São quase 23 h e eu sigo aqui com a mente em polvorosa imaginando mil cenários diferentes. A sensação de insatisfação domina cada vez mais.
Adoraria dizer que me sinto mais feliz, mais realizada e que estou vivendo o auge da vida, porém não estou, ou ao menos não vejo dessa forma.
Quando colocados em palavras esse pensamentos fazem com que eu pareça uma tremenda ingrata e, talvez, eu seja isso mesmo. Contudo acho impossível que isso seja tudo o que a vida tem a me oferecer.
Parece que estou divagando novamente...
Sempre que a noite chega, todos se deitam a inquietude se aproxima, os pensamentos se rebelam e tudo o que menosprezo vira um letreiro brilhante zombando de mim, dos meus planos e dos meus sonhos. A noite é a inimiga dos ansiosos.
Minha terapeuta me disse que há um texto de Freud que me define e tenho que concordar com ela, pois quando Freud escreve sobre a transitoriedade ele estava falando sobre mim e talvez sobre você que também reconhece a efemeridade das coisas e se nega a aceitar passivamente o fim. Porque sofrer se posso me proteger?
Esses dias me perguntaram se eu sou feliz e não hesitei em dizer que sim, pois em suma eu sou, mas não o tipo de felicidade que se vê em revistas ou comerciais. Minha felicidade é começar um livro novo e ler a última página, é saber que quando eu acordar vou ver um rosto pequenino próximo a mim, é saber que possivelmente há pessoas que gostam de mim quando nem mesmo eu gosto, é saber que há um par de olhos azuis que irritam até minha oitava geração, mas que está há tempo comigo que nem me lembro como eram as coisas quando não nos conhecíamos.
Minha felicidade é diferente porque eu também sou. Eu me privo de coisas que tem potencial para me machucar. Estou errada? Ao meu ver não. Já perdi muito. Não quero riscos desnecessários.
Há um linha muito clara e intransponível que não deixa as pessoas se aproximarem de mim sem autorização. Citando palavras de uma amiga "eu escolho quem eu deixo gostar de mim"...
Meus focos obsessivos fazem com que seja difícil conviver comigo e digo isso referindo a mim mesmo. Como é difícil acordar todos os dias é saber que não há como fugir de mim. Adoraria ser de fato como me mostro para todos, mas não sou. No fundo sou apenas uma pessoa que se nega a felicidade e espontaneidade da vida apenas porque sabe que isso vai acabar e depois terá que lida com as consequências.
Relendo tudo isso, parece tudo desordenado e desconexo, mas minha cabeça é essa confusão a todo momento. Sempre estarei aqui das vezes cansada, as vezes triste ou entediada, mas sempre aqui.
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Tudo o que eu não digo
KurzgeschichtenPalavras que engasgam e nos esmagam. Relatos de uma ansiosa.