muito gentil, muito simpático, tudo isso era muito e cansava Nanon só de olhar. Imagina se precisasse conviver com ele? Não, ele nem queria pensar nisso.

Era perceptível que Ohm estava cansado. Seu olhar surpreso estava cercado de grandes olheiras, enquanto suas bochechas estavam coradas e seu sorriso era tímido.

Isso fez com que Nanon sorrisse de volta. Não aquele sorriso de fachada, para distrair as pessoas. Ele sorriu genuinamente, as suas covinhas ficaram ainda mais marcadas e o sorriso de Ohm aumentou em retribuição.

Tentando acabar com esse momento estranho e constrangedor, Nanon perguntou pelo Perth.

Ohm disse que ele já voltava, o convidou para entrar e ofereceu macarrão. Nanon negou a comida e foi andando atrás dele até a sala.

Nanon observou que ele cheirava muito bem. Era o mesmo sabonete de Perth, mas cheirava diferente em Ohm. Além disso, as panturrilhas dele eram definidas e pareciam fortes, suas coxas marcavam o short e, com um suspiro profundo, Nanon viu que o tecido também ressaltava a sua bunda.

Quando se sentaram, Ohm explicava algo sobre a saída do irmão, porém os olhos de Nanon estavam nas mãos que seguravam os palitinhos de madeira. Dedos longos e firmes, com veias saltadas que eram visíveis por todo antebraço. Os biceps e ombros expostos pela regata eram bem construídos a base de exercícios.

O olhar de Nanon continuou subindo pelo pescoço de Ohm e, neste momento, se deu conta de que ele havia parado de falar.

Pela cor vermelha, que não estava mais só nas bochechas, mas também tingiam suas orelhas, Nanon entendeu que o outro estava quieto há algum tempo.

"Eu não sabia que você era tão forte, Ohm!" disse para disfarçar. "Acho que você poderia matar alguém com uma chave de braço se quisesse!" Riu, Nanon. "Estou brincando " e fez seu sorriso com covinhas "Vou deixar claro que estou brincando, vai que você decide me agarrar pelo pescoço".

Ao dizer isso, ele usou seu sorrisinho irônico de canto de boca, mas sua vontade era rir por causa do susto e constrangimento de Ohm.

Nanon o encarou por algum tempo, curioso, porque existia algo a mais no olhar do veterinário que ele não conseguiu captar.

Interrompendo o momento, a porta foi aberta, Nanon se vira e vê Perth confuso e assustado.

Enquanto ia para o seu quarto, Ohm ouviu os dois conversarem brevemente na sala e o som da porta batendo após sairem.

Ele não podia acreditar no que tinha acontecido. Pela primeira vez, ele tinha conversado com Nanon sem sentir seu julgamento. Ohm sempre sentia que era visto com um bobo por ele.

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